Com a voz delicada e olhos atentos a todo movimento, sentada na poltrona da sala de casa, dona Edy Leite Pereira resgata na memória as lembranças dos Natais em família. Aos 98 anos de idade, muitas são as recordações que guarda com carinho do tempo de seus avós e pais, até os dias atuais.
Em sua infância, vivida próximo à comunidade hoje denominada de Colônia Juvenilia em homenagem à sua mãe, a pequena Edy crescia em meio à natureza e às belezas de uma Estrela Velha à época ainda pertencente a Soledade. Filha de Oscar Leite de Moraes, pecuarista, agricultor e um dos precursores de Estrela Velha, que empresta nome ao Parque Municipal de Eventos, e da dona de casa Juvenilia Fernandes de Moraes, Edy é a mais nova das quatro filhas do casal.
Correndo livre nos campos do então Rincão da Estrela, a chegada de cada fim de ano costumava ser carregada de ansiedade, na espera da noite de Natal. A oração, a confraternização em família, a vinda do Papai Noel e os presentes eram celebrados pelas irmãs.
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Fazendo uma viagem no tempo, entre a década de 1920 e 1930, Edy recorda da singela decoração. “As nossas árvores de Natal costumavam ser galhos ou pequenos pinheirinhos, que a gente plantava em uma lata. Nos primeiros tempos não existiam enfeites como hoje, então pegávamos retalhos de tecido das costuras de nossa mãe e pendurávamos na árvore, formando lacinhos”, recorda.
Ainda quando pequena, lembra que não era habitual que a ceia na casa dos pais fosse próxima da meia-noite, mas que a tradição eram os doces, as deliciosas sobremesas preparadas pela mãe. “Minha mãe fazia muitos doces. Era à luz de vela ou lampião. Em alguns anos íamos para Cruz Alta, onde morava a família de um dos tios, então festejávamos com eles e éramos muito paparicadas. Por lá já havia mais adereços e a gente ganhava alguns enfeites. Geralmente o presente eram roupas, difícil ganhar algum brinquedo. Me recordo de ter uma boneca de pano, costurada por uma tia.” O grande destaque ficava para o almoço do dia 25 de dezembro. A magia do Natal estava ali, presente na presença de cada membro da família, e na oração marcando o nascimento do menino Jesus.
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Após casar-se com Setembrino Pinto Pereira, a união gerou sete filhos. Os Natais, nos anos seguintes, voltaram a ter a alegria de criança correndo pela casa. Com os filhos, dona Edy preparava o pinheiro, agora já com outros enfeites, e junto ao marido tinha a missão de convidar o Papai Noel para visitá-los na propriedade no interior. “Às vezes eles estranhavam o Papai Noel, mas ficavam esperando os presentes, nem que fosse uma bala. Quase sempre era roupa que a gente dava”, destaca sorridente. Entre as tradições mantidas por muitos anos, esteve a produção das bolachas que se coloriam com os cristais de açúcar. O Natal então se dividia entre o casarão da família e a casa de familiares em Cruz Alta ou Jacuizinho.
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Alguns anos depois, a família mudou-se para Sobradinho, mas mantendo-se sempre conectada às origens. Com os filhos adultos, as junções no final de ano foram sendo ampliadas, afinal foram se agregando novos membros. Genros, noras, netos e bisnetos, uma grande família.
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Há mais de 30 anos, a partida de seu Setembrino marcou um dos episódios tristes na vida de Edy e familiares, mas segue sendo lembrado em suas ações e nas características perpetuadas com os filhos e netos. “Sempre gostei desse período do ano, com a família reunida. Com o passar dos anos, contudo, vão faltando presenças importantes. Primeiro meu pai e minha mãe, depois meu marido, que faleceu novo, tinha 68 anos”, lembra dona Edy. As comemorações de Natal então foram ficando mais intimistas, com os novos núcleos familiares que foram se formando também em outras regiões. Hoje três filhos também já partiram.
Com uma memória rica em detalhes, dona Edy também resgata fragmentos que a levam de volta às primeiras décadas do recém emancipado Sobradinho, município ao qual acompanha a trajetória, crescimento e evolução. Das estradas de chão, do Arroio Carijinho banhando a cidade, do destaque na produção do tabaco e feijão, da ampliação do comércio, da chegada do asfalto e tantos capítulos desta história quase centenária.
Talvez, quem sabe, ao longo destes mais de 90 Natais, dona Edy tenha feito pedidos em oração, nos mais diferentes aspectos da vida, mas, certamente o principal de todos se realizou, a sua família. E, a cada Natal, é isso que carrega dentro de toda sua simbologia, a união, a harmonia, o amor e a renovação da esperança. Com 15 netos e 10 bisnetos, para os mais jovens ressalta: “Permanecer firme na fé e na conduta.”
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E, se as comemorações celebram a vida, a próxima já está marcada para janeiro, para festejar os 99 anos desta jovem senhora que dedicou-se sempre à família.
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