Diante da paralisação quase total da atividade econômica desde o início da semana, entidades empresariais gaúchas iniciaram um movimento de pressão sobre o poder público para que flexibilize as medidas restritivas a partir dos próximos dias. O pedido é para que empresas, indústrias e estabelecimentos comerciais possam funcionar de forma gradual e com precauções.
Uma das entidades que se posicionou nesse sentido é a Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). Segundo o vice-presidente regional, Ario Sabbi, a manutenção da paralisia pode levar a consequências graves, como desabastecimento de produtos.
Para Sabbi, o ideal é que as imposições de isolamento social sejam direcionadas apenas para integrantes de grupos de risco – o que é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, porém contraria a orientação oficial do Ministério da Saúde e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O remédio não pode ser mais letal que a doença. Temos que lembrar que é a classe empresarial que faz a roda girar. Não podemos frear de forma total”, disse.
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Em um manifesto conjunto, a Federação do Comércio de Bens e de Serviços (Fecomércio), a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) e a Federação das Indústrias (Fiergs) defenderam um “retorno gradativo” às atividades. Batizado de “Manifesto pela reativação da economia gaúcha”, o documento propõe que as empresas possam operar com 50% do efetivo a partir de quarta-feira e com 100% a partir do dia 6.
De acordo com o vice-presidente regional da Fiergs, Flávio Haas, o que se busca é um “ponto de equilíbrio”. A maior preocupação é com a capacidade das empresas de honrarem compromissos básicos, como pagar funcionários e fornecedores.
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“Não é uma questão de ganhar dinheiro, mas sim de preservação do trabalho. Precisamos manter a atividade produtiva sem pôr em risco as pessoas e com o máximo de precaução”, disse. Para Haas, o ideal é que seja determinado um regramento para que as empresas possam operar, porém sem gerar aglomerações de pessoas, por exemplo.
A maioria das empresas de Santa Cruz opera em regime de home office. Já as indústrias, em maior parte, suspenderam as linhas de produção. As construtoras também paralisaram.
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“Corremos o risco de matar nossas empresas”, alega CDL
Após sugerir à Prefeitura na semana passada a paralisação das lojas para ajudar a conter a propagação do coronavírus, empresários de Santa Cruz do Sul agora defendem uma reabertura “gradual e organizada” do comércio a partir do dia 1º, data-limite prevista no decreto assinado pelo prefeito Telmo Kirst (PSD).
Conforme o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Márcio Martins, o fechamento das lojas foi acertado e contribuiu para que o município não tenha, até agora, nenhum caso confirmado. Agora, porém, o retorno é visto como “fundamental”.
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“Corremos o risco de matar nossas empresas e os poderes públicos se isso não ocorrer”, disse. Para ele, a retomada deve vir acompanhada de “medidas extremas de controle de aglomerações”, como redução de funcionários trabalhando ao mesmo tempo, proibição de eventos e restrição de circulação em locais públicos. A CDL deve reunir a diretoria na segunda-feira para firmar um posicionamento oficial.
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Na mesma linha, o presidente do Sindilojas, Mauro Spode, confirma que, entre os lojistas, cresce um sentimento favorável à retomada, mas advertiu que isso deve ser feito “com muita cautela” de forma que o trabalho realizado até agora para conter a pandemia na cidade não seja perdido. “Mas em algum momento, precisamos voltar”, defendeu.
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O QUE DIZEM OS SINDICATOS
O Sindicato dos Comerciários vai enviar uma manifestação à Prefeitura pedindo para que as lojas permaneçam fechadas por enquanto. Segundo o presidente da entidade, Afonso Schwengber, retomar as atividades agora ameaça a segurança dos trabalhadores e iria contra “tudo o que está acontecendo no mundo”. “É uma escolha entre a vida e o lucro. O momento é muito complicado. É preciso manter essa medida pelo menos até a metade de abril e aí sim fazer uma avaliação”, disse.
Na mesma linha, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias do Fumo e Alimentação (Stifa), Sérgio Pacheco, considera a flexibilização “precipitada”. Segundo ele, não se pode retomar as atividades sem garantias de proteção aos trabalhadores.
“Lógico que as empresas precisam, mas a nossa preocupação é com a saúde das pessoas. Estamos dispostos a sentar e negociar, mas uma série de situações precisam ser vistas”, alegou. Um dos aspectos, por exemplo, envolve as unidades de destala manual de tabaco, onde geralmente os funcionários trabalham muito perto uns dos outros.
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Governador indica que quarentena seguirá
Apesar da pressão do empresariado e das manifestações de Bolsonaro, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse nessa quinta-feira, 26, que a quarentena no Rio Grande do Sul não vai terminar antes do fim da próxima semana.
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Segundo ele, uma eventual flexibilização das medidas restritivas, incluindo a permissão da retomada das atividades econômicas, dependerá do avanço da pandemia no Estado em termos de número de infectados e de leitos disponíveis.
“Durante a próxima semana vamos avaliar os dados e as informações da evolução do quadro de contágio no Estado, para compreendermos melhor a curva que estamos tomando e também para compreender os instrumentos que teremos para enfrentar os quadros que vão se agravar.”
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