Saúde e Bem-estar

Enchentes: quais são os riscos para a saúde?

As enchentes que arrasaram inúmeros municípios gaúchos nos últimos dias deixaram muito mais do que um rastro de destruição. Deixaram também o alerta em torno da saúde, especialmente de quem teve contato com as águas contaminadas.

O Centro Estadual de Vigilância em Saúde, da Secretaria Estadual da Saúde (SES), publicou um Guia Básico para riscos e cuidados com a saúde após enchentes, como forma de alertar a população para as doenças transmitidas pelo contato com a água das inundações; as doenças relacionadas ao consumo de água ou alimentos contaminados, as condições sanitárias em abrigos; a ocorrência de lesões, tétano acidental e choques elétricos; acidentes com animais peçonhentos; problemas respiratórios e alergias ligadas à presença de umidade e mofo no ambiente; e para as doenças vinculadas à higiene pessoal e alimentar precárias.

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Segundo a médica infectologista Manoela Vaucher, de Santa Cruz do Sul, é importante que a população esteja ciente das doenças mais frequentes, seus sintomas e como se proteger. Ela explica que a ocorrência mais comum são quadros de diarreia, hepatite A, leptospirose e tétano. A médica observa ainda os principais sintomas dessas enfermidades, formas de prevenção e eventual profilaxia. Confira um resumo de cada uma delas.

Médica infectologista Manoela Vaucher

Principais doenças

LEPTOSPIROSE

É uma doença infecciosa febril aguda e transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados. O contágio pode ocorrer a partir da pele com lesões ou mesmo em pele íntegra se imersa por longos períodos em água contaminada, além de por meio de mucosas. Após o contato com a bactéria, pode-se levar até 30 dias para manifestar os sintomas, embora a média seja de sete a 14 dias.

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Os primeiros sinais são febre, calafrios, dor muscular, olhos vermelhos, vômito, diarreia, aumento do baço e fígado. A pele amarelada também é um sintoma característico.

Além disso, podem ocorrer manifestações mais graves, com perda de função renal e hemorragia. Estudos demonstram a eficácia de profilaxia para as pessoas que tiveram exposição de alto risco de infecção. A indicação é para equipes de socorristas de resgate e voluntários, com exposição prolongada à água de enchente sem equipamento de proteção adequado; pessoas em situações de risco elevado que ficaram submersas, ingeriram água potencialmente contaminada ou tiveram contato com a água e tenham lesões cortocontusas ou lacerações na pele. Todos os pacientes devem passar por avaliação médica antes de receber a profilaxia.

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TÉTANO

É transmitido por uma bactéria que vive no solo e materiais em decomposição. É um erro pensar que só se desenvolve tétano através de ferimentos com metais, pois essa bactéria pode se introduzir em qualquer ferimento superficial ou profundo por meio de material sujo. A presença de tecidos desvitalizados e corpos estranhos facilita o seu desenvolvimento. Após o ferimento, os sintomas surgem entre três e 21 dias. Os pacientes que apresentam manifestação precoce têm pior prognóstico, e uma pessoa com tétano não o transmite para outra.

Os sintomas iniciais são febre baixa, dificuldade de abertura da cavidade oral, contraturas musculares e rigidez abdominal. Já os tardios incluem disfagia (dificuldade de deglutição), rigidez cervical e hipertonia em músculos (músculos hipercontraídos). O diagnóstico é clínico, e o paciente deve ser internado para receber o tratamento adequado.

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As formas de prevenção incluem a limpeza dos ferimentos com substâncias antissépticas, a remoção de corpos estranhos ou tecidos desvitalizados, manter em dia a vacina antitetânica (a cada dez anos). Em caso de ferimentos profundos, é necessário realizar uma dose de reforço da vacina, caso a última dose tenha sido feita há mais de cinco anos. As profilaxias sempre devem ser avaliadas por um médico.

HEPATITE A

No momento de enchentes, a principal forma de transmissão se dá por ingestão de alimentos e água contaminados. No entanto, o contágio também pode ocorrer de pessoa a pessoa, por isso a higiene de mãos com água e sabão é fundamental. Depois do contato com o vírus, os sintomas aparecem no período de 15 a 45 dias. Alguém doente pode transmitir a hepatite A (o período de transmissão é de duas a três semanas antes do início dos sintomas até o fim da segunda semana da doença).

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As manifestações típicas incluem náuseas, vômitos, anorexia, febre, mal-estar e dor abdominal. Também podem surgir quadros de urina escura, pele amarelada e fezes claras. A vacina contra hepatite A está prevista no calendário vacinal do SUS.

