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DUPLICAÇÃO

ENTREVISTA: “Em um ano, a 287 estará em condição melhor”, diz diretor-geral da Rota de Santa Maria

Foto: Rodrigo Assmann

Principal rodovia do Vale do Rio Pardo e um dos mais importantes corredores logísticos do Rio Grande do Sul, a RSC-287 entrará em uma nova fase de sua história daqui a pouco mais de um mês, com o início oficial da concessão após oito anos de administração da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). E a promessa da Rota de Santa Maria, com base no contrato que será assinado na próxima terça-feira, 20, com o governo estadual, é de que, até agosto do ano que vem, a estrada estará em uma situação bem melhor do que a atual.

A Rota de Santa Maria tem como acionista a Sacyr Concessões, que pertence a um grupo espanhol com larga experiência em concessões de rodovias na América Latina e na Europa. Ao todo, o portfólio inclui quase 4 mil quilômetros de rodovias, além de aeroportos, hospitais e operações de água e saneamento. No Brasil, o grupo já está presente em projetos como o dos metrôs de São Paulo e Fortaleza e na duplicação da Ferrovia Norte-Sul.

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Em abril, a concessionária escolheu Santa Cruz para posicionar sua sede administrativa, que já está em funcionamento em um prédio na Avenida Independência, a poucos metros de um dos acessos à região central pela 287, onde até recentemente estavam localizados os escritórios do Sicredi. Ali também será implantado o Centro de Controle Operacional (CCO), a partir de onde a rodovia será monitorada por meio das câmeras e que servirá de base para o call center – usuários poderão ligar a um 0800 para pedir informações a respeito de tráfego e distâncias, por exemplo.

À frente da operação, estará o engenheiro civil Renato Bortoletti. Natural de São Paulo mas formado pela Universidade Politécnica de Pernambuco, ele incorporou-se à Sacyr há pouco mais de um mês. Possui, porém, uma trajetória de 20 anos em projetos de infraestrutura. Com passagens por construtoras internacionais, já trabalhou em obras na África do Sul e atuou por oito anos em concessões no Peru e três anos na Venezuela. Seu último trabalho foi no Mato Grosso, onde atuou na concessão de 850 quilômetros da BR-163, com 450 quilômetros de duplicação.

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Bortoletti recebeu a Gazeta do Sul na manhã dessa quinta-feira, 15. Na entrevista exclusiva, antecipou qual deve ser a tarifa de pedágio na largada da concessão e quais vão ser as primeiras intervenções a serem tiradas do papel.

O contrato vai prever mais de R$ 2 bilhões em investimentos ao longo de 30 anos, o que inclui a duplicação dos mais de 200 quilômetros do trecho entre Santa Maria e Tabaí. Além das duas atuais praças de pedágio, serão instaladas outras três após o primeiro ano de concessão.

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ENTREVISTA – Renato Bortoletti, Diretor-geral da Rota de Santa Maria

À frente da operação, Bortoletti trabalha há 20 anos em projetos de infraestrutura | Foto: Alencar da Rosa

Quando a empresa assume, de fato, a rodovia?
Vamos assinar o contrato no dia 20 de julho, esse contrato precisa ser publicado no Diário Oficial do Estado e aí temos 30 dias para receber os bens da rodovia. Acredito que vamos assumir efetivamente por volta do dia 20 de agosto. Estamos realizando reuniões semanais com a equipe da EGR e com o governo do Estado. Está tudo muito bem estruturado.

A concessionária deve absorver funcionários da EGR?
Convidamos os funcionários da EGR para trabalharem conosco. Foi feito um processo de seleção, mas priorizamos os funcionários da EGR. A grande maioria está vindo.

A oferta de tarifa feita no leilão foi de R$ 3,36, mas esse valor foi calculado com base em índices de 2019. Como deve ficar o valor na prática?
Acreditamos que a tarifa de largada na praça de pedágio deva ficar entre R$ 3,70 e R$ 3,80. O contrato é reajustado pelo IPCA, então vamos aplicar a inflação de maio de 2019 a junho de 2021. Pela conta que fizemos, deve chegar a R$ 3,72 ou R$ 3,73 e aí vamos arredondar. O contrato é sempre autorreequilibrado, muito parecido com os que a ANTT faz em relação às rodovias federais. O fluxo de arrecadação é contínuo, então se o arredondamento for para mais, no ano seguinte é recalculado e aí temos que descontar. O arredondamento é feito só para facilitar o troco.

