Depois de um ano de muito trabalho, correrias, algumas frustrações e conquistas, a expectativa de férias próximas é motivo de alegria e de ânimo, fazendo a pessoa buscar suas últimas forças para deixar tudo em ordem e repassar para alguém – algum substituto ou o próprio chefe – as instruções necessárias ou algumas dicas e macetes particulares para bem conduzir as tarefas em sua ausência. Há casos, também, em que, por receio de perder o posto, de achar que só ele pode realizar determinada tarefa ou pra não deixar evidente que não faz tanta falta, muitas pessoas saem de férias, trancando tudo a sete chaves. O cliente é obrigado a contentar-se com a surrada desculpa de que “fulano está de férias…”
O ideal é que as férias sejam programadas, não só o período e a forma de sua utilização, mas, principalmente, a parte financeira; essa teria que se planejada de três a seis meses antes de sair. Para ficar de pernas para o ar, não se pode dar folga para controle dos gastos. Não tem graça retornar com um monte de contas a pagar, pois é sabido que as férias aumentam – e muito – as despesas. Por isso, antes de sair de férias, fazer um diagnóstico da situação financeira, 1) verificando sua realidade: identificar o que tem de compromissos financeiros já assumidos; 2) reservar dinheiro para os gastos imprevistos; 3) gozar férias dentro de sua realidade financeira e padrão de vida; 4) estabelecer limites de gastos, com o conhecimento e envolvimento dos familiares.
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Além do descanso, das viagens, dos passeios, das brincadeiras, férias em família também podem ser usadas para falar de dinheiro, discutindo algumas questões como: será que o dinheiro vai ser suficiente? Se gastarmos com alguma coisa hoje, teremos dinheiro para o passeio de amanhã? É possível aproveitar este tempo para criar uma consciência financeira nas crianças e nos adolescentes, ensinando-os a administrar os gastos em viagem, de maneira prazerosa; antes de iniciar o período de férias, criar uma planilha de gastos, delegando o seu preenchimento aos filhos, se já tiverem idade pra isso, com o que já aprendem a rotina de anotar todos os gastos, diariamente, pelo menos durante as férias.
Mesmo tendo férias mais longas, em comparação a trabalhadores de outros países, os brasileiros demonstram dificuldade para se desligar do trabalho; numa pesquisa, 60% dos entrevistados responderam checar seus e-mails profissionais regulamente, durante as férias. Aliás, algumas empresas até exigem que o funcionário mantenha-se conectado, ainda mais se dispõe de celular corporativo. Já alguns donos de negócios, além do celular, com câmaras instaladas nas dependências de suas empresa, acompanham permanentemente o que acontece lá dentro. Existem, também, aquelas pessoas que aproveitam as férias para reciclar-se ou aperfeiçoar-se profissionalmente, participando de cursos, treinamentos, etc. Tem, também, quem aproveita as férias para fazer alguma cirurgia, principalmente estética, para retornar repaginado às atividades. Há quem embarca em excursões desgastantes, acordando cedo e dormindo tarde para aproveitar todos os itens, incluídos no pacote. Na volta, essas pessoas estão, fisicamente, esgotadas, precisando de férias… Numa escolha perigosa, há quem venda dias de descanso para fazer dinheiro. Mesmo estando no limite físico e emocional – com baixa produtividade e qualidade, atrito com colegas, intolerância, passividade – a pessoa acha mais importante, por exemplo, pagar as dívidas. E tem pessoas que, simplesmente, não conseguem tirar férias. Acreditam que alguém vai chamar a qualquer momento, pedindo orientação ou ajuda para algo que só elas podem resolver. Talvez , um dia, contra a sua vontade, é claro, vão ter tempo para tirar férias que podem ser temporárias, internadas em algum hospital, ou permanentes num jazigo de cemitério.
As atividades diárias, geralmente cheias de rotinas, metas e cobranças, concorrem para as pessoas se tornarem impacientes, intolerantes, desmotivadas, “sem gás”. Por isso, pessoas normais evitam ficar longos períodos sem férias. Fazer uma parada e sair de férias, nem que seja por períodos curtos, alivia a pressão do dia-a-dia, permite reduzir a lista de “coisas a fazer” e ficar mais tempo com familiares e amigos, descansa e, certamente, desperta a criatividade, o que melhorará o desempenho, na volta ao trabalho ou aos estudos. Uma série de estudos científicos tem falado da importância de descansarmos para melhorarmos nosso rendimento. As férias não precisam ser de um mês ou quinze dias para serem benéficas. Um estudo da universidade de Tampere, na Finlândia, demonstrou benefícios iguais entre férias de cinco e dez dias e um mês inteiro. A maior empresa de férias sobre o mar do mundo, a Royal Caribbean, desenvolveu uma campanha de incentivo à utilização de férias, reforçada com dados que mostram que essas pessoas, quando voltam, são 82% mais produtivas, além de viverem mais e melhor. Então, não sejamos negligentes com nós mesmos: férias é um assunto sério e é bom para todo mundo. E o mais importante: a diversão não depende apenas do dinheiro, e sim das pessoas que somos e com quem estamos nesses momentos.
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