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Em fala final, Dilma pede que senadores votem com consciência

Em sua última fala durante a sabatina do processo do impeachment no Senado, a presidente afastada Dilma Rousseff pediu para que os senadores votem com “consciência”. Ela voltou a afirmar que não cometeu crime de responsabilidade e que, caso venha a perder o cargo, o país terá uma ferida “difícil de ser curada”. A sessão, encerrada um pouco antes da meia-noite, será retomada nesta terça-feira, 30, às 10 horas.

“Não é possível supor que quando se faz exceções e se tira um presidente eleito, sem crime de responsabilidade, este ferimento será muito dificil de ser curado. Por isso eu peço aos senhores e senhoras senadores que tenham consciência na hora de avaliar esse processo”, disse. 

Dilma falou, após o seu advogado de defesa, José Eduardo Cadorzo, que abdicou de fazer questionamentos à presidente que começou agradecendo a atenção dispensada pelos senadores e dizendo que a disputa política é normal, mas que o processo de impeachment não faz bem para o processo democrático brasileiro. “Tentar inventar crimes de responsabilidade onde não existe e tentar transformar o Orçamento, a execução do gasto público em um espaço de disputa ideológica que não tem consequência para o bem do país, acredito que temos maturidade suficiente para superar esse processo que não faz bem para o país”, disse.

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A acusação diz que ela cometeu crime de responsabilidade ao editar três decretos de suplementação orçamentária sem autorização do Congresso e no atraso do pagamento de repasses do Banco do Brasil para programas do agronegócio e da agricultura familiar oriundos do Plano Safra, as chamadas pedalas fiscais.

Maturidade

Dilma disse que é preciso haver compreensão a respeito da situação econômica que o país vive e que o país precisa ter maturidade para buscar uma saída para a crise independente da orientação partidária. “A maturidade de não inventar problemas onde não existem e enfrentar onde eles existem”, disse.

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Antes, a petista respondeu a perguntas da acusação e voltou a afirmar que não cometeu crime de responsabilidade e que a edição dos decretos não comprometeu a meta fiscal. Ela disse ainda que os repasses do Plano Safra não configuraram empréstimos, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Luta pela democracia

Dilma chegou ao Senado por volta das 9 horas. Logo após subiu na tribuna e fez um discurso que durou cerca de 45 minutos. Nele Dilma disse que não estava lutando por seu mandato, mas pela “democracia, verdade e justiça”. Ela disse que, caso o impeachment venha a ser aprovado, será um golpe parlamentar. “Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura institucional, estamos próximos da concretização de um verdadeiro golpe de estado”, disse.

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A presidente afastada também contestou o argumento de que estaria perdendo o cargo pelo “conjunto da obra” de seu governo. “Não é legítimo. Quem afasta o presidente por conjunto da obra é o povo, e só o povo, nas eleições”. Ela chamou de “usurpador” o governo do presidente em exercício Michel Temer e afirmou que, caso ele se torne definitivo, será fruto de uma “eleição indireta”.

No encerramento, a presidente afastada pediu votos aos senadores. “Não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira. Peço que façam justiça a uma presidente honesta que jamais cometeu qualquer ato ilegal na vida pessoal ou nas funções públicas que exerceu.” 

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Sabatina

No total, 48 senadores se manifestaram com questionamentos ou com manifestações contrárias ou de apoio a Dilma. A sessão de sabatina durou pouco mais de 12 horas. Na avaliação dos seus apoiadores, Dilma se saiu bem e conseguiu demonstrar que não cometeu crime de responsabilidade. “Acho que o dia foi muito positivo, a presidenta foi muito firme, respondeu a todas as perguntas, mostrou que conhece o Brasil e seus problemas, descontruiu a tese de crime de responsabilidade em relação aos decretos, às pedaladas. Foi altiva”, disse a senadora. Gleisi Hoffmann (PT-PR).

A senadora acredita ser possível convencer alguns senadores que disseram estar em dúvidas a votar a favor de Dilma. “Eu acredito que os senadores que estavam em dúvida e que ainda não tinham manifestado seu voto tem condições de manifestar seu voto contra o impeachment. Ficou mais do que provado, não só aqui dentro do Senado, mas para a sociedade brasileira, que esse processo não é um processo legítimo; é um golpe. Amanhã a gente espera ter uma boa surpresa”, disse.

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O líder do governo, senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), também avaliou que Dilma teve um bom desempenho, “sustentou com coragem seus pontos de vista”. Favorável ao impeachment, o tucano disse estar convencido de que houve crime de responsabilidade. Ele disse ainda que não acredita na possibilidade de reversão de votos para a petista. O governo trabalha com um placar de 60 votos favoráveis ao afastamento definitivo. “Na minha opinião está caracterizado só crimes de responsabilidade. Acho que a convicção dos senadores já está formada e, portanto, praticamente nada vai ser alterado”, disse.

Debates e votação

Estão previstos para esta terça-feira, 30, os debates envolvendo a acusação e a defesa, que poderão fazer uso da palavra por uma hora e meia cada. Ainda poderá haver réplica e tréplica de uma hora para cada parte. Depois do debate, serão chamados os senadores inscritos, um a um, para discursarem sobre o objeto da acusação, por até dez minutos improrrogáveis. Mais de 60 senadores já se inscreveram. Após os discursos, o presidente do processo de impeachment, ministro Ricardo Lewandowski, deve apresentar um relatório resumido dos fundamentos da acusação e da defesa.

Na sequência, ocorrerá a votação. Com isso, há a possibilidade que o desfecho do impeachment possa entrar pela madrugada de quarta-feira, 31, com a votação final dos 81 senadores para condenar ou absolver Dilma. Para a saída definitiva, são necessários os votos de, no mínimo, 54 senadores.

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