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cantor das multidões

ENTREVISTA: José Augusto relembra os mais de 30 álbuns e as 20 canções em trilhas sonoras de novelas

O nome artístico de José Augusto é sinônimo de sucesso na música brasileira. Soa como um mantra para os que apreciam canção agradável, que faz bem à alma e ao coração. Ele está entre os poucos cantores que, a exemplo de Roberto Carlos, com quem em diversas ocasiões se via comparado, são admirados, uma unanimidade do Oiapoque ao Chuí. E é assim há quase cinco décadas, uma vez que sua carreira iniciou-se em 1973, com a gravação do primeiro disco, “Eu Quero Apenas Carinho”.

Ao longo de mais de 30 álbuns, entre os de estúdio e as gravações ao vivo, os acústicos e as compilações, desfilou uma série quase interminável de hits. Não por acaso, emplacou 20 canções suas em trilhas sonoras de novelas, nas quais prontamente caíam no gosto do público, 14 delas em enredos da Globo. “Aguenta Coração”, na novela Barriga de Aluguel, de 1990, permanece até hoje como um hino, com versos repetidos quase que cotidianamente pelos fãs.

Mas esta é apenas uma dentre dezenas de canções que se impuseram no imaginário dos brasileiros. E são letras que ele próprio se encarregou de moldar, tendo em vista que é um dos mais inspirados e intuitivos compositores em atividade no País. E é sobre essa capacidade, por vocação ou por dom, de forjar belas letras e de cantá-las, chegando com sua voz a todos os lares, no campo e na cidade, que José Augusto conversou com o Magazine, na condição de terceiro convidado da série “Cantor das Multidões”, que a Gazeta do Sul desenvolve ao longo de 2020. Os dois primeiros artistas contemplados foram Amado Batista, em janeiro, e Sula Miranda, em fevereiro.

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José Augusto concedeu entrevista na última terça-feira, 24, à tarde, a partir de sua residência, via WhatsApp, enquanto também obedecia, rigorosamente, à quarentena proposta pelos organismos da saúde por causa da ameaça do coronavírus. De pronto enfatizou que ficar em casa em nada lhe causava dissabor, pois é alguém afeito a curtir o lar e a família. Esse carioca, leonino, nascido em 16 de agosto de 1953, de nome completo José Augusto Cougil Novoa, aos 66 anos, é reconhecido junto aos fãs, no País e no exterior, pela simpatia, pelo sorriso sempre presente no rosto. E essa simpatia foi plenamente reafirmada pela forma gentil com a qual respondeu às questões propostas.

BRINDE AO AMOR
Lembrou, por exemplo, das enormes dificuldades que teve no início da carreira. Quando adolescente, entre os 14 e os 17 anos, recebeu sucessivas negativas de parte de gravadoras, às quais apresentava seu plano de cantar e de gravar. No final das contas, certamente essas gravadoras é que, mais adiante, devem ter lamentado por seu equívoco: tinham na mão ou diamante raro, pronto para ser lapidado, e no entanto o deixaram escapar por entre as mãos.

A carreira, no princípio, fluiu muito rápido no exterior, onde gravou e se apresentou cantando em espanhol em toda a enorme comunidade latina, junto à qual seu virtuosismo foi reconhecido por inúmeros prêmios. Quando finalmente retornou ao Brasil, no início da década de 1970, estava pronto para cativar o coração do público.

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Mencionou ainda o fato de, por algum tempo, críticos o terem comparado a Roberto Carlos. Mas ele logo imporia seu estilo, um jeito muito próprio de cantar, que cativou os fãs, traduzindo-se em mais de 20 milhões de discos vendidos, isso só até o início dos anos 2000, e em letras campeãs entre as mais tocadas em rádios, bem como um dos maiores recordistas de músicas em novelas. Para alguns, é o Rei do Romantismo. E ele não reluta nem hesita em afirmar que de fato celebra a vida, o amor e a felicidade, inclusive com o recente projeto de show, em atividade, “Um Brinde ao Amor”, cuja música-tema conforma parceria sua com o amigo Fábio Júnior (são contemporâneos, visto que Fábio Júnior também está com 66 anos).

E tão logo a normalidade possa ser retomada, quando estiver vencida a ameaça do coronavírus no País, novos projetos virão por aí. A exemplo do que frisa em uma de suas populares canções, “O Lutador”, de 1985, versão sua para sucesso internacional de Simon & Garfunkel, ele próprio demonstra ter seguido à risca em sua trajetória a verdade dessa letra: não importava o que acontecesse, sabia que era preciso resistir, insistir. Mais do que nunca, e como em todos os momentos anteriores, é o que o Brasil, o povo brasileiro, também deve fazer.

