Às vésperas de iniciar a contagem regressiva de um ano para a próxima eleição, o Congresso Nacional está às voltas com a discussão sobre o novo Código Eleitoral. Aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados e agora à espera da votação no Senado, o projeto substitui toda a legislação eleitoral por um único instrumento com quase 900 artigos. O texto inclui alterações em regras referentes a temas como pesquisas e prestação de contas partidárias.
As medidas geram controvérsia entre especialistas. De um lado, estão previstos, por exemplo, a instituição do crime de caixa dois e a implantação de pena para quem propagar notícias falsas relacionadas a eleições, além de incentivos à participação de mulheres, negros e indígenas no processo eleitoral. Por outro, algumas das propostas são criticadas por supostamente dificultarem a fiscalização sobre receitas e gastos dos partidos – como a flexibilização do uso de recurso do fundo partidário e a permissão para que as siglas contratem auditorias externas, ao invés de submeter as contas à Justiça Eleitoral – e favorecer a impunidade – como a descriminalização do transporte de eleitores e a restrição para perda de mandato de condenados por compra de votos. Para valer no pleito de 2022, as medidas precisam passar pelo Senado até o início do próximo mês.
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Para a advogada e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Marina Morais, a celeridade da tramitação do projeto na Câmara impediu uma discussão mais aprofundada sobre questões relacionadas com representação de gênero e raça, por exemplo. Ainda assim, a avaliação é de que o saldo é positivo e a compilação das regras eleitorais será benéfica. “Os juízes eleitorais ficam por biênio, então não há uma jurisdição contínua. Esse norte no julgamento será muito salutar”, observou.
Na mesma linha, o presidente do Instituto Gaúcho de Direito Eleitoral (IGDE), Caetano Cuervo Lo Pumo, reconhece que faltou debate sobre tópicos polêmicos, mas não considera o texto aprovado um retrocesso, inclusive no que toca à prestação de contas. “A ideia de auditorias externas para controle dos partidos é boa, pois é um instrumento a mais que se soma aos outros. A Justiça Eleitoral segue no controle”, analisa.
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Já o advogado eleitoralista Antônio Augusto Mayer dos Santos vê problemas graves na proposta, incluindo burocratização recursal e impunidade por compra de votos. Para ele, trata-se de um “desserviço ao Direito Eleitoral e à Justiça Eleitoral”. “É um texto deplorável que expressa a leviandade da Câmara dos Deputados e o despreparo da maioria dos seus integrantes na abordagem de um tema dessa envergadura”, comentou.
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