A imponente Catedral São João Batista se destaca na área central de Santa Cruz do Sul e é o principal ponto turístico urbano. Suas torres, de mais de 80 metros de altura, podem ser vistas de diversos locais. Para quem visita o centro da cidade, seja pela primeira vez ou mesmo após dezenas de oportunidades, é de praxe fazer uma fotografia em frente à igreja.
Com a Covid-19, entretanto, parte desse encanto se perdeu. Isso porque, para obedecer às restrições de distanciamento social impostas pela pandemia, a Catedral deve evitar aglomerações e abrir apenas para certo número de fiéis, que vão ao local para as missas. Atualmente, as portas do templo são abertas uma vez ao dia, uma hora antes da celebração, e depois são novamente fechadas. Já aos domingos, as missas ocorrem em dois horários.
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Para o pós-pandemia, representantes da Catedral têm o objetivo de retomar o projeto de restauro da pintura interna. Há também quem defenda o potencial turístico da igreja, alegando que ele poderia ser melhor explorado. Porém, espaços como as torres da Catedral, que muitos gostariam de visitar, estão impossibilitados de receber visitantes, pois não apresentam a segurança necessária, e regularizar a situação exigiria um alto investimento.
Além disso, a pandemia também resultou na paralisação do projeto de instalação de um museu diocesano na Catedral São João Batista. Essa ideia deverá ser retomada no ano que vem, para tornar o templo um ponto de referência de turismo religioso, mas, principalmente, de conservação da história da fé.
As tratativas para a construção da Catedral São João Batista começaram em 1855, quando Santa Cruz ainda era uma colônia. O projeto do templo fazia parte também da implantação do núcleo urbano. A primeira igreja matriz, que ficava na frente da atual, foi concluída em 12 de dezembro de 1861, mas sua inauguração só aconteceu dois anos mais tarde.
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A igreja passou por ampliações que acompanharam o desenvolvimento econômico da então Vila de Santa Cruz: a primeira em 1880 e a segunda entre 1900 e 1901. Já por volta de 1920, mudanças no perfil socioeconômico de Santa Cruz levaram a comunidade a retomar a discussão sobre a construção de uma nova igreja. A atual catedral quase virou uma edificação feita no modelo barroco – projeto vencedor após um concurso. Porém, mais tarde, e mais uma vez, optou-se por um outro modelo, que abrigasse mais fiéis e de forma confortável.
Por fim, o projeto para a construção da Catedral São João Batista, erguida em estilo neogótico, só foi aprovado em 1928, após muitos debates e percalços. Iniciada em 1929, atrás da então matriz, e custeada pela comunidade, a obra finalmente foi concluída em dezembro de 1939. Iniciou-se então, em março de 1940, a demolição da antiga igreja.
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Quando as restrições impostas pela pandemia forem diminuindo, a ideia é retomar o projeto de restauração da pintura interna da Catedral. Essa será a primeira intervenção na pintura desde a inauguração da igreja. Ao observar bem as paredes, e até algumas partes de esculturas, é possível perceber o desgaste provocado pela ação do tempo.
Segundo o presidente do Conselho Paroquial de Administração, Paulo Roberto Habekost, o projeto do restauro está estruturado em fases, que foram criadas para que se possa administrar o trabalho de acordo com a entrada de recursos. “É preciso fazer um projeto de captação de recursos. Criamos uma comissão de obras e restauro. O valor é bastante elevado. Fizemos dois protótipos de como era antes, no local onde se encontra instalada a pia batismal e no outro lado, na mesma posição. Isso foi feito com duas empresas diferentes, que pintaram da forma original. Esses dois fornecedores fizeram a sua demonstração para podermos avaliar e decidir qual trabalho está mais adequado”, explica.
Como muitos templos espalhados pelo mundo, a Catedral São João Batista possui belíssimas torres, de 80 metros de altura. Infelizmente, hoje, o acesso de turistas a essas torres está impossibilitado, pois não há os aparatos necessários para garantir a segurança e a integridade dos visitantes. Segundo o padre Roni Fengler, o acesso às torres e ao terraço é permitido apenas para trabalhadores devidamente equipados para fazer serviços de manutenção.
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No momento, a igreja é aberta uma vez ao dia, durante uma hora antes de iniciar-se a missa. “Essa é a realidade atual; se vem turista, ele pode entrar na igreja, olhar, mas não pode subir mais. A prioridade é que seja um local de oração, que as pessoas cheguem para fazer suas orações”, enfatiza o padre.
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Atualmente, o Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios (PPCI) da Catedral compreende acesso apenas para a nave (onde ficam os assentos), para o presbitério (altar), o porão (abaixo do presbitério) e até o coro (parte acima da nave, onde é possível ter uma visão do interior da igreja). “Não temos projeto para subir nas torres, para visitação nas passarelas laterais, que é o grande sonho de muitas entidades. Carece de um projeto específico”, comenta Habekost.