E seguir fazendo.
(P. S.: o coração aguenta, haverá de aguentar, e todos sairemos mais fortes e mais humanos disso tudo.)

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Uma canção
“Na arena existe um homem
Lutador por profissão
Que carrega as lembranças
De cada vez que foi ao chão
Por um murro ou por dinheiro
Quantas vezes quis fugir
Mas no fundo ele sabia
que é preciso resistir, insistir.”

(De “O Lutador”, versão de “The Boxer”, de Simon & Garfunkel

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ENTREVISTA

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José Augusto
Cantor

Magazine – Como tens enfrentado esses dias de ameaça do coronavírus?
José Augusto – Venho procurando obedecer aos órgãos de saúde do Brasil. Tenho ficado em casa bastante e fazendo aquilo que é recomendado. Quanto a me adequar, não foi tão difícil porque na verdade minha vida extra-show, extra-viagem, é exatamente essa. Gosto da minha casa, e curto realmente uma quarentena de vez em quando. Então, não foi tão difícil, não está sendo tão difícil.

Como te classificas em termos de gostos pessoais? Como é o José Augusto no dia-a dia?
Na verdade sou um cara muito caseiro. Curto minha família sempre que posso, e quando não estou viajando, não estou fazendo show, gosto de ficar em casa, gosto de curtir meus bichinhos, e curtir minha família o máximo que posso. Talvez se tivesse de me definir como pessoa, eu seria até um cara meio chato, meio antiquado. Sou muito responsável com meus compromissos, sou um cara muito metódito, que busca ser muito leal aos amigos, honesto, às vezes em extremo. Isso são opiniões de pessoas que são ligadas a mim. E digo antiquado porque na verdade hoje em dia a gente não leva a vida tão a sério assim.

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Tens hobbies?
Antigamente eu tinha o hobby de colecionar instrumentos musicais. Eu gostava principalmente de instrumentos exóticos, que encontrava nas minhas viagens. Mas tudo isso se perdeu. A gente se muda de uma casa para outra, se separa de uma casa, se separa de uma mulher, casa com outra (risos), e tudo isso foi ficando pelo caminho. Mas é verdade, eu não tenho hobby hoje em dia, não. O que mais gosto de fazer é cantar, compor… Alguns anos atrás gostava de bater uma bolinha, mas hoje em dia não estou mais com essa bola toda (risos).

Teu início de carreira foi de muitos “nãos” de gravadoras. O que eles significaram para ti?
Todos esses nãos que recebi no princípio da minha carreira na verdade me ajudaram muito a separar o que era real do que era fantasia, o que era prática e o que era teoria. Quando você ama muito aquilo que você quer, quando você deseja abraçar uma carreira e você começa a receber os primeiros nãos, e as portas se fecham aqui e ali, você mesmo vai se colocando a uma certa distância daquele sonho para você não se machucar muito no futuro. Graças a Deus, deu certo. Mas poderia não ter dado. Então, quando entrei para o meio, quando buscava um lugar, eu sempre fantasiava muito o meio artístico, e que era um mundo de fantasia. Na verdade, é um mundo de muito trabalho, de muita seriedade, muito delicado. Você tem de ter muito cuidado nas tuas decisões, nas coisas que você fala. E esses nãos todos me ajudaram a separar bem isso e saber que nada é fácil, principalmente. E para quem está hoje insistindo nisso, na carreira, eu acho legal quando você acredita no sonho. Siga, persiga, e você vai conquistar. Ou não. Mas tenha sempre a esperança como meta.

Houve algum divisor de águas?
O meu divisor de águas foi exatamente essa consciência que tive no princípio, de separar a fantasia do real. Fui convidado a cantar e gravar em espanhol, e as primeiras vezes fora do Brasil também me serviram como um divisor. Eu era muito conhecido lá fora, tinha meus discos todos publicados em espanhol, tinha um respeito muito grande do público, e no Brasil ainda não tinha conseguido desenvolver minha carreira como gostaria. Isso foi um divisor de águas. Quando comecei a cantar, inicialmente tive muita crítica em relação a minha voz. E as pessoas me julgaram muito, me criticavam muito por acharem que eu imitava Roberto Carlos. E tive essa consciência exata de que eu estava criando um jeito de cantar, o meu, o jeito do José Augusto de ser. Foi no camarim do próprio Roberto, conversando com dona Laura, que já não a temos mais, que Deus a tenha, e ela me disse: você canta tão bem quanto meu filho, gosto muito de te ouvir. E eu disse: mas a senhora não acha a mesma coisa que os outros? Ela disse: não; ao contrário, acho que você tem um talento enorme que você, acima de tudo, respeita muito seus colegas, assim como respeita meu filho. Daquele dia em diante, percebi que tinha criado um jeito, o meu jeito de cantar.

