O equilíbrio do meio ambiente e da biodiversidade do planeta está nas mãos – ou melhor, nas patas – das abelhas. Insetos polinizadores, elas são vitais para a manutenção de matas nativas e para a agricultura. A Mata Atlântica é um dos biomas com maior biodiversidade do planeta e ocupa uma área superior a 200 mil metros quadrados. Nela vivem 140 milhões de brasileiros, e a floresta, que atualmente tem apenas cerca de 10% de área original preservada, depende essencialmente das abelhas para seguir existindo.
Em algumas regiões, como explica o professor Andreas Köhler, do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a diminuição do número de abelhas na natureza já causa grandes impactos. Ele dá o exemplo do Japão, que teve a população desses insetos praticamente extinta pelo uso dos agrotóxicos nas lavouras, e agora uma parte da polinização das plantas precisa ser feita manualmente. “Em regiões onde a presença das abelhas foi reduzida drasticamente em alguns ecossistemas, a reprodução das plantas e a produção de alimentos foram comprometidas. No Japão, a população utiliza o pincel e outras técnicas para fazer parte da polinização”, menciona o doutor em Biologia.
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E não é só do outro lado do mundo que as abelhas estão desaparecendo. O fenômeno também pode ser observado em Santa Cruz do Sul, segundo Köhler. Ele conta que, no Rio Grande do Sul, mais de 300 espécies são conhecidas. Apenas na área urbana de Santa Cruz, 80 tipos já foram catalogados, mas todos correm grande risco, aponta o professor da Unisc. “As abelhas já estão desaparecendo, isso é possível de se mostrar. Antigamente, havia muito mais abelhas silvestres, como também sem ferrão. Há 15 anos, foi feito o primeiro levantamento sobre abelhas sem ferrão na área urbana de Santa Cruz, e nessa época tínhamos 30% mais ninhos naturais em muros e buracos de árvores do que hoje.”
Na agricultura, Köhler destaca que esses insetos são essenciais para a produção de frutas e legumes, e é unanimidade entre pesquisadores que a queda nessa população pode representar um grande perigo à produção de alimentos.
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O doutor em Desenvolvimento Regional João Paulo Reis Costa, professor do bacharelado em Agroecologia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), frisa que o uso desordenado de agrotóxicos é um perigo não só para as abelhas, mas também para as pessoas, por meio do contato direto ou pela poluição da água e do ar. A razão é a presença de substâncias altamente contaminantes.
Ele cita um estudo da Agência Pública, feito em 2019, que observou a morte de mais de 500 milhões de abelhas em apenas três meses – entre dezembro de 2018 e março de 2019 – em quatro estados diferentes. Desse montante, 400 milhões foram encontradas no Rio Grande do Sul, segundo estimativas de órgãos de pesquisa públicos e privados.
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“Se levarmos em conta a flexibilização que o Brasil e o Rio Grande do Sul vêm adotando em relação a agrotóxicos, muitos deles já proibidos em grande parte do mundo, estamos cada dia mais sob risco de contaminação, de diferentes formas. E muitas sem nem mesmo a gente saber“, aponta o professor. “No caso das abelhas em específico, estamos falando de insetos altamente sensíveis à contaminação desses produtos. Elas entram em contato com as plantas com agrotóxicos e acabam morrendo, o que gera um grande problema para a natureza.”
O apicultor Lênio Trevisan, produtor de mel há 15 anos, cria abelhas em áreas dos municípios de Vale do Sol e Venâncio Aires. Ele conta que a situação não é das melhores para a categoria, já que os custos aumentaram e o preço pago pelo produto é considerado baixo. “A madeira para as caixas de abelhas, a cera, todo o material teve acréscimo nos preços. E, infelizmente, a renda para o apicultor vem piorando”, diz Trevisan.
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Segundo ele, havia uma grande expectativa com o início da guerra na Ucrânia, que é um país produtor e enfrentou uma quebra nos resultados. Mas a alta do dólar e a entrada do mel do Uruguai e da Argentina, segundo ele, interferiram na produção gaúcha. Trevisan informa que o preço do quilo de mel pago ao produtor está na faixa dos R$ 12,00, mas é difícil prever o custo para o próximo ano, pois o mercado sofre grande interferência da exportação.
Destaca que em Linha Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul, a Cooperativa dos Apicultores Familiares do Brasil (Copromel) – que até 2018 chamava-se Associação Santa-Cruzense de Apicultores (ASA) –, já recebeu maquinário para se organizar e realizar a venda direta do mel, inclusive para exportação. Isso pode melhorar o preço para o produtor e para o consumidor na região.
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