A humildade é a qualidade que mais aprecio no ser humano. Meus maiores ídolos, na vida e na profissão que exerço, são pessoas recatadas, dotadas de grande talento para transformar fatos corriqueiros em excelentes reportagens. Outros fazem da vida um permanente exercício de solidariedade. Quando não podem ajudar, são ouvintes interessados fazendo com que seus semelhantes sintam-se aliviados ao desabafar.
“Ser humilde com os superiores é obrigação, com os colegas é cortesia e com os inferiores é nobreza”, dizia Benjamin Franklin, numa frase lapidar que resume a grandeza dos que cultivam essa qualidade. Ao longo do tempo, o conceito de humildade foi distorcido como tantas outras virtudes que motivavam as pessoas.
Hoje, o humilde é confundido com termos como trouxa, fraco ou “babaca”. Vivemos a era da ostentação, do “aparecer a qualquer custo”. Prova disso são postagens que mostram as mais frugais atitudes do cotidiano. Até ir ao banheiro é motivo de exibir em redes sociais. Isso dá bem o padrão de comportamento “que faz sucesso” junto aos viciados nessa comunicação.
Publicidade
Neste clima de ostentação geral, o conhecimento – ao invés de servir de instrumento para fomentar o bem – é ferramenta para estimular a arrogância. Isso é típico de quem não ignora a diferença entre o valor do saber e a necessidade de humilhar a quem possui menos cultura.
A escassez da humildade serve para que eu valorize ainda mais meus ídolos. Eles preferem fazer ao invés de aparecer. Ao longo deste período de alquimia, quando a ciência é usada de argumento para decisões sem resultado eficiente, descobrimos inúmeras pessoas que praticam o bem de forma anônima.
Como em tudo na vida, essas atitudes também tiveram “o outro lado”. Oportunistas não perderam a chance de promover ações para angariar todo tipo de material – de cestas básicas a máscaras, passando por tubos de álcool gel. Ao invés de manter essas ações, tão logo a pandemia tornou-se notícia banal, eles terminaram as campanhas beneficentes. A maioria turbinou as redes sociais para autopromoção, jogando confetes em si mesmos, como se ajudar a quem precisa fosse um favor.
Publicidade
O confinamento, o medo, a insegurança e o desconhecido desmascararam o ser humano. São tempos duros, implacáveis com os que lutam para sobreviver. Empatia virou termo da moda, incapaz de inocular o vírus da bondade naqueles que não pensam em nada além do seu umbigo.
O que ainda terá de acontecer para que possamos refundar uma humanidade solidária? A crise é mundial, mas muitos são imunes à solidariedade. Sejamos, sempre, humildes. Afinal, até o sol, com a sua grandeza, se põe para deixar a lua brilhar.
LEIA MAIS COLUNAS DE GILBERTO JASPER
Publicidade
This website uses cookies.