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Estelionato

Empresa fantasma de Santa Cruz do Sul aplica golpes em vítimas de todo o País

Foto: Alencar da Rosa

Diferentemente do que consta em cadastro na Receita, loja não está na sala 11 de galeria. Espaço não é alugado desde novembro

Concurseiro de carteirinha, Marcos Vinicius Guimarães Silva, de 25 anos, juntou ao longo de meses todo o dinheiro que conseguia para comprar um tablet. O morador de Parauapebas, no interior do Pará, tem como objetivo estudar para passar no vestibular de Enfermagem da Faculdade Canaã dos Carajás, especializada em ciências médicas, que fica no município vizinho de mesmo nome da instituição de ensino. O eletrônico seria um avanço na sua preparação, uma vez que parte dos conteúdos abordados nas provas está em sites de vídeos e apostilas online.

Com o recurso em mãos, pretendia adquirir o aparelho no comércio de sua cidade. Mas uma última olhada nas redes sociais o fez mudar de planos. “Abri o Instagram e, olhando os stories, apareceu um conteúdo patrocinado de uma loja InnBox, de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Vi que o produto estava cerca de R$ 300,00 mais barato que na loja da minha cidade e pensei na possibilidade de fazer a compra. Entrei em contato, pedi vídeos, verifiquei CNPJ, a loja tinha endereço fixo, estava tudo certo. Mal podia imaginar que estava caindo em um golpe”, relatou o jovem.

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No dia 30 do mês passado, Marcos pagou R$ 2.699,00 por um Apple iPad Air, quinta geração, 64 gigabytes, cor verde escuro. Até hoje ele não recebeu o produto ou o estorno do seu dinheiro. O jovem, que nunca tinha ouvido falar de Santa Cruz do Sul, foi vítima de um estelionato praticado por uma empresa fantasma que diz, em seu Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) na Receita Federal, que seu endereço fixo é a loja 11 de uma galeria de Linha Santa Cruz. O caso foi parar na polícia paraense.

“Registrei um boletim de ocorrência e denunciei a situação. Em contato com o homem que se dizia proprietário, ele disse que não poderia devolver o dinheiro, nem emitir nota fiscal, porque eu já havia denunciado o caso e a conta dele estava bloqueada”, comentou a vítima, que foi atrás de mais informações. Marcos Guimarães Silva descobriu, em contato com lojistas da própria galeria de Linha Santa Cruz, que a InnBox, supostamente especializada nas linhas de eletrônicos Apple e Xiaomi, estava aplicando golpes em pessoas de todo o País.

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“Eles me disseram que outros já haviam entrado em contato, relatando a mesma situação. Teve gente que foi até lá para verificar o endereço físico e não achou nada.” No cadastro na Receita Federal e na conta do banco em que foi depositado o dinheiro de Marcos, constam dois nomes de homens, mas nenhum registrado no Rio Grande do Sul.

Nada na sala 11

Passando-se por cliente, a Gazeta do Sul entrou em contato com a suposta empresa por um telefone de divulgação. As chamadas convencionais e por WhatsApp não foram atendidas. Mais tarde, um homem com sotaque de outro estado retornou a ligação. Questionado sobre a disponibilidade de verificar os produtos na loja física, ele disse que não seria possível, pois o estabelecimento passava por reforma fazia “uns três dias”, e no momento realizavam a venda apenas por entrega.

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A Gazeta foi até o ponto, e não localizou o estabelecimento em nenhuma loja do espaço comercial. A 11, que consta como sendo o endereço na Receita Federal, está totalmente vazia. Em um post no Instagram oficial da loja no último dia 21 de junho (nove dias antes do golpe aplicado em Marcos), foi publicada a fachada do suposto endereço, com localização em Santa Cruz do Sul. Um comerciante, que tem uma empresa em frente à sala, contou que outras pessoas já procuraram a InnBox ali e nunca encontraram.

Postagem mostra fachada de loja que nunca funcionou na galeria | Foto: Reprodução

“Antes havia ali na 11 uma distribuidora de medicamentos. Mas desde novembro passado não há nada alugado nesse ponto.” Em conversa com uma lojista da galeria, ela disse que a referida loja nunca existiu ali e provavelmente a vítima tinha caído em golpe. “Esse rapaz não foi o único. Uma menina de Santa Catarina pediu a um representante amigo dela que passava por aqui para retirar o produto, mas não tem a loja. Logo depois desse rapaz do Pará, um casal de São Francisco de Paula também chegou aqui na galeria procurando o estabelecimento, mas não tinha nada”, disse a mulher.

O proprietário de uma pizzaria na galeria também comentou o fato. “Desde o ano passado, alguém ou uma quadrilha tem aplicado esse golpe. Eles devem copiar as fotos de um perfil quente para esta loja fria. Todos os lojistas da galeria estão cientes. Já denunciamos o perfil do Instagram. Alguns conseguimos livrar do golpe”, comentou.

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Homem foi parar no hospital com crise de ansiedade

Vítima do caso, o paraense Marcos Vinicius Guimarães Silva foi parar no hospital após se dar conta de que havia perdido todas as suas economias em um golpe. “Fiquei desesperado. Entrei em uma crise de ansiedade e fui parar no pronto-socorro da minha cidade. Eu nem fazia ideia de que existia esse universo de golpe de loja falsa no Instagram. Isso foi uma novidade. É importante que as pessoas saibam disso, que devem ter cuidado nas compras online. Esse homem está ganhando muito dinheiro e enganando várias pessoas”, disse o jovem.

Segundo ele, o golpista tem o poder de convencimento. Marcos viu nos comentários – rapidamente apagados pela loja – quando um homem de São Paulo queixou-se de não ter recebido um iPhone no valor de R$ 2,3 mil. “Falei com ele e expliquei que era um golpe. Esse golpista trabalha com tráfego pago, compra seguidores e comentários, e vem investindo em impulsionar as publicações, como chegou até mim, no Pará”, disse a vítima.

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“Faltou malícia pra mim. Depois dessa situação, com certeza vou ter muito mais cuidado. Quem eu vejo, tento ajudar. Já consegui salvar umas dez pessoas, mas agora decidi não fazer mais, pelo bem da minha saúde mental, porque a cada vez que entro em contato com essas pessoas, lembro que caí e perdi o dinheiro que foi difícil conseguir, e isso está me torturando.”

Golpista mandou um vídeo para Marcos | Foto: Reprodução

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