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Entenda as principais tradições e conheça o essencial no Natal

O Natal como conhecemos é uma festa de origem europeia. Mesmo com a interferência da cultura norte-americana e seus apelos comerciais, as tradições, os rituais e os costumes que prevalecem têm sua origem nos povos descendentes dos europeus.

Você pode nem imaginar, mas quase tudo que é repetido em família, como a realização da ceia, a decoração da casa e a forma de celebrar a noite de Natal, pertence a um conjunto de hábitos que, no Brasil, foram modificados por causa das muitas culturas que formam a população. Santa Cruz do Sul, como um genuíno lote da imigração alemã no Brasil, herdou boa parte dessas tradições, que hoje são parte da maior festa cristã do mundo.

Para a doutora em língua alemã Lissi Bender, a própria Alemanha é o berço de quase tudo que está relacionado com o Natal. Por conta disso, os costumes que ainda são praticados na região têm a mesma origem na tradição germânica. A partir de agora, você é convidado a desvendar o que está escondido por trás da comemoração secular do Natal e por que as celebrações locais não seguem à risca a tradição que deu origem à festa do nascimento do filho de Deus.

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♦ O cardápio da ceia
Para entender o cardápio da ceia de Natal é preciso voltar no tempo, por aproximadamente 700 anos. Na Europa, durante outubro, é tempo de colheita. O inverno frio vem na sequência e inviabiliza o cultivo de alimentos. Por isso, tudo que se plantou durante o verão terá que alimentar o povo nos outros meses do ano.

Então era preciso pensar na conservação daquilo que foi colhido. É nesse cenário que surgem as famosas frutas cristalizadas e a uva-passa, ambos pivôs de discussões familiares na hora da ceia. “Era preciso deixar menos perecíveis esses alimentos, e a estratégia era secar e cristalizar as frutas”, conta Lissi.

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Já a mistura no arroz, na salada, em pratos doces e salgados ficou por conta do brasileiro mesmo. “O Brasil é um país de imigração, por isso, nós temos esta diversidade cultural que interfere no cardápio da ceia.” A pesquisadora conta que as frutas secas eram utilizadas em uma cuca especial alemã. “Os italianos, por sua vez, fizeram a sua cuca com frutas, que é o panetone, totalmente incorporado à tradição local.”

♦ Peru ou frango?

Nenhum dos dois. Nas primeiras celebrações, quem ia para o forno era o ganso, e no dia 25. Não há uma explicação única para essa tradição, assim como não se sabe ao certo qual das culturas presentes no Brasil que influenciou a escolha pelo peru, frango ou seus “parentes” vendidos especialmente nesta época.

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A fartura da ceia também é colocada em xeque. “A ceia original de Natal era celebrada no início da noite, com um jantar leve. No dia seguinte, o assado de ganso era o prato principal”, ensina Lissi Bender.

Em se tratando de adaptação, especialmente aquela, à la Santa Cruz, permite que na refeição sejam assadas aves, servidas com fartura, com pratos quentes, frios e frutas. “A gente precisa lembrar que esta é uma festa simples, que o aniversariante nasceu em uma manjedoura. Nem sempre é preciso tanta fartura.”

♦ Bolacha de Natal
Confeccionar bolachas de Natal é o costume mais próximo da origem da festa, trazida há 168 anos para o povoado que deu origem a Santa Cruz do Sul. A produção, hoje, ainda mantém viva a essência da mais antiga tradição natalina local.

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Em Santa Cruz, uma panificadora dedica um dia inteiro na semana só para a confecção de bolachas de Natal. Régis Schmidt é o encarregado pela produção e revela: cada vez que produz, são mais de 40 quilos de bolachas, sempre às terças-feiras. A “safra” deste ano começou a ser fabricada em outubro. De tanto que vende, o produto não para nas prateleiras da empresa.

