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LITERATURA

ENTREVISTA: Lya Luft lança livro de crônicas “As coisas humanas”

A escritora santa-cruzense Lya Luft estava com seu novo livro na gráfica, e em vias de ser distribuído em todo o Brasil. Então um vírus surgiu no caminho. E não era qualquer vírus. Era um que conseguiu a façanha de quase paralisar o planeta. Uma pandemia. Mas se nas áreas da saúde e da socioeconomia a população em todas as nações segue em estupefação diante do avanço dessa ameaça, ainda assim a vida precisa seguir seu curso. E o livro, apesar das dificuldades de sua distribuição nas livrarias, está disponível junto à editora, a carioca Record, e nas plataformas digitais, tanto no formato de e-book quanto no exemplar físico.

E não poderia ser mais oportuno o próprio título da obra: As coisas humanas. Valores, princípios, metas, objetivos, planos, tudo parece estar merecendo uma reavaliação, uma reprogramação, a partir da emergência da Covid-19. “Como será tudo quando a doença se aquietar?”, indaga Lya, em entrevista exclusiva que concedeu nessa semana ao Magazine, por e-mail. No novo livro, o 28º de sua carreira desde o lançamento do seu primeiro romance, As parceiras, em 1980 (de maneira que completa 40 anos desde que firmou seu nome em definitivo na melhor literatura brasileira), reúne crônicas nas quais reflete sobre a humanidade nestes anos bem recentes.

AS COISAS HUMANAS, de Lya Luft. Rio de Janeiro: Record, 2020. 320 p. R$ 39,90

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A maioria foi publicada em jornais e revistas nos quais Lya colabora, mas há inéditos, que o leitor poderá conferir pela primeira vez. E, assim, algumas das temáticas talvez constituam uma curiosa preparação para um cenário como o da pandemia: Lya tem referido, em mais de uma ocasião, que a humanidade anda um tanto doente, e perdeu o rumo em diversos de seus valores essenciais (entre eles a absoluta falta de postura e de ética que parece ser a tônica junto a tantas lideranças públicas).

Aos 81 anos, e tendo a sua vida marcada por inúmeras perdas familiares – dentre as quais a morte prematura do filho André, aos 51 anos, que sofreu parada cardiorrespiratória enquanto praticava surfe em Santa Catarina, em novembro de 2017, foi a mais recente, que a abalou profundamente –, Lya restabelece uma rotina, na companhia do marido Vicente, dividindo-se entre o apartamento em Porto Alegre e a residência em Gramado. Na entrevista que concedeu ao Magazine, ela avalia essa “época triste, trágica e conflitante”, e busca, por meio da escrita, dar a sua contribuição a fim de que se possa entender e, tão logo possível, superar esse momento. Em As coisas humanas, pode-se pensar (e repensar) esse humano, “demasiado humano”, como sugeria Nietszche.

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ENTREVISTA
Lya Luft
Escritora

Magazine – Como tens enfrentado a quarentena? Como a artista Lya enxerga esse período tão inusitado?
Lya Luft – Enfrento a quarentena com tranquilidade, como um dever natural, diante das trágicas circunstâncias mundiais, e cumpro fielmente. Mas claro que há muitos incômodos, como passar até o Dia das Mães longe dos filhos.

Esse cenário social, no País e no mundo, convida de alguma forma a criar na arte? Ou até isso fica complicado?
Época triste, trágica e conflitante. Difícil controlar as comunidades, maiores e menores, poucos países com liderança firme e clara, e tudo que é inusitado assusta. Além disso, há os que não acreditam ou diminuem a realidade. A mim esse período deixa mais paralisada do que inspirada. O mundo mudou. Como será tudo quando a doença se aquietar?

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Estás lançando novo livro de crônicas. Como a obra se associa a esse contexto atual, de ameaça global à saúde?
O livro e o título estavam prontos bem antes de aparecer o vírus. Falo das coisas humanas internas, pessoais, cotidianas ou transcendentes. No fundo, meus temas de sempre.

Enquanto cronista, sempre tiveste posicionamento firme sobre o ambiente político. Como vês a atualidade em termos de lideranças públicas?
Acho de modo geral lamentáveis nossas lideranças, com exceções (a exemplo dos governadores Eduardo Leite e Wilson Witzel, do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, e de outros). Mistura-se joguinhos políticos com questões de vida ou morte. Acho isso criminoso.

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Tua história de vida é marcada pela superação. Como se portar diante do ambiente de insegurança e de medo criado pela pandemia?
Todos fazemos grandes ou pequenas superações pessoais pela vida. Perdas diversas, decepções, fracassos são normais. Talvez eu tenha muito amor à vida, alguma confiança que me foi incutida desde menina. Não sei. Nada tem sido fácil. Tive sempre apoios importantes, sobretudo dos filhos e algumas amizades essenciais. Muito trabalho ajuda sempre. A pandemia nos deixa a todos inseguros, pois é uma doença nova, desconhecida, e ninguém ainda sabe o que fazer.

A arte – e, nela, a literatura – pode ajudar as pessoas a enfrentar melhor esse momento?
A arte sempre ajuda o artista, como qualquer trabalho ajuda as pessoas. Ajuda também a quem a curte, seja pela contemplação da beleza, seja pela emoção ou reflexão, seja pela distração.

Que livro, romance ou gênero, entendes que poderia ser leitura apropriada para esse momento?
Não vejo um gênero apropriado para lidar com a pandemia, mas todos servem, seja ficção, história, política, ciência, em literatura, pintura, música.

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