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SÉRIE ABRIL AZUL

Entidades defendem mais oportunidades para autistas no mercado de trabalho

Uma pesquisa divulgada recentemente pela Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders) evidenciou a necessidade da inclusão de indivíduos diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mercado de trabalho.

A partir do número de cidadãos que receberam a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) – 33.169 ao – todo, constatou-se que 5.323 (16%) são adultos com 18 anos ou mais. Destes, 4.510 (84,7%) encontram-se aptos, juridicamente, a exercer atos da vida civil.

Os resultados, conforme o estudo, demonstram o potencial de autonomia e autodeterminação das pessoas com TEA e a demanda por ações voltadas à inclusão no mercado. Sobretudo, pelo fato de que uma parcela dos portadores da Ciptea (14,56%) tem renda acima de 1,5 salário mínimo per capita.
Já as famílias atípicas (no caso, de pessoas com a carteira) estão em situação de vulnerabilidade social significativa. Ao todo, 53,38% delas possuem renda per capita de até meio salário mínimo nacional, o equivalente a R$ 759,00 ao mês.

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Para melhorar esse cenário, entidades de Santa Cruz do Sul que trabalham com autistas tornaram-se protagonistas na luta pela oportunidade de emprego. A atuação do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Compede), da Associação Luz Azul Pró-Autismo de Santa Cruz do Sul, da Realidade Acessível e do Girassol Centro Municipal de Atendimento ao Autista (CMA) visa prepará-los para o mercado formal. Junto às empresas e agências de recrutamento, atuam pela promoção de mais oportunidades e para aproveitar os potenciais dos autistas no ambiente de trabalho. 

Mais atenção às capacidades e não para o diagnóstico

Contrate a pessoa, não a deficiência. A frase evidencia o trabalho de conscientização da Realidade Acessível. A agência de consultoria foi fundada pela advogada Lisandra Metz, pesquisadora da área que identificou, em seus trabalhos, o capacitismo (forma de preconceito contra pessoas com deficiência) no ambiente laboral.

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Para Lisandra, o capacitismo é um dos principais fatores que inviabilizam tanto o acesso quanto a permanência de pessoas com deficiência no ambiente laboral. Ele manifesta-se de diferentes maneiras, desde a falta de adaptação de uma empresa, por exemplo, ou a negligência de um gestor em relação às pessoas com deficiência, ignorando as peculiaridades do funcionário e inviabilizando adaptações razoáveis. 

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A partir das suas pesquisas, Lisandra iniciou em 2022 uma série de ações voltadas a tornar as empresas mais acessíveis para pessoas com deficiência, incluindo autistas. Isso envolve fazer com que os empregadores elaborem estratégias de inclusão efetivas, de modo que ofereçam vagas que possam ser de fato preenchidas por pessoas com TEA.

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A consultora de acessibilidade frisa que as organizações não devem realizar a inclusão apenas para cumprir cotas definidas na legislação. Elas precisam planejar e executar estratégias elaboradas para inseri-las em funções que compreendam e valorizem as características das pessoas. “Autistas não são números ou cotas. Não é um favor, é um dever da empresa incluir”, destacou.

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Para fomentar a abertura de vagas para pessoas com autismo e outras síndromes, o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Compede) desenvolveu um projeto em parceria com o Sine de Santa Cruz e que agora conta com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Social. A ação envolve a captação e divulgação de vagas disponíveis, além de aproximar as empresas daqueles que buscam um emprego.

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A presidente do Compede, Francine Beatriz da Silva, conta que o projeto iniciou após a primeira edição do Fórum da Empregabilidade da Pessoa com Deficiência, em 2023. A partir daí, passou a ser desenvolvida a Quinta Inclusiva, realizada na primeira quinta-feira de cada mês. “Sabíamos que não podíamos abordar o tema somente uma vez por ano no fórum”, salienta Francine.

Para a presidente do conselho, tais iniciativas são necessárias diante dos desafios provocados pelas limitações de acesso ao mercado. Sobretudo, as restrições impostas pelas vagas para pessoas com deficiência (PcD). 

Elas tornaram-se, segundo Francine, uma barreira às capacidades de pessoas autistas e com deficiências. Apesar de o perfil desse grupo ter mudado – especialmente pelo fato de terem conquistado espaço no Ensino Superior, não limitando-se à educação básica –, as oportunidades de emprego não dão conta dos seus talentos. 

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Francine ressalta o fato de que os currículos de pessoas com deficiência são ignorados quando tentam se inscrever a uma vaga que não é exclusiva para PcD. Ela diz que já testemunhou situações em que são ignorados apesar de possuírem todas as qualificações.

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“Em toda oportunidade que tenho de conversar com um gestor, defendo que, no lugar de uma vaga exclusiva a PcD, abra uma para qualquer pessoa, com oportunidades equivalentes na seleção dos candidatos. Vamos dar uma chance e ver as potencialidades”, comenta.

A pedagoga de Educação Especial do Centro Girassol, Thaís Campos Teixeira, cita a necessidade de não olhar para o diagnóstico e sim para as capacidades e habilidades dessas pessoas. “Então eles estão olhando a deficiência definindo as pessoas, em vez de observar a qualificação, o currículo dela”, afirma.

Aptos e dispostos a trabalhar

Na avaliação do presidente da Associação Luz Azul Pró-Autismo de Santa Cruz do Sul, Eder Lemos, não falta interesse das pessoas diagnosticadas com TEA em obter uma colocação. Entretanto, há carência de vagas mais flexíveis e adaptadas às necessidades do autista.

Entre as pessoas atendidas pela Luz Azul estão cerca de 23 adultos, com capacidade de atuar em diferentes áreas. Para Lemos, a inclusão desse grupo poderia ajudar a suprir a falta de mão de obra no município. “Santa Cruz tem uma carência em diferentes setores. As fumageiras, por exemplo, precisam buscar trabalhadores de fora. Se houvesse um trabalho de capacitação, poderia suprir parte da demanda atual”, avalia.

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