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Empreendedores se preocupam com possibilidade de novas tragédias climáticas

RS tem queda de R$ 1,58 bilhão na arrecadação de ICMS do Estado

Foto: Maurício Tonetto/Secom/Divulgação

Empreender, no Brasil, nunca foi tarefa fácil. Questões como a alta tributação, a falta de infraestrutura, o custo de logística elevado fazem com que muitos pensem mais de uma vez, antes de se arriscarem no mundo dos negócios. Desde o ano passado, um novo e importante quesito passou a tirar o sono daqueles que se aventuram no Rio Grande do Sul: as catástrofes ambientais. Foram pelo menos duas grandes, que extrapolaram as rotineiras estiagens e enchentes. A preocupação apareceu no levantamento Sondagem Atacado, realizado entre os dias 12 de agosto e 28 de setembro pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS).

A entidade fez uma série de questionamentos a 385 atacadistas de diversos setores. Uma das perguntas referia-se a empecilhos ao crescimento de vendas. A maior parte dos empresários gaúchos considerou “o baixo crescimento da economia nacional” como problema; seguido da “forte concorrência”, a “carga tributária” e o “aumento dos custos logísticos no Rio Grande do Sul”. Na quinta posição apareceu a “incerteza em relação à possibilidade de novas tragédias ambientais no Estado”. O receio torna-se justificado, quando se percebe que mais de 20% tiveram perdas diretas, tendo sua estrutura sido atingidas. Outros 70% ainda apontaram perdas indiretas.

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Giovana Menegotto aponta a incerteza

“A insegurança em relação à possibilidade de novas tragédias tem afetado muito os negócios”, destaca a economista Giovana Menegotto, da Fecomércio. Segundo ela, mesmo aqueles que não estavam na área da mancha das cheias foram afetados, porque tiveram aumento no custo de logística e isso afeta a competitividade. “Claro que os atingidos diretamente têm uma perda ainda maior, com a necessidade de reconstrução, com perdas de estoque e matéria-prima”, frisa. E isso afetou o caixa das empresas, fazendo com que as reservas fossem usadas em 71% dos casos.

Schmidt diz que tragédias aumentarão | Foto: Alencar da Rosa/Banco de Imagens

Professor e pesquisador da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), João Pedro Schmidt entende que a incerteza dos empresários se apoia na certeza de que novos eventos climáticos extremos estão à frente. “As mudanças não são uma hipótese, são um fato que se manifesta em todos os continentes, seja na forma de inundações, tempestades, secas, calor extremo, aumento de nível do mar, degelo nas geleiras ou frio fora de época”, afirma.

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Na área econômica, Schmidt, que publicou neste ano o livro Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da humanidade não se tornou o problema político nº 1, aponta dois setores que devem ser afetados: o turismo e os seguros. O primeiro sofre com a dificuldade em garantir aos viajantes potenciais a época apropriada para visitar certos destinos, dadas as oscilações inesperadas das temperaturas, chuvas e tempestades; o outro, pelo investimento que deverá fazer para cobrir as perdas maiores em colheitas, veículos ou edificações.

Atacadistas apontam falta de prevenção e auxílio público

Passados quase seis meses da maior tragédia da história climática gaúcha, os empresários atacadistas apontaram, na sondagem, a falta de medidas governamentais para prevenir as consequências, caso voltem a acontecer situações parecidas. “O setor empresarial fica pensando: o quanto vale a pena investir no Rio Grande do Sul se percebe que no próximo ano pode acontecer novamente”, alerta a economista Giovana Menegotto.

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Ela acrescenta que, mesmo em municípios onde a área industrial e produtiva foi pouco atingida, como Santa Cruz do Sul, o receio existe, porque as empresas instaladas sofrem indiretamente, com o aumento do custo logístico.

Assim como as medidas preventivas foram escassas, no entendimento dos atacadistas, os mecanismos de apoio para o setor deixaram a desejar. Em relação às ações do governo federal, 73,3% disseram ser insuficientes ou inadequadas; quanto ao que foi apresentado pelo governo do Estado, a discordância fica em 59,5%.

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Essas percepções são explicadas diante das dificuldades enfrentadas pelo setor. Em maio, 82,3% não conseguiram cobrir as despesas, sendo necessária a utilização de reservas da empresa ou dos sócios. “As políticas voltadas às perdas foram focalizadas nas empresas atingidas pelas cheias, que tiveram perdas diretas”, explica a economista. O restante, que também teve dificuldades, ficou sem acesso a recursos. Dos que tentaram, aponta a sondagem, apenas 20,3% conseguiram acessar as linhas de crédito disponibilizadas. E até para esses a situação fica complicada, pois tiveram enfraquecidas as reservas, baixa de receita, fazendo com que o que entra agora pague o mês atual e o prejuízo passado, Depois ainda passarão a pagar os financiamentos contraídos, em alguns casos, com juros altos.

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