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FALANDO EM DINHEIRO

Empréstimos de dinheiro

“Até que se tenha recebido, beija-se a mão de quem empresta; com voz humilde, fazem-se promessas; mas, chegando o tempo de restituir, pedem-se prazos; só se tem palavras pesarosas e queixas; e toma-se como pretexto a dificuldade da época” – Livro do Eclesiástico 29-5 e 6.

É muito comum que as pessoas emprestem dinheiro a outras, por mil e um motivos. Talvez o principal seja não saber dizer “não”. Pode ser, também, por receio de parecerem egoístas e grosseiras, de perderem o vínculo e a amizade ou, ainda, compadecidas com a situação, sentirem-se na obrigação de ajudar aquela pessoa em dificuldade.   

Muitas pessoas costumam pedir dinheiro emprestado a familiares, amigos, colegas de trabalho etc para resolver alguma situação pontual. A pandemia de Covid-19 deixou muitas pessoas com salários reduzidos, desempregadas ou com os negócios “quebrados”. A possibilidade de recorrer às pessoas próximas para tomar empréstimos urgentes é, às vezes, a única saída para resolver pendências financeiras.

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Além de negociação inexistente ou ser menos rigorosa do que aconteceria num banco ou financeira que, muitas vezes, fecham as portas para quem está com dificuldades financeiras ou, pior ainda, com o nome em cadastro de pessoas com restrições de crédito, na maioria dos casos, o empréstimo entre pessoas próximas é realizado apenas com a emoção e o coração que, como se sabe, tem razões que a própria razão desconhece. Raramente é formalizado algum contrato, estabelecendo condições básicas, como juros e prazo de vencimento; garantias, como o aval de um terceiro ou algum bem, não são nem cogitadas.

Onde se viu, pensam alguns, exigir essas formalidades num simples empréstimo entre pessoas conhecidas e, pior ainda, cobrar juros? Nem pensar em incluir o custo de oportunidade – o que poderia fazer ou ganhar com o dinheiro emprestado. Esses e outros cuidados nesse tipo de empréstimo, embora eventualmente constrangedores, podem evitar “saias justas” ou rompimentos de laços familiares e de amizade no futuro.

Alguns, com muita responsabilidade, devolvem o dinheiro emprestado, no prazo combinado ou até antes; outros, precisam ser lembrados, quando também providenciam o pagamento; e tem aqueles que, simplesmente, desaparecem, não atendem mais aos recados, mensagens e ligações telefônicas, ameaçando até processar o credor por estar cobrando a conta, numa demonstração evidente de que não tem a intenção de pagar o empréstimo tão cedo, se é que o pagará algum dia.

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É preciso ter em mente que cobrar não é feio, mas, há jeito certo para fazer isso e não criar um “climão”. Júlia Lewgoy, da revista Exame, dá algumas dicas de como cobrar esses empréstimos, evitando prejudicar os respectivos relacionamentos:

  1. Estabelecer um prazo: se, na concessão do empréstimo, foi combinada uma data para devolver o dinheiro, em princípio ,basta lembrar o devedor; mas, se não foi acertado nada, primeiro negociar uma data para que o devedor possa se organizar e realizar o pagamento;
  2. Sentir-se à vontade para cobrar: geralmente, não é fácil, mas o credor não deve constranger-se em pedir de volta o seu dinheiro, vez que o amigo, parente ou colega sentiu-se à vontade para pedir o empréstimo;
  3. Não deixar passar muito tempo: o tempo torna a cobrança ainda mais constrangedora; o devedor pode alegar que achou que o empréstimo não fazia falta a quem o concedeu ou tinha sido esquecido;
  4. Cobrar com sinceridade e empatia: muitas vezes, o credor já lembrou ao devedor do empréstimo, telefonou, mandou mensagens, etc., começando a perder a paciência, o que pode levá-lo a ser mal-educado, antipático, grosso, eventualmente até falando mal do devedor, expondo-o a situação vexatória  ou até incorrendo em infração legal, como, por exemplo, cobrar no local de trabalho; é recomendável conversar de maneira educada e ser sincero ao explicar porque quer o dinheiro de volta; lembrar ao devedor o custo de oportunidade, quer dizer, o que está perdendo por não dispor do dinheiro, emprestado por um curto tempo e que, agora, está demorando para retornar;
  5. Dar indiretas bem-humoradas: principalmente quando o valor envolvido é menor, sugerir que o devedor pague um churrasco, uma cervejada ou outra despesa qualquer; “pagar a dívida dói menos quando a pessoa não vê o dinheiro e ele é simbolizado por algo”, ensina Renato Azevedo, professor do MBA Fipecafi.

Se, após vários contatos, não receber qualquer valor em pagamento da dívida, é possível considerar que, verdadeiramente, o devedor não tem dinheiro ou, simplesmente, não quer pagar. Nesta situação, avaliar a possibilidade de contratar uma empresa terceirizada para conduzir a cobrança, libertando o credor de um trabalho “chato”, o que, em contrapartida, tem um custo pelo serviço que pode chegar a 50% do valor a receber, mas ainda é melhor do que não receber nada. Antes de qualquer providência mais séria, entretanto, e levando em conta o valor da dívida, verificar se vale a pena esse processo, ainda mais se o devedor for um parente ou amigo, porque a medida, certamente, vai impactar negativamente a relação.

Por fim, lembrar-se que os possíveis problemas decorrentes de empréstimos entre familiares, amigos, colegas etc são antigos, descritos até na Bíblia, no Livro do Eclesiástico 29-5 e 6, quando diz que, na hora de pagar, as pessoas alegam qualquer coisa para justificarem a quebra de compromisso. Por isso, se alguém puder ajudar e achar que o relacionamento é muito mais importante que o valor envolvido, simplesmente doe parte ou todo o dinheiro pedido.

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