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LUIS FERREIRA

Enquanto alguém acreditar

Se for possível alguma “torcida” na guerra entre Israel e o Hamas, que seja para tudo acabar o quanto antes. Há civis judeus, palestinos e estrangeiros mortos ou reféns. Óbvio que bombardear áreas residenciais em larga escala significa matar famílias, inclusive crianças; as bombas não diferenciam quem é terrorista e quem não é. Até ontem (quinta-feira) eram cerca de 1.500 mortos no lado palestino e 1.300 em Israel.

Não sou especialista em Oriente Médio, então não vou dar pitacos sobre razões e desrazões no conflito entre árabes e israelenses. O que eu sei? Restrinjo-me a lamentar o maniqueísmo tolo, a romantização de ações terroristas (sim, isso ainda existe) e as relativizações que justificam qualquer violência – tudo depende de quem a pratica e quem a sofre. Ataque indiscriminado a civis é terrorismo. Ponto. Nunca vi um bombardeio “cirúrgico” que não matasse os pacientes.

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Quando tudo começou? Há muito. Em 2002, o cineasta israelense Amos Gitai lançou o filme Kedma. É a história de imigrantes judeus que chegam à Palestina em 1948, pouco antes da criação de Israel, a bordo do navio Kedma. Muitos são sobreviventes do Holocausto e querem reconstruir suas vidas. Mas após o desembarque, quase de imediato, entram em confronto sangrento com árabes residentes. O Estado nasce sob a marca da guerra.

E gerações vêm ao mundo com essa herança. A produção palestina Paradise Now, de 2005, atualizou o embate. Dois jovens desempregados são recrutados para um atentado em Tel Aviv, capital de Israel, como homens-bomba. Ao mesmo tempo que se encorajam para o que veem como sacrifício “justo”, enfrentam dúvidas: vale a pena? Só a morte serve como resposta?

Penso que a arte (como o cinema), se não nos faz entender, ao menos contribui para ampliar a percepção do que não é parte de nossa experiência direta. Pode lançar pontes em meio a abismos. A Banda (2007) trata disso. Músicos árabes e moradores israelenses são forçados a conviver por um dia. Nunca se viram, mas a desavença histórica é uma muralha. Os espíritos, contudo, irão se desarmar. Há esperança, enquanto alguém acreditar que isso é possível. Mesmo agora.

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