Duas mulheres que conduzem suas trajetórias sem fazer concessões, e que mantêm permanente a paixão pelo desenho, Clara Pechansky e Liana Timm se reúnem para a exposição Duas Mulheres de Fino Traço. A mostra, que abre na manhã deste sábado, 5, na Casa das Artes Regina Simonis, une o traço afetuoso de Clara e o traço sensível de Liana, em obras que representam o melhor da arte do Rio Grande do Sul. A série de exposições celebra uma amizade de mais de 40 anos e a obra das artistas com trajetórias paralelas na arte.
“Desta vez, decidimos mostrar nossos próprios trabalhos, expondo desenhos, e criando um ciclo de exposições a ser levado ao interior. Neste caso, não é necessário que o público que gosta de arte se desloque para a capital”, explica Clara Pechansky. Para a pintora, há inúmeras razões porque Santa Cruz foi escolhida para sediar a exposição. “Aqui temos amigas que são líderes culturais e estão apoiando nossa exposição, como Marcia Marostega e Maria Celita Scherer, mas, principalmente, devido ao fato de que Santa Cruz é uma cidade que pulsa cultura e apoia os artistas que aqui chegam”, frisa.
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O ciclo de exposições iniciou no fim de 2021. Anteriormente, os trabalhos estiveram expostos no Centro Municipal de Cultura de Gramado e na Cooperativa de Estudantes de Santa Maria (Cesma); após Santa Cruz, seguem para Caxias do Sul. Segundo o vice-presidente da Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul, Danúbio Zitzmann, é uma exposição viva e com muitas cores. “Ela traduz o sentimento feminino das duas artistas, com formas de expressão totalmente diferentes, que encontram harmonia e criam um cenário perfeito para homenagear o março das mulheres na Casa das Artes Regina Simonis”, declara.
A mostra reúne 31 desenhos a traço de nanquim, acrílica, pastel, lápis de cor e colagem de tecido de autoria das artistas visuais. Completam a exposição textos escritos pelo jornalista e escritor Flávio Tavares e pelo crítico de arte Jacob Klintowitz, e murais com textos referentes à obra e ao estilo de Clara e Liana, com depoimentos das duas artistas. As obras estarão à venda pelo website da galeria Território das Artes.
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A programação inclui ainda um encontro com a artista Liana Timm no dia 24 de março, às 20 horas. De acordo com ela, a ideia é realizar um bate-papo informal, onde falará da exposição, além de contar sobre sua trajetória de 53 anos de arte. “São muitos caminhos percorridos, e acho que é importante dividir isso com as pessoas. Assim, elas podem ter a dimensão de como é o trabalho do artista, de sua luta diária dentro de uma área extremamente incompreendida. A importância da cultura para um povo é o seu autorretrato”, comenta Liana.
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Clara Pechansky nasceu em Pelotas e tem 86 anos. Desenhista, pintora e gravadora, participa há 65 anos da cena artística do Rio Grande do Sul. Com 70 exposições individuais realizadas no Brasil e no exterior, e mais de 200 coletivas, mantém-se atuante também como gestora cultural, com projetos como Miniarte e Fiesta de Paz Brasil. Suas obras já foram expostas na Alemanha, Bélgica, Chile, Cuba, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Holanda, México, Suíça e Portugal. Entre 2020 e 2021, foi Artista Homenageada em três mostras da Universidade Autônoma de Sinaloa, México, pelo seu trabalho em prol da difusão cultural entre os povos. Conheça mais sobre a obra da artista em www.pechansky.com.br, www.miniartex.org e www.dasartesterritorio.com.br.
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Liana Timm é natural de Serafina Corrêa, tem 75 anos e é artista multimídia, arquiteta, poeta e designer. Vive em Porto Alegre com atelier em permanente ebulição; sua produção mescla manualidade e tecnologia, conceito e materialidade, história e contemporaneidade. Ela transita pelas artes visuais, pela literatura, pelas artes cênicas e pela música. Realizou 74 exposições individuais, 32 shows musicais, publicou 61 livros, sendo 18 individuais de poesia. Recebeu 15 prêmios e desenvolve suas produções culturais e projetos editoriais através da Território das Artes; confira pelo site www.dasartesterritorio.com.br e Instagram @dasartes.territorio.
Em se tratando de duas artistas com trajetórias marcantes, era quase inevitável que as carreiras de Clara Pechansky e Liana Timm acabassem por se entrelaçar. Os caminhos e a obra das gaúchas se cruzam durante a produção de projetos como Artistas da Vida 1 e 2, Miniarte Verdade Virtual e outras mostras, mas é na produção de livros que se destacam as linhas afetuosas e sensíveis que marcam a vida das autoras. As duas conversaram com o Magazine por e-mail e contaram detalhes sobre a exposição que chega agora a Santa Cruz, além de discutir suas carreiras e seus processos criativos.
As relações familiares, a música, a literatura e o amor aos grandes mestres da Arte são constantes em todas as realizações da dupla. Liana produziu para Clara a exposição A lição de pintura (2003), os livros Variações sobre o enigma (2001) e O traço afetuoso (2019), enquanto Clara participou de diversos painéis sobre a vida e a obra de Liana, culminando com o texto inédito Verbetes para um Lianário. Suas carreiras se unem também no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), em 2016, com as exposições simultâneas Rememórias e Doce Holandês.
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Em 2022, Clara Pechansky comemora 66 anos de profissão como artista visual, enquanto Liana celebra 53 anos de produção artística. O estilo de ambas se reafirma com o passar dos anos, mas elas permanecem correndo o risco: onde o traço de cada uma predomina, a emoção persiste, as ideias se mantêm perenes. Clara e Liana exercem sua cidadania com ética e delicadeza. Através do traço se expressam, e a posição de cada uma fica muito nítida, como são nítidos e precisos os recursos gráficos que utilizam.
