A qualificação por meio do ingresso no Ensino Superior é estimulada pelas chances de maior empregabilidade e melhor remuneração no mercado de trabalho. Com a evolução do acesso ao nível de educação no Brasil, a quantidade de matrículas tem avançado ano após ano.
O Censo Demográfico mais recente evidencia o avanço do nível de instrução de brasileiros. Em 2000, 6,8% possuíam Ensino Superior. Já em 2022, esse número saltou para 18,4%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tal evolução também contribuiu para o acesso de pessoas com deficiência, incluindo aquelas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), nas universidades.
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No entanto, a pesquisa Características da população com autismo no Rio Grande do Sul mostra que o número de cidadãos com TEA no Ensino Superior poderia ser maior.
Dos 33.169 indivíduos com a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), entre junho de 2021 e janeiro de 2025, 25.359 (76,45%) estavam em algum nível de escolarização no momento da coleta dos dados. Destes, somente 620 estudantes estão em cursos de graduação. Há ainda 69 autistas na pós-graduação, 36 em mestrado e 22 em doutorado.
Para o presidente da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders), Marquinho Lang, a quantidade ainda é baixa. Na avaliação dele, é necessário evoluir na formação básica para que, no futuro, a quantidade de autistas no Ensino Superior possa aumentar.
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A última reportagem da série Abril Azul trata sobre os benefícios do acesso ao Ensino Superior. Isso fica evidenciado pela história do estudante Whallan João Schwantz, de 20 anos, que cursa Farmácia na Universidade de Santa Cruz do Sul. Ele explica como a graduação impactou sua vida e mostra que a escolha valeu a pena.
Universidade abre portas para o futuro, afirma estudante
Natural de Vale do Sol, Whallan João Schwantz, de 20 anos, está na metade do curso de Farmácia, com duração prevista de cinco anos. “Sempre tive curiosidade pela área e é também bem ampla, dá para fazer muita coisa.”
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De segunda a quinta-feira, ele percorre 30 quilômetros até a Unisc para as aulas à noite. Neste ano, passou a fazer o trajeto de carro. No início, não foi fácil. Na primeira semana, o pai o acompanhava até sentir confiança de fazer a viagem sozinho. “Normalmente pego bastante trânsito, mas aí tem que ter paciência”, admite.
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Pela manhã, ele atua como estagiário na farmácia do município. Além de atender a população, controla o estoque e ajuda com as receitas. “Tem dias que são mais de cem pessoas. Eu gosto muito.”
Whallan foi diagnosticado com autismo de suporte 1, de nível leve, por volta dos 5 anos de idade. Ele cita como desafio o estresse que pode ser provocado nos momentos em que precisa ficar em meio a muitas pessoas ou lidar com som alto por longos períodos.
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Também tem dificuldade de lidar com situações que o tiram da rotina. “Às vezes, ir para lugares que eu não conheço, seja ir para uma sala diferente, me deixa apreensivo.”
Entretanto, o apoio fornecido pela Unisc, sobretudo devido ao Núcleo de Apoio Acadêmico, facilitaram o ingresso ao nível superior. Recorda que, para a aula de anatomia, contou com suporte psicológico para ver os corpos e se adaptar.
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“À cada semestre, me chamam para ver como estou indo, se preciso de ajuda. Sei que posso contar com eles, mas até o momento não precisei chamar. Se precisar, sei que tenho auxílio”, conta.
O estudante afirma que, desde que ingressou na Unisc, não foi vítima de nenhum tipo de preconceito. Ele se sentiu bem acolhido no ambiente acadêmico, tanto pelos colegas quanto pelos professores, que o auxiliam sempre que necessário. “Eu contei para os meus amigos que sou autista e brincam que sou o mais inteligente do grupo.”
Nesse clima acolhedor, Whallan pode desenvolver suas habilidades e enfrentar seus medos. “Estou começando a tomar coragem para apresentar os trabalhos e tentar não travar tanto na fala. Travo bastante na frente das pessoas”, menciona. Para ele, o Ensino Superior contribui muito e é necessário. “Ele abre mais portas para você conseguir ir para a área e para o lugar que você gosta”, destaca.
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Às pessoas diagnosticadas com TEA, sugere que escolham um curso com o qual tenham mais afinidade. “É um passo de cada vez. Não precisa cursar todas as cadeiras como eu. Se tu não consegue fazer tantas, começa com uma cadeira só e vai se adaptando. E se realmente quer isso, você tem que se esforçar bastante antes e deixar um pouco de lado o medo e as tensões. Porque, no fim das contas, vale a pena.”
Escolaridade
Das 33.169 pessoas com Ciptea no Estado, 25.359 (76,45%) frequentavam algum nível de escolarização no momento da coleta dos dados. Outras 7.699 (23,21%) informaram não estar frequentando a escola. Na avaliação presente no estudo, os números evidenciam uma taxa geral de matrícula relativamente elevada.
A análise também destaca a relação entre idade e matrícula. Os dados indicam maior índice de escolarização na faixa de 4 a 15 anos (88,61%). Entre as crianças de 6 a 7, ela alcança 98,34%. A partir dos 16 anos, Constatou-se uma diminuição progressiva na quantidade de pessoas matriculadas.
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Foi possível observar uma forte concentração na educação básica – incluindo Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio – entre a maioria dos autistas que declararam estar na escola em 2025 no Estado. Somente a Educação Infantil concentra 45,56% do total de matriculados, o que representa 11.553 crianças.
O Ensino Fundamental é a segunda etapa com maior número de alunos. São 11.748, chegando a 46,33% dos matriculados. Já o Ensino Médio apresenta a menor taxa: 4,6% ao todo, ou seja, 1.167 estudantes. De acordo com a pesquisa, os dados reforçam a necessidade do fortalecimento de políticas de permanência e acompanhamento escolar.
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