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ENTREVISTA: Aidir Parizzi Júnior e a volta para casa

Aidir Parizzi, que há 12 anos reside no Reino Unido, já visitou mais de uma centena de países, como detalha em crônicas no Magazine

Ao longo de mais de três décadas, o santa-cruzense Aidir Parizzi Júnior, 50 anos, visitou mais de uma centena de países. Vinculado a uma multinacional britânica, há 12 anos reside no Reino Unido, em uma pequena localidade da região de Warwickshire, terra natal de William Shakespeare, ao lado da esposa Carolina, também santa-cruzense, sócia em um escritório de Arquitetura e Interiores, e dos filhos Andrew, 10, e Beatrice, 8, nascidos na Escócia.

No próximo sábado, aproveitando uma estada em sua terra natal para rever a mãe, dona Marilia, Aidir estará na Livraria e Cafeteria Iluminura, a partir das 10 horas, para autografar seu primeiro livro, Mar incógnito. O volume traz justamente um compilado de relatos de suas andanças, algumas das quais os leitores da Gazeta do Sul puderam conferir na seção Pelo Mundo, na página 2 do Magazine.

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A história de Aidir é a de um cidadão do mundo. Engenheiro mecânico, é mestre em Engenharia pela Ufrgs, com especialização em Termodinâmica pela Universidade Técnica de Moscou. Antes da Inglaterra, morou na Escócia, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Rússia, na Itália e na Dinamarca. De tempos em tempos, vinha rever os pais – seu Aidir, o pai, faleceu no dia 10 de janeiro do ano passado, aos 75 anos. A mãe, dona Marilia, segue residindo em Santa Cruz. Os irmãos André e Ligia estão há mais de duas décadas morando, respectivamente, nos Estados Unidos e na Irlanda do Norte.

Aidir concedeu por e-mail, a partir do Reino Unido, a entrevista ao lado. Preparava-se, na ocasião, para embarcar rumo aos EUA, em compromisso profissional. Já tinha no horizonte a viagem para o Brasil. É sobre essa expectativa, do reencontro com Santa Cruz, que ele reflete.

ENTREVISTA
Aidir Parizzi Júnior
Escritor, santa-cruzense radicado no Reino Unido

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Magazine – Qual a expectativa em poderes lançar teu primeiro livro em tua terra natal?
Aidir Parizzi
– O incentivo que recebi veio principalmente de pessoas de Santa Cruz, começando, é claro, por meus pais. Em 2019, enviei para a Gazeta do Sul um texto sobre Chernobyl e, de lá pra cá, já foram quase uma centena de viagens e reflexões na seção Pelo Mundo. Foi fundamental também o apoio dos professores Fabiana Piccinin, que auxiliou na edição do livro, e do professor Elenor Schneider, que, juntamente com Martha Medeiros, me presenteou com a prévia leitura e generosa apresentação. Mar incógnito é, de certa forma, um presente de Santa Cruz e para Santa Cruz.

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Como foram esses meses de pandemia para ti? Em home office? E já retomaste as viagens?
Os dois últimos anos foram em home office, com poucas viagens dentro da Europa. Estamos voltando parcialmente ao escritório e nos últimos quatro meses tenho feito algumas jornadas mais longas, entre Europa e Estados Unidos. Tudo indica que levaremos mais um ou dois anos até que a situação se aproxime ao que era antes da pandemia.

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Poderias nos contar um pouco de tua rotina?
Sou responsável pelas operações e cadeia de suprimentos de uma multinacional britânica dos setores de geração de energia, petrolífero, farmacêutico e nuclear, com dezenas de fábricas e centenas de fornecedores espalhados por todos os continentes. Viagens fazem parte da rotina em tempos normais e, quando envolvem períodos mais longos, em especial na Ásia, África e Oriente Médio, procuro aproveitar o tempo livre e os finais de semana para explorar lugares próximos. Carolina e nossos filhos sempre me deram apoio irrestrito e adoram escutar as histórias no retorno para casa, especialmente as enrascadas. Nas férias, viajar com eles é garantia de aprendizado e divertimento, que também acabam relatados em seus diários.

Das viagens, qual ou quais as mais marcantes?
Cada povo e cada país tem encanto e cultura únicos e a experiência pessoal em cada lugar conta muito. Depois de qualquer viagem, me pergunto sempre se o lugar e as pessoas que encontrei mudaram alguma coisa em mim. Se a resposta é positiva, a viagem valeu a pena. Dito isto, cito alguns países que me conquistaram: Rússia, pelo vasto tesouro cultural, histórico e pela hospitalidade no período que vivi em Moscou; a Itália, que necessita de muitas vidas para que seja apreciada como deve; a Escócia, pela natureza e vastidão; o Laos, pela serenidade das pessoas; e a China, pela história milenar e ritmo avassalador de desenvolvimento nas últimas décadas.

