Foram 13 anos de espera para os fãs de Deadwood que ficaram órfãos quando a série foi repentinamente encerrada após três temporadas – hoje em dia, é mais raro acontecer de um programa de prestígio assim sair do ar sem conclusão. Mas, enfim, chegou a hora de se despedir dignamente de Al Swearengen (Ian McShane), Seth Bullock (Timothy Olyphant), Trixie (Paula Malcomson) e tantos outros personagens emblemáticos.
Deadwood, o filme, estreia na HBO nesta sexta-feira, 21. “Não sei o que o público vai achar, mas é a versão que David Milch e sua equipe achou que seria um tributo, uma espécie de adeus amoroso”, disse McShane, vencedor do Globo de Ouro por sua interpretação na série, em entrevista ao jornal O Estado de S Paulo. O ator inglês é quase tão sem papas na língua quanto seu personagem, o dono do bar da pequena cidade na Dakota do Sul, no século 19. Ele só não sai por aí chamando ninguém de “cocksucker”, cuja tradução mais leve seria “sacana” – a não ser que peçam. “Nesses anos todos, as pessoas se mostraram muito educadas e não me chamam disso, não. Agora, o que eu gravei de mensagem para irmãos e cunhados usando esse palavrão…”
A história é retomada dez anos depois dos eventos do último episódio. Quase tudo continua como antes em Deadwood, a não ser pelo progresso. É ele que traz de volta à cidade o terrível George Hearst (Gerald McRaney), que quer instalar postes de telefonia (e lucrar com isso, claro). Além de rico, ele agora está ainda mais poderoso, como senador pela Califórnia
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Deadwood pode se passar no Velho Oeste de 1870, mas sempre foi um comentário sobre a origem violenta dos Estados Unidos, com reflexos na realidade atual. Não seria diferente agora. “O filme é sobre a passagem do tempo e como a mudança vai causar conflito nessa comunidade, como ela vai lidar com essa transformação e se dirigir ao futuro com algum otimismo”, disse Timothy Olyphant. “Para mim, pareceu uma história muito moderna, do tipo que a gente está lendo nos jornais, sobre uma época de mudança, o medo que o desconhecido causa, e a volta de fantasmas do passado.”
Olyphant confessou ter hesitado quando os planos de voltar ao mundo de Deadwood começaram a se concretizar. “Adoro ir às reuniões da turma do colégio, mas não quero repetir o ensino médio, sabe como é? Queria entender qual o valor que esse exercício teria”, disse. No fim, o roteiro de David Milch, com os mesmos diálogos elaborados, shakespearianos, o convenceu. É essa razão também, pensa o ator, que fez com que os fãs da série jamais a abandonassem. “Ele criou personagens inesquecíveis, que não se consegue tirar da cabeça. E tem curiosidade sobre todo o mundo que aparece na tela, tenha uma fala ou seja o astro da série”, afirmou Olyphant. Todos os amados personagens estão de volta: além de Al, Bullock e Trixie, que está grávida, seu marido Sol (John Hawkes), o antigo sub-xerife Charlie Utter (Dayton Callie), a ex-prostituta Joanie Stubbs (Kim Dickens) e Calamity Jane (Robin Weigert), além da viúva e hoje banqueira Alma (Molly Parker). Quem não conhece a série não precisa se preocupar, porque dá para acompanhar a história com a ajuda de breves flashbacks. “Eles poderiam ter feito uma história sobre Al e Seth, sei lá, mas Deadwood sempre foi sobre todo o mundo na história”, disse Ian McShane.
Por isso demorou para acontecer, era preciso ter a história certa, mas também o elenco disponível. “Mas todo o mundo quis voltar”, disse McShane. “Foi uma experiência surreal porque parecia que nunca tínhamos partido.” Tanto que mesmo o outrora hesitante Timothy Olyphant amou a experiência. “Foi muito mais bacana e emocionante do que eu previa”, disse. “E eu acho que todos se sentiram assim. Tanto que acredito que, se propusessem uma continuação, todos topariam.” Não há nenhum plano quanto a isso, mas não custa torcer.
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