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A tarifa da EGR hoje é R$ 7,00. Como a operação será viável com um valor tão mais baixo e ainda com investimentos?
Existe um estudo forte de demanda. A equipe da Sacyr fez mais de 180 mil consultas de origem e destino, e a previsão é de que a redução da tarifa vai trazer uma demanda agregada forte. Você terá uma rodovia de qualidade com preço acessível, então o fluxo vai aumentar. Hoje existem rotas alternativas – quando o motorista faz uma curva e entra em uma estrada esburacada para não pagar pedágio. Com uma tarifa acessível, isso deixa de valer a pena. Então, existe todo um estudo de engenharia e estamos muito confortáveis com a oferta que foi feita.

Quais serão as primeiras ações?
Em um primeiro momento, teremos o que chamamos de trabalhos iniciais. Vamos começar com um investimento para garantir um nível de conforto e, principalmente, de segurança ao usuário. Vamos tapar buracos, recapear a rodovia, reforçar a sinalização com placas e “olhos de gato”. Quando terminarmos isso e o poder concedente considerar que cumprimos os parâmetros técnicos previstos no contrato, aí começaremos a cobrar pedágio nas três praças adicionais (Santa Maria, Paraíso do Sul e Tabaí). Isso deve acontecer em 12 meses, mas acreditamos que podemos antecipar.

Então, em um ano teremos uma estrada melhor?
Sim. Em agosto do ano que vem, a 287 estará em condição bastante melhor, principalmente no trecho que hoje é do Daer, entre Candelária e Paraíso do Sul, e que não tem recebido manutenção. No trecho da EGR, também já identificamos pontos onde são necessárias melhorias.

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E as obras maiores, começarão quando?
A rodovia atual necessita de uma intervenção mais profunda, que não vamos fazer em um primeiro momento. O que faremos agora é mais superficial e funcional, para dar as condições mínimas. A partir de 2023, vamos começar a duplicar a estrada. E a partir do momento em que formos duplicando, vamos jogando o tráfego para a rodovia nova e aí interditamos a antiga para recuperá-la.

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Recuperar significa colocar asfalto novo? Mais do que isso. Muitas vezes o problema está embaixo. Tem locais em que vamos precisar arrancar a capa asfáltica, fazer uma melhoria na base e recompor o asfalto. Já temos pontos identificados onde isso vai ser necessário, mesmo no trecho entre Santa Cruz e Tabaí, que está visivelmente em uma condição boa hoje. Para tudo isso, há parâmetros técnicos.

Então a duplicação vai ser entregue em etapas?
Isso. Vou dar um exemplo. A gente duplica um quilômetro de rodovia, vem o poder concedente e diz que está em condições para o usuário. A gente libera essa faixa e aí interdita a via existente hoje para poder fazer essa recuperação. E aí, quando terminarmos a recuperação, teremos a rodovia duplicada.

E por onde a duplicação deve começar?
O projeto prevê que sejam duplicados primeiro os trechos urbanos e depois os rurais. E nesses trechos urbanos também há previsão de dispositivos, ou seja, viadutos, pontes, etc. A ideia, por exemplo, é eliminar semáforos, como o que existe aqui perto (Trevo do Rio Pardinho). Ali precisaremos construir algum dispositivo. Também teremos mais de 20 passarelas, o que é muito importante, e com isso vamos eliminar também as faixas de pedestres.

Na duplicação, será construída uma faixa nova em cada lado ou uma rodovia nova em um dos lados?
Na maior parte do trecho, será construída uma pista nova à direita no sentido Tabaí-Santa Maria. Aí a pista nova e a pista existente vão estar separadas por um canteiro central. Já nos trechos urbanos, em função da restrição da faixa de domínio e das edificações, faremos o que chamamos de sistema multifaixa, ou seja, vamos contruir uma faixa adicional de cada lado, com o respectivo acostamento.

Haverá muito impacto em termos de desapropriações às margens da rodovia?
Não deve haver desapropriações. O que vai acontecer é a desocupação da faixa de domínio. Já fizemos mapeamento via satélite e drone. Existem proprietários de terrenos lindeiros à rodovia que há muitos anos ocupam a faixa, e aí teremos que fazer uma notificação de desocupação. Mas não há muitas edificações, são principalmente muros, cercas, coisas assim.

Há previsão de ampliar a capacidade das praças de pedágio atuais?
Hoje há formação de filas em alguns momentos… Em um primeiro momento, vamos fazer uma reforma das praças e melhorar a tecnologia. Queremos garantir que todas tenham pelo menos uma faixa exclusiva do sistema automático de cobrança. A ideia, em princípio, não é aumentar e sim trazer mais tecnologia. Queremos aumentar a utilização do sistema automático, que é muito prático.

