Cenário de guerra, caos, inacreditável, uma barbaridade, nunca vi uma coisa assim, será o fim do mundo? O que fizemos a Deus para que isso acontecesse? Eu não consigo acreditar! Pelo amor de Deus!
Estas são parte das expressões que se tornaram onipresentes desde a eclosão do maior desastre natural do Brasil, consequência das enxurradas que varreram o Rio Grande do Sul neste mês de maio. Na Serra e no Vale do Taquari, trata-se da repetição do terceiro evento semelhante no espaço de sete meses. As consequências materiais são visíveis, embora sejam difíceis de quantificar e de mensurar em dinheiro. Mas o que será do emocional das pessoas impactadas pelas enchentes?
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A mobilização solidária de todo o País e de boa parte do mundo tem sido proporcional à devastação que atingiu o Estado neste primeiro semestre de 2024. É comovente vislumbrar a força das iniciativas espontâneas de arrecadação para angariar todo tipo de bens necessários à assistência dos milhões de flagelados. Mas como será depois que águas voltarem ao curso natural, a mídia abandonar as áreas atingidas, as autoridades esquecerem do Rio Grande do Sul e as verbas minguarem?
Serão anos, talvez décadas, em um esforço coletivo de reconstrução do Rio Grande do Sul. E talvez sem o condão de recuperar tudo o que a água levou. Além de todas as consequências da tragédia, para outubro estão marcadas as eleições municipais. Em um mundo ideal – muito diferente e distante do mundo real – deveríamos adiar o pleito para concentrar forças na união das comunidades e para canalizar todo dinheiro no conserto da colossal destruição patrimonial que flagelou os atingidos. Mas vocês acreditam, sinceramente, que isso seria possível de realizar?
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O ápice do desastre potencializa a demagogia, cuja face mais visível se dá com a revoada incansável de ministros, secretários e “aspones” às zonas atingidas. Os sorrisos artificiais, exibidos diante das luzes da TV, que brilham nas entrevistas coletivas, arrefecem assim que a mídia for embora. Duvidam?
Em sete meses desde as enchentes de 2023, 28 minúsculas casas provisórias foram entregues no Vale do Taquari (em Arroio do Meio, minha terra natal), graças ao esforço de mobilização do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul. Ou seja, é de zero a quantidade de residências entregues por parte dos governos federal e estadual. Vocês acreditam que a morte de mais de 50 pessoas foi incapaz de sensibilizar os donos do cofre?
A indagação ao final de cada parágrafo é um protesto pelo uso político desta tragédia inédita. A maior tragédia, talvez, seja a falta de caráter de quem é (muito bem) pago para garantir nossas vidas.
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