Após dois anos sem ser apresentada, em razão do distanciamento social, a Paixão de Cristo de Rio Pardo volta a integrar a programação da Semana Santa nesta sexta-feira,15. O espetáculo, criado há 29 anos, é realizado pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Turismo, Cultura, Juventude, Esporte e Lazer, com patrocínio da Corsan. A produção é da Andarilhos Companhia Teatral – grupo de teatro independente do município. A encenação envolve atores da comunidade, que vêm se dedicando aos ensaios e preparativos desde o início de março.
Além de marcar o retorno do espetáculo a apresentação deste ano traz novidades. A principal delas é o local da realização do evento. Depois de sete anos, a Paixão de Cristo voltará a ser encenada no Centro de Eventos Forno de Cal, uma arena a céu aberto localizada nas proximidades da Praia dos Ingazeiros. Ao longo de anos, o espaço havia sido utilizado para realização do espetáculo, mas desde 2016 o evento vinha ocorrendo em outros locais. O último deles foi a praça em frente à Igreja Matriz.
Diretor do espetáculo desde 2014, Dmitri Rodrigues, de 49 anos, foi um dos atores que encenou Jesus Cristo entre os anos de 1999 e 2006. Assim como para outros integrantes da encenação, entende que o retorno para o Forno de Cal possui significado emocional. “Pessoalmente, significa reencontrar o local onde eu aprendi a fazer esse espetáculo. Foram sete anos como Jesus Cristo neste espaço. E foi onde eu descobri como se faz a Paixão de Cristo. Para o espetáculo, voltar para o Forno é retomar a grandiosidade. O cenário se agiganta aqui no Forno. Ele dá uma dimensão muito maior e acho que esse é o grande ponto alto. Voltar para cá, emocionalmente, é muito importante”, afirma.
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Outra novidade neste ano é que Jesus Cristo será vivido por outro ator. O papel que vinha sendo encenado por Jones Mallet passará agora para Eduardo Ezequiel, de 28 anos. O ator, que já esteve em nove edições da Paixão de Cristo, iniciou a participação no espetáculo em 2010, como um dos ladrões crucificados ao lado de Jesus. Depois, esteve em outros personagens como João, Judas e Pilatos. Em 2020, chegou a ser selecionado para o papel de Caifás, mas o evento precisou ser cancelado em razão da pandemia do coronavírus. “Todos os papéis que fiz, tanto dentro quanto fora da encenação da Paixão de Cristo, me ajudaram a me desenvolver como ator. Mas, neste ano, o desafio mudou de patamar com a oportunidade que recebi de poder interpretar o protagonista dessa história. Me sinto privilegiado por ter sido escolhido em meio a tantos atores talentosos que temos participando desse projeto”, diz.
Outra marca da encenação que será realizada neste ano é o fortalecimento da presença feminina na história. Pela primeira vez na Paixão de Cristo de Rio Pardo, atores e atrizes terão o mesmo número de papéis a serem encenados. “Dar força aos personagens femininos é algo que já norteia meu trabalho com o espetáculo nos últimos anos, mas finalmente conseguimos apresentar essa história trazendo esse equilíbrio, até mesmo no número de personagens. Isso é realizador, como mulher. As mulheres dessa história não são coadjuvantes para as tramas masculinas. São críticas, têm suas posições, e fortalecem a história como um todo”, detalha a dramaturga e jornalista Letícia Mendes.
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Uma das personagens que ganhou mais força no texto é Maria Madalena, vivida pela atriz Jéssica Alves, de 23 anos. Há sete anos no elenco da Paixão de Cristo, já havia encenado outros papéis, como Joana e Herodíades. Considera, no entanto, que neste ano enfrenta o maior desafio com o papel de Madalena. “Esta história sempre foi contada por homens para homens e a Letícia nos traz um olhar sensível sobre o que as mulheres pensavam, como lidavam com as questões da época e como enfrentar essas questões em um ambiente hostil para o sexo feminino. É incrível poder fazer parte de um espetáculo maravilhoso que se renova a cada ano e que cada vez mais traz voz para nós, mulheres”, avalia.
A estudante Daryane Silveira, de 21 anos, que faz parte da Paixão de Cristo desde 2016, e pela terceira vive o papel de Cláudia Prócula, acompanhou a transformação e o crescimento da presença feminina. Ela também já esteve em outros personagens como Verônica e Madalena. “É impossível deixar de falar o quão feliz me sinto por ver que cada vez mais mulheres estão podendo contar essa história. O texto da Paixão de Cristo era contado em sua maioria por homens, onde nós mulheres éramos apenas o ponto emocional e frágil da narrativa. Hoje vemos personagens que, apesar de suas dores, demonstram o quão fortes são”, diz.
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Entre os papéis femininos, também há novidades, como a personagem Rute, criada para fortalecer a cena do apedrejamento de uma mulher adúltera. Nessa nova narrativa, uma intercede pela outra, enfrentando os sacerdotes e tentando impedir o desfecho trágico. Lívia Maria Silveira Aguiar, de 21 anos, que interpretará Rute, acredita que a cena deverá emocionar o público na sexta-feira. “Mostra força, coragem e resistência, o que representa muitas de nós. A personagem me encantou e a experiência de poder vivê-la está incrível! Estou ansiosa para subir no palco e mostrar Rute a todos”, diz a jovem atriz.
Atualmente, o grupo, formado por cerca de 60 atores, trabalha nos últimos ensaios antes da peça, na preparação de figurinos e cenários. Também está sendo finalizada a edição do áudio do espetáculo, que foi gravado no Estúdio Azul, em Rio Pardo, na semana passada. Na noite desta quinta-feira, 14, será realizado um ensaio geral e a apresentação ocorre na sexta-feira, 15, às 20h30.
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