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Em nome da coerência

Preciso ir por partes. A começar pelo reconhecimento à honradez e coerência de um homem público que nos deixou na semana que passou. Não tenho pretensão e nem elementos para julgá-lo como cidadão, como profissional liberal ou como gestor público. Acompanhei sua trajetória por anos e guardo na memória a disposição incondicional de contribuir, com pontos de vista e com atitudes, para o respeito pela comunidade.

Éramos dois – um repórter da Rádio Rio Pardo também registrou o fato – a testemunharmos, numa tarde de domingo de final do ano de 1980, uma das atitudes mais nobres e corajosas de um homem público que presenciei. Foi quando o então prefeito de Rio Pardo, Fernando Wunderlich, passou as chaves no seu gabinete e abriu mão de mais dois anos de governo a que teria direito pela aprovação de um “mandato tampão” pelo Congresso Nacional com o objetivo de unificar as eleições.

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Gostaria de ter comigo a imagem que captei, com uma máquina amadora, daquele momento histórico. O assunto rendeu capa na Gazeta do Sul e ganhou o noticiário estadual nos dias seguintes. E nem poderia ser diferente, porque foi um dos únicos prefeitos no Estado e no País a entender como ilegítima a prorrogação de seu mandato. “O povo me elegeu para quatro anos. Os dois anos adicionais não me pertencem”, disse em discurso para poucas testemunhas, mas com um significado enorme para a nossa história política.

Com um tributo à memória do dr. Fernando Wunderlich, quero invocar uma virtude que, a meu juízo, deveria ser pré-requisito para todo e qualquer pretendente a um cargo público: a coerência. Parece pouco, mas não é.

Isso remete a uma segunda questão: afora os atores diretamente envolvidos – os candidatos –, que se lançam em busca do nosso voto, quem se entende neste ambiente gelatinoso de partidos que se multiplicam de olho em mais espaço e, sobretudo, nos recursos do financiamento público das campanhas? Neste cenário, que importância ainda tem se uma candidatura se abriga sob legenda a, b, c… x ou z? Pra mim, nenhuma. Porque nunca saberemos os arranjos que acontecerão logo adiante. Ideologia, fidelidade, princípios partidários? Esquece.

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Restam as pessoas, despidas de siglas, mas que ficam transparentes por sua conduta e coerência. Resisto ao senso quase comum de que os políticos todos são… isso tudo o que você está pensando. Há pessoas sérias, capazes, corretas, verdadeiramente comprometidas com quem lhes dá crédito. Mas também há, e são muitos, os que se apoiam em promessas, mentiras, interesses escusos e que traem a representação que almejam.

A prudência recomenda que estejamos atentos. Eu dou valor a quem, como o dr. Wunderlich, resiste à oportunidade para preservar a sua honradez e respeitar o limite da representatividade que o voto lhe conferiu.

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Guilherme Bica

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