Três meses antes da deflagração da operação que levou à prisão do prefeito de Rio Pardo, Rafael Reis Barros (PSDB), uma reportagem da Gazeta do Sul revelou uma série de conexões suspeitas entre o Hospital Regional do Vale do Rio Pardo e empresas que se tornaram alvo da investigação da Polícia Federal.
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A reportagem foi publicada em meio às repercussões do escândalo que ficou conhecido como Caso São Bento. Segundo a denúncia, que veio à tona no início de fevereiro, a Associação São Bento, para vencer uma licitação para administração de creches municipais em Florianópolis (SC), apresentou atestados de capacidade técnica falsos, incluindo um emitido pela Prefeitura de Rio Pardo. À época, Barros negou as irregularidades e afirmou que a entidade apenas prestou um serviço de consultoria ao Município.
Porém, com base em dados que incluíam de registros da Receita Federal a perfis de redes sociais, a Gazeta do Sul constatou que as relações da São Bento com Rio Pardo eram mais profundas e envolviam também o Instituto de Educação e Saúde Vida (Isev), organização investigada por supostamente utilizar a São Bento como “laranja” para desvio de recursos públicos, e a Associação Brasileira do Bem-Estar Social, Saúde e Inclusão (Abrassi), que responde pela gestão do Hospital Regional há dois anos.
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Pelo menos quatro empresas quarteirizadas pela Abrassi para prestar serviços junto à casa de saúde possuem sócios ligados à São Bento. As ligações incluem um servidor da Prefeitura de Florianópolis e um alto dirigente da Abrassi, que também já atuou no Isev.
LEIA A REPORTAGEM: Entidade suspeita tem ligações com Rio Pardo
O QUE A GAZETA APUROU
1) Com sede no Bairro Petrópolis, em Porto Alegre, a Associação São Bento (ASB) está no centro de diversas denúncias de irregularidades. No ano passado, uma investigação do Ministério Público de Dois Irmãos, no Vale dos Sinos, apontou que o Instituto de Saúde e Educação Vida (Isev), também de Porto Alegre, licitado pela Prefeitura para administrar o hospital do município, desviou R$ 24 milhões em recursos públicos entre 2017 e 2018 para a conta bancária da São Bento para evitar pagamentos a credores. O MP apontou que a São Bento e o Isev seriam administrados pelas mesmas pessoas.
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2) No início de fevereiro, a Prefeitura de Florianópolis (SC) rompeu o contrato que havia assinado com a São Bento para gestão de cinco creches municipais. O rompimento ocorreu após o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) denunciar que, para vencer a licitação, a São Bento apresentou atestados de capacidade técnica falsos. O caso agora também está sendo investigado pelo MP.
3) Um desses atestados foi emitido pela Prefeitura de Rio Pardo. Assinado pelo prefeito Rafael Reis Barros (PSDB), o documento informa que a São Bento seria a responsável pela administração de uma escola de educação infantil no município, com 75 crianças matriculadas. Não há, no entanto, qualquer registro de contrato do governo com a entidade. Questionado, Barros alegou que a associação prestou uma consultoria sobre a gestão educacional do Município pela qual receberia R$ 2 mil.
4) As ligações entre a São Bento e o município de Rio Pardo, porém, envolvem também o Hospital Regional do Vale do Rio Pardo, que desde dezembro de 2017 é administrado pela Associação Brasileira do Bem-Estar Social, Saúde e Inclusão (Abrassi), entidade com sede em São Paulo. A Gazeta apurou que pessoas ligadas à São Bento e ao Isev atuam também na Abrassi e em empresas que prestam serviços junto ao hospital.
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5) Uma dessas pessoas é Fabiano Pereira Voltz, cujo nome consta como administrador da São Bento em um documento fornecido pela Prefeitura de Florianópolis ao Sintrasem. Voltz, porém, também foi coordenador e diretor do Isev por 10 anos e é o atual superintendente da Abrassi. À reportagem, ele alegou que somente prestou um serviço à São Bento e que não possui mais vínculos com a entidade.
6) Pelo menos quatro empresas quarteirizadas pela Abrassi para atuar no hospital também têm integrantes ligados à São Bento e ao Isev. É o caso da Lavtrim Serviços de Apoio a Edifícios Eireli, que presta serviços de limpeza e gestão da lavanderia da casa de saúde. Dentre os sócios da empresa, está Flávia Feltrin Garcia, também apontada como administradora da São Bento em Florianópolis.
7) Flávia divide a sociedade da Lavtrim com Juliano Becker, que também é proprietário de outra empresa contratada pela Abrassi, a Solusan Soluções em Serviços Ambientes Para Edifícios Ltda. A Solusan presta serviços de sanitização no hospital. Um detalhe chama a atenção: de acordo com os registros da Receita Federal, a Lavtrim e a Solusan foram abertas no mesmo dia (25 de abril de 2019) e ambas em Porto Alegre, porém em endereços diferentes.
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8) As ligações envolvem ainda outras duas empresas. Uma delas, a Celeste Alimentação Eireli, que tem sede em Florianópolis e é a fornecedora da alimentação do Hospital Regional, tem como proprietário Michel Becker, irmão de Juliano Becker. Outra é a Terraprime Construções, com sede em São José (SC), que está em vias de ser contratada pela Abrassi para a construção da UTI adulto do hospital. A construtora tem como sócio-administrador Julio Cesar da Silva, que desde 2017 ocupa um cargo em comissão na Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis e no início deste mês foi nomeado para fiscalizar a construção de uma das creches que seria administrada pela São Bento.
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