Em tempos de interrupção nas atividades culturais e artísticas por causa da Covid-19, a literatura acaba por constituir uma das poucas áreas que seguem com programação de lançamentos, tanto em âmbito nacional quanto na região. E uma das obras recentes a chegar ao mercado, em nível local, é o novo romance do santa-cruzense Cassionei Niches Petry, escritor, contista, ensaísta e professor.
Relatos póstumos de um suicida foi lançado pela editora porto-alegrense Bestiário, sob o selo Class. Ainda sem agenda definida de lançamentos da obra física, em virtude da pandemia, a obra pode ser adquirida sob encomenda, junto à editora, ou ainda pela internet, ao preço de R$ 35,00.
Mestre em Letras e professor de Língua Espanhola e Literatura no Ensino Médio, Cassionei já é autor dos livros de contos Arranhões e outras feridas e Cacos e outros pedaços e do romance Os óculos de Paula. Ao longo de muitos anos foi colaborador da Gazeta do Sul, publicando resenhas literárias. Seu novo romance já sinaliza no título para o intertexto com um clássico da literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o que fica reforçado com dedicatória inicial. No caso de Cassionei, o enredo centra-se na história de Frederico Assmann, escritor que publica em parceria com editoras sob demanda. Ele evidencia sua frustração com a pouca repercussão de seus livros e a rotina de professor em escola pública. A narrativa sofre reviravolta com a entrada em cena de Mikaela, garota de programa e estudante universitária.
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Outra citação relevante é a do escritor e filósofo romeno Emil Cioran (1911-1995), que teve no suicídio e no olhar pessimista sobre a realidade temáticas recorrentes. Goethe e Thomas Bernhard, entre outros autores, também são referidos. O narrador do livro partilha flagrantemente desse pouco entusiasmo com a condição humana e sobre o estar vivo. “O ser humano é um dos seres mais repugnantes que habitam este planeta”, começa por afirmar. E, claro, complementa: “Sim, sou um ser humano”.
Então logo vem a informação que, a la Machado de Assis, determina a tônica de todo o relato: “Me suicidei quando fiz 33 anos”. Como um Brás Cubas do século 21, o personagem central do romance publicado por Machado de Assis em 1881, o enredo de Petry acaba por assumir várias reviravoltas, até porque a determinação do narrador é de não ir sozinho, mas levar mais alguém junto.
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