Uma campanha publicitária lançada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão do Ministério da Saúde, gerou desconforto entre os representantes de entidades do setor produtivo do tabaco. O órgão adota o mote “Plante alimento e não plante tabaco”. Em vídeo, a iniciativa diz que a produção gera desmatamento, uso de solo e consumo excessivo de água, além de “destruir a renda da agricultura familiar”.
As afirmativas do material produzido são refutadas, sobretudo, pelo empenho dos produtores em manter as propriedades de acordo com o que determina a legislação. Na área ambiental, por exemplo, segundo o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, a derrubada de árvores mostrada em vídeo não faz parte da realidade brasileira. “O vídeo não deve estar falando do Brasil. Desmatamento de floresta não tem nada a ver com o setor no País”, afirma.
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Schünke reforça que as propriedades têm, em média, 12 hectares e apenas 20% da área é dedicada ao tabaco. O restante já tem a inserção de alimentos, como forma de diversificar e de incrementar a renda. A ação é incentivada pelas entidades, em especial por meio do programa “Milho, Feijão e Pastagens”, em parceria com o Estado. “Essa ação já gerou R$ 923 milhões em 2021 e mais R$ 720 milhões no último ano”, frisa.
Outro número apontado como diferencial é a reserva de mata nativa ou de reflorestamento dentro das propriedades. Mesmo sendo pequenas em extensão, elas têm cerca de 20% garantidos para a preservação florestal. “Não somos contra a produção de alimentos. Pelo contrário. Incentivamos, mas nas pequenas propriedades, se não houvesse o tabaco, não haveria condições de produzir outras culturas, porque elas representam um retorno menor ao produtor. Assim, o tabaco é o que paga a produção de alimentos”, afirma.
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O presidente da Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco), Marcos Vinícius Müller Pegoraro, prefeito de Canguçu, adianta que terá reunião na manhã desta terça-feira, 6 com o secretário estadual da Agricultura, Giovani Feltes. A pauta do encontro será a campanha como forma de pedir auxílio na defesa da cadeia produtiva.
“A campanha mostra um desconhecimento enorme. Publiquei, inclusive, que o governo deve ampliar seus conhecimentos sobretudo na questão social, com o reforço para evitar o trabalho de crianças e de adolescentes e na fonte de renda das famílias”, destaca.
Pegoraro reforça o posicionamento do presidente do SindiTabaco, ao dizer que a fumicultura subsidia outras produções, em especial as de alimentos. A média de ocupação das propriedades com o tabaco não passa de 23%, mas a rentabilidade dele chega a 52% do que a família arrecada.
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Além do potencial de incremento no orçamento familiar, o produto é responsável por 20% das operações do Terminal de Contêineres do Porto de Rio Grande e 10% de tudo o que é exportado pelo Rio Grande do Sul. “Devemos começar uma mobilização para divulgar o amplo lado positivo da cadeia produtiva”, frisa.
Na Assembleia Legislativa, o deputado Marcus Vinícius (PP) fez duras críticas à publicação da campanha pelo Ministério da Saúde. “Trouxe voz e destaque para uma campanha irresponsável que tem se propagado pelo mundo todo, baseada em uma narrativa falsa de que onde se produz tabaco poderia se produzir alimento. Ao afirmar que o tabaco destrói a renda das famílias, o governo contou uma mentira. A verdade é que no Brasil existem 128 mil famílias produtoras de tabaco, sendo que quase 30 mil trabalham em terras arrendadas.”
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O parlamentar citou a preocupação dos produtores com a Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde. “Nenhum produtor ou entidade é consultado ou ouvido. É como se um de nós aqui fosse julgado e não tivesse direito à defesa.” Ele solicitou a retirada da notícia do portal oficial e, na última sexta-feira, encaminhou ofício à Casa Civil alertando sobre o conteúdo “inverídico, descontextualizado e ofensivo aos produtores de tabaco”.
“Mandei direto para a Casa Civil, porque está ligada ao presidente da República, além de ser quem movimenta um grupo de combate à desinformação e às fake news, mas, neste caso, a desinformação partiu de dentro do próprio governo”, explica.
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O presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Albano Werner, acredita que a campanha não caiu bem entre os produtores, sobretudo pela característica de diversificação nas propriedades. “É raro algum produtor não plantar alimento, mas ele precisa do tabaco para produzir comida”, diz.
Werner exemplifica a situação com base na safra 2021/22, quando foi apurada receita bruta de R$ 18,5 bilhões entre os produtores, dos quais R$ 9,5 bilhões são provenientes do tabaco; R$ 5,5 bilhões da produção animal, que inclui leite, aves e suínos; e R$ 3,4 bilhões com outras culturas, contando entre elas grãos e hortifrutigranjeiros.
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O apontamento dos números é corroborado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), Giuseppe Lobo. “O produtor de tabaco já produz alimentos, mas é do tabaco que tira a maior parte da sua renda. O tabaco, então, ajuda a financiar parte da produção de alimentos”, ressalta. Acrescenta que quem ataca o setor desconhece a agricultura brasileira e demonstra insensibilidade com mais de 128 mil famílias que tiram seu sustento dessa cultura, que ajuda a manter a agricultura familiar e traz divisas para o Brasil.
Esse potencial como incremento para os cofres públicos também é ressaltado pelo presidente da Amprotabaco, prefeito Pegoraro. “Ficamos abismados com o fato de ter divulgação em meio oficial. Não é possível ter ativismo dessa forma, atacando uma cadeia produtiva, que gera renda para produtores de mais de 480 municípios brasileiros”, ataca.
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Os representantes dos produtores devem promover encontros com parlamentares para reforçar a defesa da cadeia da fumicultura e reavaliar a condução dada pelo governo, em especial por meio do Ministério da Saúde. Werner enfatiza que o setor tem sido muito atacado por organizações não governamentais, como a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT). “Várias campanhas têm surgido, com o objetivo de formar a opinião pública já claramente com vistas à realização da COP-10. Muitas delas são patrocinadas pela ACT”, diz Iro Schünke, do SindiTabaco.
A ACT é defensora da ideia de que a área destinada à fumicultura “sufoca” a plantação de alimentos, além da questão ambiental, que é refutada por Benício Werner. “Apenas a banana usa menos princípio ativo do que o tabaco. Então, falar em dano ao solo é outra inverdade, uma posição leviana”, diz.
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