Como será o monitoramento da rodovia por câmeras?

Atualmente, as praças de pedágio já são monitoradas por câmeras. Fora isso, em dois ou três anos teremos 100% da rodovia monitorada. E teremos parceria com os órgãos de segurança para poder apoiá-los. Se um carro é roubado, por exemplo, a polícia vai poder nos acionar. E futuramente eles terão acesso direto às imagens das câmeras.

Quantas câmeras devem ser instaladas?
Temos 200 quilômetros de rodovia e acreditamos que vamos necessitar de 80 a cem câmeras. Antigamente, uma câmera cobria apenas uns 500 metros. Hoje, elas chegam a dois quilômetros. Além disso, as câmeras de hoje já fazem a leitura de placas de veículos, por exemplo.

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Serviço de socorro e ambulância já estará funcionando desde o início?
Sim. Já temos uma ambulância comprada, inclusive. Até o sexto mês, o serviço de ambulância e guincho será restrito ao trecho entre Venâncio e Candelária. Isso é contratual. Nesse período, teremos uma viatura de inspeção – que ficará rodando pela rodovia para identificar se há algum usuário precisando de apoio –, um guincho leve e uma ambulância. A partir do sexto mês, por volta de fevereiro, aí vamos operar em 100% da rodovia. Teremos duas viaturas de inspeção, dois guinchos leves, dois guinchos pesados, um caminhão-pipa, um caminhão boiadeiro e quatro ambulâncias.

Atualmente, a qualidade da pavimentação é muito afetada pelo sobrepeso das cargas. Quando devem ser instalados os postos de pesagem?
Acredito que devemos incorporar as balanças no terceiro ano. E estamos muito atentos à tecnologia. O que você encontra hoje em rodovias são postos de pesagem estáticos – o caminhão tem que sair da pista e passar sobre o posto em baixa velocidade. O que estamos prevendo é implementar a pesagem em movimento, que funciona de forma muito semelhante a um radar de velocidade e é algo que está sendo certificado ainda em nível nacional. O caminhão passa em determinado ponto, que deve ser uma praça de pedágio; se identificar que tem sobrecarga, a multa já é emitida diretamente, e aí teremos um local para o trasbordo da carga. Assim conseguiríamos pesar praticamente 100% dos caminhões. Isso é muito importante.

Qual será a estratégia para reduzir a acidentalidade na rodovia?
A duplicação em si reduz muito os acidentes. Mas temos desde a concepção da geometria da rodovia, com melhorias em nível de acostamentos e controle de velocidade. Temos também a manutenção. No trecho onde hoje não há manutenção, os níveis de acidentes são bem mais altos. E há a questão da educação. Não adianta, por exemplo, construir passarelas de pedestres se elas não forem utilizadas. Então, vamos fazer um trabalho com a Polícia Rodoviária.

O que mais pesou na escolha de Santa Cruz para receber a sede administrativa da concessionária?
Santa Cruz tem uma posição privilegiada geograficamente. Outro aspecto é o nível de desenvolvimento e capacidade de geração de mão de obra. Eu vim morar aqui e estou supersatisfeito com o nível da cidade e a qualidade da mão de obra que estamos encontrando. Um projeto desses de concessão gera esses benefícios indiretos. Todos os caminhões que eu comentei estão sendo comprados na cidade ou com representantes de marca da cidade. Então, a cidade estava preparada para receber essa operação. Mas quero deixar claro que não vamos nos restringir a Santa Cruz. Para as praças de pedágio e as bases de operação, vamos buscar também mão de obra nas localidades.

Quantas pessoas serão empregadas?
Temos duas etapas. Nesses primeiros cinco anos de investimentos, devemos ter 300 pessoas diretamente na folha da concessionária. Já na construção em si, acredito que deve passar de 1,5 mil pessoas.

A empresa vem recebendo pedidos para incluir mais obras no projeto, como asfaltamentos de acessos municipais. Isso é viável?
Isso tem que ser aprovado pelo poder concedente. Existe até um mecanismo de reequilíbrio aprovado para tanto. O que sugerimos, ao conversar com prefeituras, é avaliar tecnicamente se isso faz sentido e endereçar para o poder concedente. Porque, no fim das contas, todo mundo vai pagar por qualquer tema adicional ao contrato, não tem como jogar o custo para apenas uma praça de pedágio. Pela nossa experiência, vemos isso como possível. Até porque, com um valor de tarifa abaixo do mercado, vemos que há espaço para incluir algo a mais. O mais interessante seria ver o que cada município precisa, juntar em um pacote, fazer audiência pública e aprovar.

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