“Nós temos venda na panificadora e em outros pontos de Santa Cruz. Também comercializamos para os municípios de Vera Cruz, Venâncio Aires e Rio Pardo”, conta Schmidt. Cortadas em formato de estrelas e pinheiros, pintadas à mão e embaladas cuidadosamente, as bolachas da panificadora carregam uma tradição de família. “A receita acompanha a família dos proprietários e vem de Sinimbu. No caso dessa receita, o principal ingrediente é a dedicação. Com ela, tudo fica melhor”, ensina.


(Foto: Bruno Pedry)

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♦ Papai Noel existe?

Sim, mas não como estamos acostumados a ver por aí. Na Turquia do século 15 existia um bispo que ficou conhecido como São Nicolau. Conta a história que, naquela época, ele ajudava as famílias mais necessitadas. “Existia muita dificuldade naquela época. Na casa onde faltava dinheiro, ou algum mantimento, São Nicolau aparecia. Colocava moedas dentro das meias”, explica Maria Luiza. O bispo Nicolau também vestia vermelho, “mas quem deixou ele de barba branca, calça e casaco vermelhos foi a indústria norte-americana, na intenção de vender mais”, destaca a historiadora.


Maria Luiza Schuster: música e ornamentação das casas têm relação com o inverno europeu
(Foto: Bruno Pedry)

♦ A música, o pinheiro e as luzes completam o ritual natalino

Com um calor na casa dos 40 graus na rua, é difícil imaginar um Natal aconchegante dentro de casa, em Santa Cruz do Sul. A menos que o ar-condicionado seja poderoso, fazer uma festa íntima nessa data é praticamente impossível. Mas, lembrando que o Natal comemorado aqui é uma tradição europeia, e lá é muito frio, a música sempre foi uma das formas de tornar a “Noite Feliz” um pouco mais acolhedora.

A historiadora Maria Luiza Rauber Schuster conta que boa parte do repertório natalino surgiu na fria Alemanha. As músicas que falam de paz, amor e gratidão acionam as lembranças mais emotivas. “Era para tornar mais acolhedora a celebração dentro de casa”, revela. Da tradição de acolher com música dentro de casa também deriva a montagem dos pinheiros, guirlandas e arranjos de Natal.

Pense em uma paisagem gélida, com neve para todos os lados, tingindo o quadro da janela da sala em tons de branco e cinza. Esse é o clima do Natal no Hemisfério Norte. Nesse ambiente, apenas os pinheiros mais fortes sobrevivem. Para colorir a casa e aquecer coração, ramos, galhos e até mudas inteiras de pinheiros serviram como adereços do Natal.

“Os primeiros enfeites utilizados eram as maçãs, que mesmo guardadas nos porões das casas, fruto das colheitas de outono, continuavam vermelhas. As primeiras árvores também tinham velas no lugar de lâmpadas pisca-pisca”, detalha Maria Luiza. Sempre que se encontrar um enfeite no formato de maçã, esse é o tipo original. O brilho da fruta foi copiado pelas bolinhas de fibra de vidro, atualmente reproduzidas em grande escala nos enfeites de plástico, vindos da China.

♦ O essencial mesmo é Cristo

Ao longo desta reportagem, foram apresentados elementos presentes na comemoração do Natal da região, na intenção de reunir tudo que é mais importante nesta época. A história e a cultura germânica ajudam a explicar quase tudo que é feito hoje, quase que instintivamente.

No entanto, o maior sentimento está ligado à espiritualidade da data. Dom Aloísio Dilli é o bispo da Diocese de Santa Cruz. Na hora de falar do Natal, ele ultrapassa os muros da Igreja Católica e afirma que, para os cristãos, o essencial da comemoração é celebrar a vinda do filho de Deus à Terra.

“Por causa Dele que se enfeita a casa com pinheiro. Por causa de Jesus que se faz uma ceia com muita comida. O consumo deve ser uma consequência da comemoração, que é muito maior”, complementa o religioso.


Dom Aloísio: consumo é só uma consequência
(Foto: Bruno Pedry)

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