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Benício Werner: “O Sistema Integrado ficou muito frágil”

Em diferentes estágios da colheita, conforme os ciclos regionais em todo o Sul do Brasil, os produtores estão envolvidos na safra 2021/22 de tabaco. Se algumas famílias já concluíram ou estão em vias de concluir a retirada das folhas da lavoura, outras recém iniciam essa etapa. Mas todas estão em expectativa com o retorno financeiro de sua produção. E esse assunto começa a ser encaminhado na segunda-feira, quando lideranças dos agricultores e das empresas do setor iniciam as negociações do preço.

Se nos últimos anos as tratativas não resultaram na assinatura de protocolo com todas as empresas, para o ciclo 2020/21 novos elementos se juntam a fim de tornar ainda mais complexo o cenário. Pela primeira vez na história, equipes das entidades dos produtores e outras das indústrias foram a campo juntas a fim de dimensionar o custo de produção, que envolve aspectos como mão de obra, insumos, energia, combustíveis e lenha. E, no ambiente econômico, a inflação pressiona ou achata a renda.

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É de olho em todos esses elementos que está a anfitriã dos encontros para negociação, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). E o presidente da entidade, Benício Albano Werner, na companhia dos demais membros da diretoria, mira com certa inquietação os rumos e as perspectivas não só para esta temporada, mas também para o ambiente de produção e de mercados, interno e externo.

Foi com a constatação de que o cenário global não admitiria oferta excessiva de folhas que a Afubra inclusive orientou os produtores a reduzirem, dentro do possível, a área de cultivo neste ciclo, o que se confirma, na faixa de 9%. O cálculo era simples: plantar menos, para ter custo um pouco menor, e talvez até lucrar um pouco mais ao final, com agregação de qualidade.

Na última quarta-feira, já na proximidade da véspera do início da negociação, Werner recebeu a Gazeta do Sul para uma entrevista. Esse santa-cruzense de 74 anos, nascido no dia 18 de agosto de 1947 em Formosa, hoje Vale do Sol e na época pertencente a Santa Cruz, descortinou um olhar sobre a cadeia produtiva. E não é qualquer olhar. Benício é filho de ninguém menos do que Harry Antonio Werner e de Helena Paulina Werner, ele o histórico idealizador e primeiro presidente da entidade. Primogênito de dez filhos, Benício cresceu ouvindo em casa o discurso articulado da importância da união de forças para o bem de todos os agricultores.

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Casado com a Elfoni, e pai de Marco Antonio e Marcelo André, formado em Ciências Contábeis pela Faccosul (atual Unisc), Benício ingressou nos quadros da Afubra em 1975. Chegou ao cargo de tesoureiro em 1983 e foi eleito presidente em 2007, assumindo, assim, décadas depois, a mesma missão que fora a de seu pai. Foi reeleito em 2011, 2015 e 2019, agora para gestão até 2023. Em paralelo, em 2006 assumira a presidência da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA), da qual é delegado, função que cumpre desde a fundação dela, em 1984.

Na entrevista, já tendo presente o início das negociações de preço do tabaco para a safra 2021/22, na segunda-feira, Werner revela principalmente a sua preocupação com a fragilidade recente do Sistema Integrado de Produção, um dos pilares históricos desta cadeia produtiva.

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Reuniões de negociação começam na segunda
A negociação do preço do tabaco para a safra 2021/22 entre as representações dos produtores e das empresas do setor inicia-se na segunda-feira, com continuação no dia seguinte. Os encontros ocorrerão na sede da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) e serão realizados de forma individual entre as lideranças dos agricultores e as empresas fumageiras. Em nome dos produtores participarão, além de dirigentes da Afubra, lideranças das federações da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), de Santa Catarina (Faesc) e do Paraná (Faep), e dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), de Santa Catarina (Fetaesc) e do Paraná (Fetaep).

ENTREVISTA
Benício Albano Werner
Presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra)

Gazeta do Sul – Como o senhor avalia a conjuntura da cultura do tabaco no Sul do Brasil?
Benício Albano Werner –
A gente sempre está preocupado com o clima. Se olharmos o Vale do Rio Pardo, a parte baixa plantou mais cedo e isso favoreceu os produtores em relação à parte alta, até agora. As chuvas dessa semana melhoraram ainda mais as condições dos que plantaram cedo. O Sul do Estado vinha recebendo chuvas quando aqui elas nem ocorriam. Até deve haver um certo prejuízo sim, por motivo climático, mas de modo geral a gente entende que a safra vai ser boa.

