“Me lembro de te ouvir dizer / A vida é muito curta pra se arrepender / Por isso, faça o que você quiser / Ah han, já que nada muda por aqui”, filosofa o cantor paulista Vinny em uma de suas baladas mais conhecidas, Te Encontrar de Novo, do disco O Bicho Vai Pegar, de 2000, quarto álbum de estúdio desse artista. Vinte anos se passaram, e, nesse intervalo, na verdade muita coisa mudou sim: no mundo, no Brasil, e inclusive na vida de Vinny. Só uma coisa não mudou: a paixão dele pela boa música.
É o que revela em entrevista exclusiva ao Magazine, concedida na semana passada, por WhatsApp, no contexto de sua participação, em forma de live, no projeto Oktober em Casa Gazeta. E essa reaparição pública, em plena pandemia, decorre de um novo projeto artístico de Vinny, desta vez como vocalista da banda carioca LS Jack, uma galera contemporânea de seu próprio começo na carreira musical, em meados dos anos 90. Não é que Vinny tivesse parado; ele seguira quase que regularmente gravando algum novo disco-solo, até muito recentemente. Porém, o fizera sem a ampla exposição de mídias ou o ritmo de shows dos tempos de carreira intensa, justamente na virada de século.
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Entre as mudanças desde então esteve a sua decisão de mergulhar nos estudos, com maior dedicação acadêmica. Começou a cursar Direito, depois Gastronomia, e por fim investiu em Filosofia e Psicanálise, incluindo um mestrado em Ciências Sociais, em Buenos Aires. O resultado é que, atualmente, às segundas e terças-feiras atende como psicanalista, e de quarta-feira em diante, até o final de semana, mergulha na carreira musical, no que denomina de uma espécie de alter-ego. Com tal agenda, e tarimbado com a experiência de quem vivia em tempo quase integral em programas de TV e agenda de shows, e convivia com grandes artistas nacionais, agora firma a parceria com a LS Jack para voltar à cena. A live transmitida ao vivo pelo Portal Gaz no último sábado já deu uma ideia do que vem por aí, na nova incursão de Vinny com a LS Jack.
E, nesta entrevista, ele igualmente lembra das incríveis vivências que teve no ambiente da música brasileira, dos tempos atuais e, veja só, da sua sintonia fina com o Rio Grande do Sul. E com uma cidade em especial. “Amo Santa Cruz do Sul”, revelou, evidenciando que conhece muito bem essa cidade. E que também circula pelo Estado… em roteiros de bicicleta!
ENTREVISTA
Vinny
Cantor
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Gazeta do Sul – Vinny, como enfrentaste esse tempo de pandemia? Foi momento de criação, apesar de tudo?
Esse momento de pandemia foi difícil para todo mundo, óbvio, mas a gente, eu e a galera do LS Jack, que estamos juntos agora num projeto, aproveitou esse tempo para compor. Fizemos diariamente alguma coisa relacionada às composições. Assim que houve a flexibilização, a gente veio aqui para minha casa, fizemos os devidos testes para ver se estava todo mundo de boa, e começamos os ensaios. Ou seja, estamos praticamente prontos para começar a turnê. Estamos aguardando só a reabertura dos eventos.
O que achas que a pandemia deixa como lição?
Acho que, para o futuro, o que a pandemia nos deixa é a ideia da nossa fragilidade. Do quanto a gente precisa começar a observar alguns procedimentos sanitários. Me lembro que, viajando pela Europa, vi um grupo de turistas asiáticos e alguns estavam usando máscara. Não compreendi muito bem o que era aquilo, se estavam se protegendo da poluição. Confesso que tive um olhar pouco crítico a respeito, e hoje compreendo que naquele momento eles estavam gripados e usando a máscara justamente para não contaminar as outras pessoas ao redor. E isso é uma coisa a que a gente deve aderir sempre. Está resfriado, bota máscara, para não contaminar mais ninguém. Acho que vai ficar a história do álcool em gel também, vamos ter esse hábito durante algum tempo. Mas, passado tudo isso, acho que seremos as mesmas pessoas, e não vai mudar muita coisa, não. Talvez as lives tenham tido algum destaque, possam ter uma permanência, possam ter virado uma outra mídia, uma outra forma de divulgação.
Fale-nos da decisão e da predisposição para filosofia.
A filosofia sempre foi uma paixão, desde que cursei Direito. Tinha 17 anos quando entrei para a faculdade de Direito e logo no primeiro semestre cursei Filosofia do Direito. Ali me apaixonei pela Filosofia, mais do que pelo Direito. Tão logo minha carreira entrou naquela curva descendente, do declínio da carreira de todo artista, aproveitei aquele momento de esvaziamento de shows e pensei na possibilidade de me formar em Filosofia, que era o que queria. Logo depois fiz mestrado em Ciências Sociais, em Buenos Aires, e recentemente terminei minha formação em Psicanálise. Hoje, sou psicanalista segundas e terças, e a partir de quarta estou completamente dedicado ao LS Jack, a ensaios, shows, entrevistas, a tudo isso. É uma vida dividida, quase que um alter-ego.
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A partir da parceria com a LS Jack, quais são os planos?
A gente já lançou dois singles, com dois videoclipes. Somos amigos desde sempre, desde o início da nossa carreira; somos da mesma gravadora, surgimos no mesmo estúdio, da mesma rapaziada; então, essa química rolou desde sempre. A gente tem planos bastante pretensiosos de dominar o mundo, e mais 24 territórios (risos). É claro que é um projeto, mas a gente não tem bem um final, a gente não sabe o que vai acontecer, como isso vai rolar. Entramos no estúdio recentemente para gravar um especial com seis músicas, foi gravado em vídeo também, vai estar disponível e vamos começar a divulgar, tanto na internet quanto nos meios de comunicação, nas mídias mais tradicionais também. Aguardem que vem coisa nova e coisa bacana também.
Música anos 90 e música nos anos 2020. O que mudou?
Nos anos 2020, é claro que mudou o jeito de fazer música, né? A gente hoje tem alguns dispositivos e plataformas digitais que nos favorecem muito, conseguimos fazer muitíssimo mais coisa, a produção é bem mais caseira, no sentido de que podemos fazer tudo nos nossos home studios. A gente leva muita coisa pronta para o estúdio grande. Acho que são muitas facilidades hoje. Isso democratizou bastante a música, é um ganho importante.
Como é a tua relação com o Rio Grande do Sul, Vinny? Com que frequência vinhas ao Estado? E o que mais gostas no Rio Grande do Sul? Aliás, e Santa Cruz do Sul, que referência tens da cidade e da região?
Amo Santa Cruz do Sul. Eu me lembro que fui tocar num grande evento de motociclistas aí, foi sensacional. Minha relação com o Rio Grande do Sul é de muita proximidade; tem muita gente que acha que sou gaúcho mesmo, talvez pelo biotipo. Mas, fora isso, tomo chimarrão todo dia, convivi por muitos anos com o Xexéu, que é um parceiraço do Rio Grande do Sul, meu empresário durante muitos anos. Então, rodei o Rio Grande do Sul inteiro tocando, e pedalando também. Tenho uma turma, da qual o Xexéu também faz parte, de cicloturismo, a gente anda pelo Brasil e pelo mundo em viagens de bicicleta. Tenho um carinho especial pelo Rio Grande do Sul e me identifico com o povo, a comida, com a cultura e até com a música. Tenho muitos amigos queridos aí, Thedy Corrêa, muita gente de que gosto demais. Toda a galera da Comunidade Nin-Jitsu, o Alemão. São grandes parceiros. Vou até aproveitar para mandar um beijo para essa turma toda.
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