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A exposição acontece no mês de homenagem às mulheres. Como a senhora vê o papel da mulher no mundo das artes plásticas? O fato de ser mulher nunca impediu que eu seguisse uma carreira nas Artes Visuais. Tenho mais de 60 anos como profissional e um longo percurso como ilustradora para jornais, revistas e editoras de livros. Trabalhei para agências de propaganda, minhas obras estão em livros e outros impressos, mas também estão em espaços como galerias, museus e ainda em residências particulares. Com o advento da internet, os espaços se ampliaram, e hoje posso participar de exposições em outros países, em mostras virtuais e também físicas, já que a obra pode ser impressa em tela a partir de uma fotografia, ficando igual ao original.
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Como é expor em conjunto com Liana Timm? É sempre uma experiência única trabalhar com Liana. Com uma série de afinidades e diferenças, e isso só faz consolidar a admiração e a amizade que temos uma pela outra. Nesta mostra, decidimos expor apenas desenhos. Escolhemos obras que são significativas, usando materiais muito simples, como nanquim, lápis de cor e tinta acrílica. Temos estilos muito diferentes, e isso torna a mostra ainda mais interessante para o público visitante, que pode adquirir uma obra através do site da Território das Artes, e, inclusive, com a facilidade da tecnologia, encomendar sua obra preferida no tamanho que quiser.
A senhora poderia contar um pouco sobre o seu processo? Quais são suas inspirações e técnicas preferidas? Eu costumo trabalhar em diversas obras ao mesmo tempo. Cada uma tem sua própria história, e eu respeito isso. Às vezes deixo uma obra incompleta, e a retomo meses ou anos depois. Isso vale principalmente para o desenho, que é minha técnica predileta. Sou uma apaixonada pela gravura em metal e suas surpresas, e me dedico também à pintura, em geral trabalhando em várias telas ao mesmo tempo. Meu processo de criação é bastante peculiar, porque não faço esboços prévios: vou traçando diretamente com nanquim ou tinta, sobre papel ou tela. Na gravura em metal, vou criando sulcos com agulha na chapa de cobre. Faço também litografia e serigrafia, e em todas essas técnicas meus temas mais constantes são a música, o convívio entre pessoas, e meus personagens recorrentes, que são o Mágico, o Quixote, o Candidato, a Dama e o General. Muitas vezes revisito minha própria obra e a de grandes mestres, em exercícios frequentes de desafios à minha capacidade de criação e renovação.
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O que a senhora pode contar de Duas Mulheres de Fino Traço? A exposição esteve anteriormente em Gramado e Santa Maria. Como foi a recepção nestes locais? A exposição Duas Mulheres de Fino Traço realiza uma vontade antiga de Clara Pechansky e minha. Nossos trabalhos são completamente diferentes, mas o nosso amor pelo desenho, igual. A linha, a gestualidade e a artesania da técnica sempre nos fascinaram e, como praticamos essa modalidade artística desde que começamos as nossas trajetórias, nada mais natural que querer mostrar essa produção tão significativa. Assim, nasceu este projeto que, além de reunir nossas produções, também é uma forma de levar e mostrar a vários lugares a prática do desenho como algo atual e sempre vivo em todas as épocas da história da arte. É sempre gratificante ver a receptividade do desenho. As pessoas ficam surpreendidas com o que se pode fazer com ele. De acordo com as características de cada artista, ele mostra novas nuances e possibilidades. A mostra tem sido muito bem acolhida e estamos recebendo ótimos feedbacks. Felizes por estar atingindo pontos importantes do nosso Estado.
Como a senhora avalia a obra de Clara Pechansky? Há 43 anos convivo com Clara Pechansky. Nossa amizade acontece através da arte e da vida. Dizer que é um prazer expor junto com Clarita é muito pouco para tão significativo encontro. São muitos os projetos que já fizemos juntas e muita gratificação por essa amizade, que torna as nossas vidas melhores. Então, estas exposições que estamos realizando são como que um convite às pessoas a visitarem a nossa sala de visitas conjunta. Estamos fazendo dos espaços de exposição as casas onde recepcionamos, as duas, os visitantes. Sentamos com eles e, cada uma à sua medida e com suas características únicas, sensibilizamos a percepção para um olhar além desse cotidiano feroz em que fomos jogados. Certa de que o conjunto de obras escolhido cumpre uma amostragem da produção recente de cada uma, me sinto extremamente gratificada por estar expondo com uma artista cuja obra gráfica é referência na cultura de nossa época.
Como seus trabalhos na arte, na arquitetura, na poesia e no design se misturam? Ao mesmo tempo em que há uma mixagem entre todas estas linguagens, cada uma a seu modo é independente. Misturo meu conhecimento, minha cultura, minhas referências e meu processo criativo. Mas respeito cada uma delas e as desenvolvo no limite das minhas possibilidades. Me aprofundo e busco a melhor maneira de expressar a minha sensibilidade. É grande a satisfação em buscar, em cada momento, a melhor maneira de usá-las. Isso aconteceu espontaneamente na minha vida, não escolhi o que iria ser. Fui sendo e hoje estou aqui, conversando contigo e pensando em como ser totalmente verdadeira nas respostas. E me deparo com uma nova Liana a cada momento, pois a vida é dinâmica e a arte também. Por isso, para mim, arte é vida, e é preciso cada vez mais aprimorar a arte da vida.
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