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Tanto na qualidade quanto na produtividade?
Tanto a qualidade quanto a produtividade. Continuamos nos preocupando com as regiões mais tardias, o Sul do Estado e a parte alta do Vale do Rio Pardo, pois ali ainda serão necessárias mais chuvas ao longo das próximas semanas. Se elas vierem de forma regular, embora os prognósticos sugiram o contrário, também terão boa safra. O Noroeste, de Iraí a Frederico Westphalen, já começou a colher, mas ali é basicamente o Burley e um pouco de Comum, mesmo caso do Oeste de Santa Catarina. O tabaco é bem diferente do milho, até aguenta alguns dias sem chuva. No milho, se este entra em fase de florescimento e não chove, o prejuízo é grande.

Mas deve se confirmar recuo de produção em relação ao ano passado?
A princípio temos estimativa de queda de cerca de 9%, o que, em termos de produção, seria recuar de 628 mil toneladas para 569 mil toneladas. Essa é nossa previsão. Já a produtividade quase deve se equiparar à da safra passada. A área plantada caiu 9,8%, e o estado que mais diminuiu foi Santa Catarina, 12,9%. O Paraná diminuiu 10% e o Rio Grande do Sul, 7,4%.

O que motiva esse recuo de área plantada?
Sempre penso em três situações: uma é o movimento de produtores que se aposentam e não ocorre sucessão; outra é que muitos municípios que eram dependentes da produção agrícola se industrializaram, com migração do campo para trabalho em indústrias. Isso se notou muito em Candelária, por exemplo. E a terceira se combina: a demanda está caindo, porque as campanhas antitabagistas seguem fortes, e isso faz com que haja cada vez menos consumo de cigarros. Logo, não há por que manter a oferta alta. O produtor começou a raciocinar sobre aquilo que as entidades vinham falando: que não havia por que continuar plantando acima do que o mercado podia absorver. Já na safra passada houve redução, e nesta de novo. Na anterior, até quando as empresas estavam com a compra mais rígida, os preços estavam bem maiores do que o percentual que havia sido dado de aumento no preço. A gente pôde ver que houve melhora na compra.

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E a safra passada terminou com correria na compra…
Sim, houve um desespero de empresas atrás de tabaco. Quando cerca de 20% do produto ainda estava nas propriedades, este foi vendido a preço bem maior do que o praticado até então. Eu diria que isso também desgostou o próprio produtor. Os que são corretos classificavam e vendiam, não pensaram em segurar e especular, e se deram mal. E de fato ninguém podia imaginar que isso aconteceria, quando, até o fim de abril, até tabaco tinha sido devolvido pelas empresas. Isso não passava pela cabeça de ninguém, e acredito que nem das próprias empresas. Se houvesse uma perspectiva de falta de tabaco, não teriam sido tão rígidas, e logo teria havido uma média um pouco maior. A gente, que acompanha a safra, não percebia isso, e até se pergunta se nem as empresas tinham se dado conta do que poderia acontecer na reta final. Ali pelo fim de abril, soubemos que houve influência da queda de produtividade registrada no Zimbábwe, no Virgínia, e que colheu menos. E as empresas parece que correram para compensar isso adquirindo no Brasil.

Como as entidades chegam para a negociação?
Nesses anos em que a gente está negociando o preço, quando pensa que vai ser um ano tranquilo de negociação, e quando recebe as propostas das empresas, fica aquém do que a representação dos produtores projetava, ou tinha como proposta. E acho que este ano não vai ser diferente.

Como o senhor avalia o Sistema Integrado neste cenário de negociação e de relacionamento no setor?
Já se conversou muito sobre esse tema, e as entidades foram claras, dizendo que o Sistema Integrado do tabaco está cada vez mais frágil. Se a gente olha para os sistemas integrados da proteína animal, se está integrado com a empresa X, não vai entregar na empresa Y. Isso é um sistema que funciona de verdade. O nosso não é mais um sistema integrado. E as próprias empresas estão fazendo isso. Umas até decidiram que só querem ou vão comprar determinado tipo de tabaco do integrado, e até dizem que ele pode vender o restante para outros. Isso já não é mais um sistema integrado.

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