Fator de risco para uma série de doenças, a obesidade é um problema que atinge boa parte da população. De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, entre 2006 e 2018 o número de obesos saltou de 11,8% para 19,8%, em um aumento de 67,8% em apenas 13 anos. Por consequência, as dificuldades cotidianas são visíveis e o preconceito e o bullying, apenas alguns dos percalços enfrentados por este grupo.
Para o santa-cruzense Ezequiel do Carmo de Souza, as dificuldades vêm desde criança. Com 1,82 metro, o rapaz de 30 anos chegou a pesar 317 quilos, atingindo o grau 3 de obesidade, considerada mórbida – que ocorre quando o peso de uma pessoa ultrapassa o valor 40 no Índice de Massa Corporal (IMC). Nos últimos cinco anos foram três cirurgias bariátricas marcadas e canceladas, por diferentes motivos. A primeira, em 2015, não ocorreu em razão da falta de leito que suportasse o seu peso.
Na segunda tentativa, em 2017, Ezequiel não perdeu a quantidade de quilos necessária para estar apto a fazer a cirurgia. Na última, marcada para 6 de janeiro deste ano, uma alteração no exame de sangue fez o procedimento ser cancelado de última hora. Há dois anos, a perda do pai Artur do Carmo de Souza, um dos seus grandes incentivadores em busca da perda de peso, foi outro baque sofrido por Ezequiel.
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Disposto a deixar para trás as dificuldades que o sobrepeso lhe impõe, tomou a decisão de mudar seus hábitos cotidianos. Não seria fácil, ele sabia. O apoio dos familiares representava o impulso necessário para iniciar uma nova rotina. “Ele não saía mais de casa porque todo mundo ficava fazendo piada dele. Um dia chegou para mim e disse ‘mãe, vou procurar uma academia, estou com vergonha de mim’. Sem pensar duas vezes, eu disse para ele que iria junto ver como funcionava”, lembrou a mãe Ironilda Vedoy de Souza, de 69 anos.
Dificuldades tiveram início ainda durante a infância
Não é de hoje que Ezequiel Souza sofre com os quilos a mais. Conforme a mãe Ironilda, desde os 7 anos ele já apresentava sinais de sobrepeso. “Aos 12 agravou e a partir dali foram vários os problemas de saúde ligados a pressão e tireoide. Eu sempre tive muito medo diante de tantos casos de jovens terem infarto”, disse a mãe.
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Dos 18 para os 19 anos, foram 90 quilos a mais em apenas um ano. Para Ezequiel, além dos problemas ligados à saúde, outra situação o incomodava: o bullying. “O que mais me afetava era o preconceito. Era triste sempre ser motivo de piada, com todo mundo te olhando e chamando de ‘gordão’, ou mesmo dizendo alto ‘olha o tamanho dele’. Hoje trabalho muito isso na minha cabeça, mas no início, na época de colégio, foi bem difícil”, relatou Ezequiel. A mãe relembra com tristeza a época de colégio do rapaz.
“As outras crianças tripudiavam, ele ficava em um canto da sala. E quando sentava, todos levantavam para fazer piada. Eu e ele choramos muitas vezes juntos depois da escola”, afirmou Ironilda, que mora no Bairro Bom Fim há mais de 40 anos. As dificuldades para Ezequiel continuaram na sequência da escola. “Não é em todo lugar que tem banheiro adequado, muitos estabelecimentos também não possuem cadeiras maiores, e em ônibus então eu nem ando mais, pois não passo na catraca. E muitos motoristas não me deixam ficar na parte da frente”, disse Ezequiel, que chegou a ter atendimentos de motoristas de aplicativos cancelados em virtude do peso. “Muitos vinham até a minha casa e quando me viam, se recusavam a me carregar. Até por isso eu passei.”
A baixa de 89 quilos, no entanto, é sentida na prática pelo santa-cruzense. “Vem melhorando muito. Até mesmo questões de higiene pessoal, em que precisava de auxílio, venho conseguindo fazer. Isso que dá ânimo.” Outra diferença notada está na respiração. “Sinto que respiro melhor ultimamente.”
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SEM EMPREGO
Formado no ensino médio e em um curso de padeiro e confeiteiro, com experiência de anos na área, Ezequiel de Souza relata a dificuldade em conseguir emprego desde janeiro de 2019, quando deixou o supermercado em que atuava. “Trabalhei lá por nove anos, alternando entre os setores da padaria e do restaurante. Era um serviço mais light, mas seguido eu tinha que sentar um pouco por causa das dores nas pernas. No começo, eles me ajudaram, mas depois trocou a chefia e o diretor do mercado e, como não conheciam a minha história, não teve mais conversa e me demitiram”, disse o santa-cruzense, que até janeiro recebeu um auxílio-doença pela obesidade mórbida. “Eu até chego a largar currículos, mas as pessoas me olham e não dão trabalho.”
89 quilos a menos
“Eu nunca aceitei a verdade. Foi um erro ter comido tanto e não ter me cuidado, sem aceitar os conselhos de outras pessoas. Hoje procuro aceitar melhor as dicas que me dão”, disse Ezequiel. Em junho do ano passado, ele iniciou um projeto próprio de emagrecimento que, aos poucos, vem alterando sua rotina. “Eu quase nem caminhava mais quando cheguei aos 317 quilos. Hoje a minha rotina é acordar às 5h30, caminhar, ir para a academia e comer bem o que a minha nutricionista recomenda. No final da tarde dou mais uma caminhada e já sinto a diferença”, relatou o rapaz.
Ele ainda conta com suplementação e faz terapia de hipnose, todas as ações contando com o apoio de parceiros que abraçaram a sua causa. O grau da obesidade ainda não baixou, permanecendo no nível 3, porém este número é que menos interessa para ele. O que importa são os 89 quilos a menos, que vêm sendo registrados na pele do santa-cruzense, hoje com 228 quilos. “Faz anos que estou nessa luta para emagrecer. Resolvi tatuar os pesos que venho conseguindo chegar mediante minha nova rotina.”
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Sem desistir para realizar o sonho do pai
Um dos objetivos futuros de Ezequiel é escrever um livro contando a experiência de vida. “Nas terapias de hipnose, me foi sugerido que eu escrevesse em um diário as situações que passo no dia a dia. Todos os dias eu escrevo um pouco. Quero, ao final dessa experiência, lançar um livro contando a minha história”, revelou Ezequiel, que também replica as histórias em posts no Facebook (/hezequiel.souza), Instagram (@hezequielsouza) e no site heze317rumo117kg. wordpress.com.
Depois de tantas decepções com cirurgias bariátricas marcadas, quer deixar que o destino diga quando será a melhor hora para o procedimento. “Enquanto isso, estou focado no meu projeto de emagrecimento.”
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Um dos sonhos do pai, falecido há dois anos vítima de problemas decorrentes da diabetes, era ver o emagrecimento do filho. “Ele lutou muito para que eu perdesse peso. Infelizmente não consegui, mas hoje sinto que ele me dá força para eu atingir meu objetivo”, ressaltou Ezequiel.
A mãe Ironilda mantém a fé no filho. “Eu sinto a canseira dele, converso para não perder o foco quando está meio desanimado. O pai dele morreu na esperança de que ele emagrecesse, e eu não queria morrer sem ver ele ficar bem. É o que toda a mãe sonha para o filho.” Quem quiser auxiliar Ezequiel no seu projeto de emagrecimento pode entrar em contato pelo telefone/WhatsApp (51) 9 9680-9405.
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