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Ainda assim, para dar acesso ao coro são necessárias algumas intervenções de limpeza, retirada de alguns fios e melhoria na iluminação, o que exige gastos. E, de acordo com a administração da Catedral, a crise gerada pela pandemia resultou em rescisões de contratos, o que reduziu a equipe para trabalhar nessas reformas.
“O custo é bastante elevado e, com a pandemia, a igreja ficou praticamente sempre fechada e não tem recurso. Estamos com equipe de funcionários pela metade para poder garantir o básico, que são as celebrações”, completa o presidente do Conselho Paroquial.
O arquiteto Ronaldo Wink, estudioso da história da Catedral há décadas, lembra que chegou a realizar uma visita à igreja junto com um técnico de uma empresa fabricante de elevadores. “Chegamos à conclusão de que não seria muito fácil. As escadas que levam até as torres são muito perigosas, são abertas e muito estreitas. As que vão do coro para baixo também. Então, a acessibilidade para um público maior é muito complicada. Teria que ter muita segurança, e seria um grande gasto”, frisa.
A Diocese de Santa Cruz do Sul abrange 40 municípios e 51 paróquias. Para conservar a história de toda essa região, há o projeto de instalação de um Museu Diocesano na Catedral São João Batista. À frente dessa responsabilidade está o padre Leandro José Lopes. Ele explica que o intuito é reunir objetos sacros e que envolvam a história da Diocese.
“Não é apenas um museu da Catedral, mas sim um memorial da Diocese de Santa Cruz do Sul, que envolve as 50 paróquias. O objetivo é conservarmos os objetos litúrgicos que contam a história das paróquias. Esses itens têm um valor como peça, mas há um valor que é a história da comunidade em torno do qual se desenvolveu, se adquiriu essa peça. Há um significado maior do que o valor propriamente material do objeto. Há um valor histórico, da história de um povo, de uma comunidade de fé”, destaca.
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Devido à pandemia, o projeto está parado, mas a previsão é de que seja retomado no próximo ano. “Queremos formar uma equipe com historiadores e pessoas que se interessam pela conservação da memória das comunidades; precisamos catalogar, reunir e identificar os projetos que existem na Diocese. A primeira fase é reunir as pessoas e identificar os materiais. Há todo um trabalho de resgate da história dos objetos junto àquela comunidade. Depois que a gente reuniu as pessoas e conseguirmos formar o arquivo, será possível pensar na exposição ao público”, salienta o padre.
Quanto ao lugar adequado para a instalação desse museu, questões técnicas precisam ser avaliadas. Um dos locais pensados seria uma sala de subsolo, que fica abaixo do altar da Catedral. No entanto, de acordo com o padre Leandro, é necessário provar que esse espaço é adequado para o arquivo de itens históricos. “Existe a questão de acesso do público, da funcionalidade do local, mas é preciso ver, também, se é um lugar que tem as condições corretas, no sentido de umidade e de arejamento, para conservação das peças.”
O arquiteto Ronaldo Wink é também o autor de um livro sobre a Catedral São João Batista e da exposição que atualmente está no hall da igreja. Wink destaca que o templo é a principal atração turística da cidade. Para ele, ao pensar na possibilidade de turismo na Catedral, seria mais viável iniciar isso com a organização do museu, utilizando sua exposição como peça integrante do espaço. “Temos algo importante, uma estrutura com arquitetura muito trabalhada, original, e que deve ser melhor explorada, começando com essa valorização do patrimônio e da história da comunidade através do museu”, justifica.
Para a realização de turismo nas torres e no terraço da Catedral, por exemplo, seria necessária a elaboração de um novo projeto para encaminhamento ao Corpo de Bombeiros Militar, o que demandaria grandes investimentos em estrutura para garantir segurança. O chefe da seção de prevenção do 6º Batalhão de Bombeiro Militar (6º BBM), major Joel Dittberner, explica que o PPCI da Catedral São João Batista está de acordo com o que a legislação prevê. Contudo, para a liberação do alvará, ainda falta a instalação de corrimão nos dois lados das escadarias, como as que levam ao coro, por exemplo.
Como é uma edificação antiga, algumas escadas são bastante estreitas, e até poderia ser colocado corrimão em apenas um dos lados para aumentar o espaço. Para isso, contudo, seria necessária a elaboração de um novo projeto. Não há problemas em a igreja operar sem alvará, pelo menos por enquanto, até o dia 27 de dezembro de 2021. “O decreto 51.803 deu prazo para que até o final do ano as edificações que estiverem cumprindo um mínimo de exigências – extintores, sinalização, iluminação, e treinamento de pessoal – não sejam objetos de notificação”, diz o major. Porém, depois dessa data, caso o alvará ainda não esteja liberado, há riscos de autuação.
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