És também, além de viajante, um contumaz leitor, inclusive de relatos de viagens. Que livros deixarias como dica de leitura para o leitor da Gazeta?
A pergunta que me faço após as viagens também faço ao terminar um livro. Poderia começar pela literatura eslava (Dostoievski, Tolstoi, Bulgakov, Gogol), mas, para ficar em relatos de viagem, recomendo O último lugar da Terra, de Roland Huntford; Marco Polo, de Laurence Bergreen; Um adivinho me disse, de Tiziano Terzani; A incrível viagem de Shackleton, de Alfred Lansing; e Cem dias entre céu e mar, de Amyr Klink. Cito ainda Escravidão 1 e 2, de Laurentino Gomes, que, além de envolver viagens – nesse caso, desumanas e intoleráveis –, expõem a principal raiz dos problemas históricos brasileiros.

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Por fim, promoveste a tua estreia em livro. Gostaste da experiência? Novos projetos em vista? O que o leitor pode esperar nesse sentido?
O livro foi uma experiência gratificante. Desde a adolescência, escrever sempre foi um hábito e uma terapia. O segundo livro está na reta final e espero publicá-lo ainda em 2022. Serão mais reflexões, percorrendo outras dezenas de países, com ênfase nos Estados Unidos, China, Índia, África e Europa. O tema de fundo será em torno da incerteza como alavanca da evolução pessoal. Em paralelo, estou preparando um livro posterior, mais voltado ao Brasil e à América Latina sob a visão de um nativo que aos poucos foi se tornando também um estrangeiro.

O que um viajante, que o faça com frequência ou mesmo o que viaja mais raramente, deve levar em conta para aproveitar ao máximo essa experiência? O que achas que é preciso fazer?
Enumero aqui algumas dicas e ressalto que é uma questão pessoal, que pode não servir a todos:
O destino deve ter significado, ser motivador e desafiador para o viajante. Não visite um lugar apenas por ser popular.
Sempre que possível, ou pelo menos uma vez na vida, viaje sozinho, sem ter com quem comentar o que está vendo, ouvindo ou sentindo. Ao expressar prontamente uma experiência, antes de amadurecê-la, perdemos a chance de absorver plenamente o que aprendemos, e muito do essencial se perde.
Planeje, mas considere que algo dará errado. O interessante é que o que sai do plano original seguidamente se torna a parte mais memorável e proveitosa da viagem.
Para viajar fora do mundo lusófono, aprenda algo da língua local e, na falta dela, o inglês, mesmo que seja básico.
A menos que o objetivo da viagem seja exclusivamente comercial, não perca tempo em modernos shopping centers, que são sempre iguais. Em vez disso, caminhe por tradicionais mercados públicos, onde as cidades se desnudam, em um espetáculo para os cinco sentidos.
Por último, o mais importante: As viagens e destinos são meros catalisadores. A verdadeira jornada acontece dentro do viajante. Histórias e reflexões geradas em cada lugar são o verdadeiro destino.

O que, especialmente, as viagens ensinaram para ti sobre a humanidade, a condição humana?
Talvez o que aprendi de mais importante é que é preciso, acima de tudo, escutar as pessoas e captar atitudes, olhares, lamentos e sorrisos. É necessário também entender a dúvida como aliada, para não nos tornamos escravos de referências e certezas. Dessa forma, evitamos desperdiçar oportunidades de evoluir e enxergamos semelhanças naqueles que, em uma primeira impressão, pareciam tão diferentes. Vendo outras culturas com os olhos dos que lá vivem, o mundo fica muito mais interessante. Religiosidade à parte, observo cada vez mais que a vida pode se tornar insuportável se não considerarmos nossa breve existência como doação e contribuição, não para si mesmo, mas para o outro.

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MAR INCÓGNITO, de Aidir Parizzi. Porto Alegre: BesouroBox, 2021. 244 p. R$ 54,90.

SERVIÇO
O quê: lançamento do livro Mar incógnito, de Aidir Parizzi, obra de 244 páginas, com sessão de autógrafos.
Quando: no dia 19 de fevereiro, próximo sábado, a partir das 10 horas.
Onde: na Livraria e Cafeteria Iluminura (Borges de Medeiros, esquina com a Marechal Floriano, no centro de Santa Cruz do Sul)
Exemplares do livro estarão à venda no local.

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