Na manhã de quarta-feira, 10, uma das personalidades de Sobradinho, Serginho Vieira, abriu seu coração e concedeu entrevista ao programa Giro Regional da Gazeta FM 98.1. Ele relatou sua trajetória, enfatizando que está há oito anos livre das drogas.
Serginho destacou estar preparado para falar sobre sua história, também como uma forma de alertar os jovens. Ele explicou que nasceu com uma deficiência, o exigiu várias cirurgias – 24, incluindo transplante de córneas e amputação da perna que, segundo ele, poderiam ter sido evitadas sem uso das drogas.
Emocionado, afirmou que entrou nesse mundo obscuro aos 16 anos, em uma festa de garagem com os amigos. “Nesse momento ocorreu meu primeiro porre, o primeiro baseado com a maconha, a primeira carreirinha de cocaína e assim, até os 33 anos, não parei. Houve momentos de altos e baixos, momentos que eu fiquei meses sem usar, outros que eu usava direto”, revelou.
Publicidade
Em 2011, quando sua mãe encontrou ele caído na rua de casa, foi quando decidiu pedir ajuda. Com o apoio da família, ficou sem consumir drogas durante um ano e oito meses, mas, em outubro de 2012, sofreu uma recaída. As sextas-feiras eram, para Serginho, o principal momento de diversão, quando chegava a gastar R$ 900,00 em apenas uma noite.
Ele salientou que nunca usou dinheiro dos pais, sempre trabalhou desde os 14 anos. Enfatizou que sustentava seus vícios, mas ressaltou que muitas vezes tirou da família, do primeiro casamento, o dinheiro destinado ao pagamento das contas. Quando foi vereador durante um mandato, chegava a entregar todo seu salário a traficantes.
As drogas levaram ao fim do seu primeiro casamento e foi dessa vez que ele decidiu “se jogar” nos vícios. Voltou para a casa de seus pais. Consumia todos os dias e noites. “Muitas vezes culparam meus pais pela minha educação. Eles não têm culpa de nada. O único culpado sou eu”, afirmou. Revelou ainda, que muitas vezes não lembrava de chegar em casa, emendava dias na rua, preocupando a família.
Publicidade
Pedido de perdão
Serginho disse que de outubro de 2012 a março de 2013 usou drogas todos os dias. Relatou que estava muito mal e sentia que machucava a família. No dia 20 de fevereiro de 2013, que, segundo Vieira foi um dos dias mais difíceis da vida dele, o grupo do Emaús o acolheu e ele passou 16 dias sem drogas.
Em menos de um mês, no entanto, ele retornou ao vício, mas colocou na cabeça que precisava sair da situação em que se encontrava e tomou uma decisão extrema. No dia 9 de março de 2013, pegou sua bandeira do Bob Marley, ligou o som do carro no último volume e iniciou seu trajeto. “Vou terminar com o meu sofrimento. Esse é o pensamento do suicida”, afirmou. Se deslocando em direção a Arroio do Tigre, de longe avistou um veículo. Pensando que seria uma carreta, tirou o cinto de segurança, acelerou e bateu de frente com uma camionete. No outro veículo estava um casal.
Publicidade
“Eu podia ter matado eles. Me perdoem, pelo amor de Deus, me perdoem. Esse casal querido, tios de um grande amigo meu, psicólogo, que estudou comigo desde a oitava série. Vocês não eram o meu objetivo, não era para vocês o acidente. O meu objetivo era atentar contra minha própria vida, mas, por obra do destino, era uma Ranger e eu alucinado, pensei que era uma carreta”, relatou. Ele disse que machucou muitas pessoas durante aquele período enfrentado e pediu desculpas a todos que prejudicou, principalmente ao casal, ao qual ele implora por perdão.
Após o acidente, Serginho ficou quatro dias em um hospital de Sobradinho, depois foi transferido para uma clínica psiquiátrica. Durante o tempo que passou internado, tentou suicidar-se mais duas vezes. Seguiu o tratamento e em 12 de abril de 2013, uma sexta-feira, quando familiares foram buscá-lo, ele voltou planejando até mesmo sair escondido e “ir para o mundo”. Mas, ao chegar em casa, encontrou sua namorada, atualmente esposa, que não desistiu dele, e lhe deu forças para continuar a luta.
Superação
Publicidade
Serginho ressalta que viveu ainda momentos complicados por quatro ou cinco anos após a saída da clínica. “Eu sou um usuário em recuperação, sou um adicto. A gente não é um recuperado, é um recuperando. Sempre digo: é sempre só por hoje. Não estou curado, posso recair a qualquer momento, eu vivo no fio de navalha”, acrescentou.
Os grupos de apoio foram muito importantes para auxiliar Vieira nesta recuperação. Ele destacou o grupo “Amores de Gente”, o qual frequentou por três anos, estando agora participando do grupo “Abrace a Vida”, da Igreja Batista.
Serginho pediu desculpas aos pais, sua esposa e filho, demais familiares e amigos pelo sofrimento que causou, agradecendo todos pelo apoio recebido. Hoje agente penitenciário da Susepe, Vieira destaca que as sextas-feiras se tornaram prazerosas para brincar com o filho e aproveitar ao lado da família.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: Prefeitura está com inscrições abertas para contratação por prazo determinado de psicólogo e assistente social