Estás perto de completar 50 anos de carreira…
Cinquenta anos de carreira me fazem viajar, às vezes. Achei que, embora ainda falte um pouquinho, mas está bem próximo, passou muito rápido. E o único sentimento que tenho é de agradecimento: a Deus, pelo dom que me deu; e ao povo brasileiro, que me respeita tanto, que me acompanha nos shows e gosta das minhas músicas, e que me dá a declaração de carinho todos os dias por onde vou. Isso é a coisa mais importante desses 50 anos de carreira.

Além de cantor de sucesso, és também compositor. O que veio primeiro? E qual canção, dentre as que compuseste, é tua preferida?
A vontade de cantar veio primeiro, mas o compositor nasceu antes. Com 12, 13 anos, compus as minhas primeiras canções, bem simples ainda, mas já era um bom começo para eu passar a desenvolver esse outro dom. Se tivesse de escolher alguma canção, talvez escolha uma que as pessoas ainda não conhecem, que foi gravada no disco Aguenta, Coração, e ela tocou bem pouco. É uma canção chamada “Castelo de Areia”. Tenho uma paixão muito grande por ela, embora não tenha tocado, embora as pessoas não conheçam, mas é uma canção que gosto muito de ter feito e acho que é muito bem construída.

Das canções em geral, de qual dizes: essa eu queria ter composto?
Acho que não tenho uma canção só, que eu gostaria de ter feito. Tenho algumas canções.“Viola Enluarada”, por exemplo, que foi composta pelo meu parceiro Paulo Sérgio Valle e pelo irmão dele, é uma. É linda. “Traumas”, que foi composta por Roberto Carlos e pelo Erasmo, é outra canção maravilhosa. E “Bridge Over Troubled Water”, que foi cantada por Simon & Garfunkel, é uma das canções mais bonitas do mundo para mim. Gostaria de ter feito todas as três.

Havia muitos shows programados para 2020? Como será lidar com o novo reagendamento?
Confesso que ainda não parei para pensar em todos esses shows cancelados. Não é por mim… Penso na equipe toda que atua comigo, e que são famílias, né? Quando você fala que um show foi adiado, você está dizendo que foi adiado para o artista, para os músicos, para as equipes de apoio, para os vendedores, que ficam na porta dos locais dos shows vendendo; para as pessoas que lidam com panfletos e penduram cartazes, para as pessoas que fazem o outdoor, para as pessoas que fazem os anúncios. Envolve muitas pessoas, e por enquanto a gente está tentando fazer uma triagem disso tudo e ir vendo o tamanho da encrenca. Mas sei que tudo vai passar e a gente vai poder reagendar, como todas as vezes em que passamos por problemas difíceis no Brasil, e essa não foi a primeira vez. Talvez essa tenha sido a que mais traz medo, mas já passamos por outras, e vamos passar por essa.

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Que planos tens? Algum projeto especial?
Os projetos vão surgindo na minha vida conforme os dias vão passando, conforme a vida vai caminhando. Hoje tenho o projeto de fazer um disco cheio em espanhol.E meu show “Um Brinde ao Amor” é na verdade um projeto em que pretendo gravar com colegas de profissão. Já gravei com o Fábio Júnior, e já tenho o ok do Fagner. E há mais alguns nomes com quem penso em gravar, com canções inéditas, de preferência. Esse é o projeto imediato, e é de longo prazo, que vai durar algum tempo, porque envolve muitos outros artistas.

Que mensagem deixas para teus fãs?
Aos leitores da Gazeta do Sul e aos internautas do Portal Gaz, a todas as pessoas que me brindam com seu carinho cada vez que posso ir ao Rio Grande do Sul, essas pessoas que estão na plateia cantando, que me sorriem, junto a quem sinto que meu trabalho é bem-visto, muito obrigado por todo esse carinho. Muito obrigado mais uma vez por me concederem esse espaço. E eu queria que todos nós nos pudéssemos conscientizar de ficar em casa. Nesse momento, é a melhor coisa a fazer. Não se arrisquem por nada; fiquem em casa, quietinhos, vendo TV e ouvindo o que as pessoas que sabem disso, que lidam com isso, têm a dizer, para que a gente possa seguir tudo direitinho. Grande beijo a todos, que Deus abençoe o Brasil, e que nós possamos sair dessa crise o mais rápido possível.

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