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DIARREIA

Os quadros de diarreia podem ocorrer a partir da ingestão de água ou alimentos contaminados por vírus ou bactérias. É importante atentar para a higiene das mãos antes do preparo ou consumo de alimentos. A hidratação com água é fundamental no tratamento. A maioria dos casos de diarreia é viral. O uso de antibióticos pode ser recomendado em algumas situações, mas deve ser avaliado em consulta médica.

ORIENTAÇÕES

Esteja sempre atento às orientações das autoridades e busque assistência médica se necessário. Em caso de qualquer sintoma suspeito, busque atendimento na unidade de saúde mais próxima. Os clientes da Unimed VTRP podem contar com o Pronto Atendimento Virtual 24h Unimed para casos leves e renovação de receitas sem precisar se deslocar pela região neste momento. O contato pode ser feito pelo endereço unimedvtrp.com.br/pavirtual.

Unimed VTRP divulga informações para orientar comunidades dos vales

As enchentes representam não apenas um desafio para a infraestrutura das cidades, mas também para a saúde pública. O contato com águas contaminadas traz uma série de preocupações que precisam ser enfrentadas com cuidado e atenção. Por isso, a partir da campanha Toda Força Vale, as equipes da Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo (VTRP) compilaram as principais informações sobre riscos à saúde para fornecer orientações às comunidades.

Em quatro tópicos, são explicados os principais riscos à saúde, as ações imediatas para limpeza, as principais doenças e cuidados e um passo a passo para fazer a limpeza da caixa d’água. As primeiras orientações dizem respeito às enfermidades, já que a exposição às enchentes pode aumentar o risco de contrair leptospirose, hepatite A e doenças diarreicas.

Além disso, há risco de outros acidentes, tanto com lesões físicas quanto com animais peçonhentos e até mesmo choques elétricos. Outro ponto importante a ser observado são os problemas respiratórios e as alergias, que podem ser desencadeados pela presença de umidade e mofo.

As ações imediatas para limpeza devem incluir o uso de luvas e botas de borracha para proteger a pele do contato com água contaminada. Também se recomenda o descarte de alimentos e remédios que entraram em contato com a água das enchentes, lavar utensílios domésticos com uma mistura de 20% de água sanitária e 80% de água potável, bem como limpar pisos, paredes e outros objetos com água e sabão, seguido de desinfecção com água sanitária.

Outras dicas importantes

A supervisora médica da Atenção Básica de saúde de Santa Cruz do Sul, Clauceane Venzke Zell, observa que é preciso ficar atento aos sintomas iniciais da leptospirose, pois a doença pode evoluir para um quadro mais grave. Ela reforça que os sinais característicos são dor na panturrilha e febre alta. Nos quadros mais graves, no entanto, os sintomas são pele amarelada, urina escura e fezes mais claras.

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Outro problema comum, em casos de enchente, são as conjuntivites, que causam vermelhidão e dor nos olhos, por conta da inflamação da conjuntiva. Quanto aos acidentes envolvendo animais peçonhentos, a médica sugere que se tente identificar qual é o animal, para facilitar o tratamento. As reações provocadas podem ser localizadas, como uma alergia ao redor da picada, até mais sérias, como choque anafilático e problemas renais.

PRINCIPAIS CUIDADOS

Leptospirose – Siga os cuidados de limpeza, evite contato com água contaminada e cubra cortes ou arranhões com bandagens à prova d’água.
Hepatite A – Mantenha a higiene básica e desinfete objetos e superfícies com frequência.
Acidentes com animais peçonhentos – Utilize botas, calças e luvas ao realizar a limpeza e procure imediatamente assistência médica em caso de picadas.
Tétano acidental – Use calçados e luvas adequados e esteja atento a sintomas, como febre e espasmos musculares. Procure atendimento imediato em caso de sintomas suspeitos.
Doenças Diarreicas – Evite o consumo de água contaminada e mantenha-se hidratado com água potável durante a limpeza.

Como limpar a caixa d’água
Se pegou água da enchente, siga estes passos:
1) Feche a água e inicie o esvaziamento.
2) Restando um palmo de água no fundo, feche a saída com um pano e use a água que restou para efetuar a limpeza, evitando que a sujeira desça pelo cano.
3) Com luvas nas mãos, esfregue as paredes e o fundo da caixa utilizando panos, escova ou esponja.
4) Descarte essa água suja
5) Deixe entrar água na caixa até encher e acrescente 1 litro de água sanitária para cada 1000 litros de água.
6) Abra as torneiras deixe escoar um pouco de água para que a canalização seja preenchida com a solução clorada.
7) Aguarde por duas horas para que ocorra a desinfecção.
8) Esvazie totalmente a caixa, abrindo todas as torneiras. Essa água poderá ser utilizada para a limpeza do domicílio.
9) Tampe a caixa para que não entrem animais, insetos ou sujeira.
10) Abra a entrada de água.

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Bruno da Silveira Bica

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Bruno da Silveira Bica

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