Um olhar aguçado e sensível para registrar a vida, faz que com as fotografias de Romar Rigon teletransportem seus espectadores para momentos ímpares ou remetam a recordações valiosas que cada um guarda na memória. Hoje, aos 65 anos, o sobradinhense tem na fotografia um de seus principais passatempos. Mas se engana quem pensa que fotografar é apenas disparar um botão. A fotografia, como toda arte, exige técnica, estudo de luz, ângulos, composições e, por vezes, espera. Romar sabe bem disso, e captura com maestria registros que marcam.
Se através das fotos consegue fisgar momentos, acontecimentos e também sensações, com suas crônicas e poesias transforma tudo em sentimento, ou o sentimento que o faz escrever. Das duas formas de se expressar, na escrita e na imagem, reuniu um livro, ainda não publicado, e já tem material para compor uma segunda obra, onde palavras e fotografias se unem para falar sobre a vida.
Antes, porém, de dedicar-se ao momento presente, Romar atuou por pelo menos três décadas com o universo das exatas. A profissão, contador. O ritmo e a vida que passava diante de números, se transformou. Há 16 anos veio o diagnóstico de leucemia mielóide aguda. Um ano depois, em 2009, Romar recebia a doação de medula de um de seus irmãos.
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Tempo depois, com a remissão da leucemia, novas batalhas surgiram. Em 2012 e 2016, Romar teve câncer de pele no nariz, tumores que foram cauterizados. Já em março de 2020, surgiu um câncer na boca, como uma ferida. Os desafios estavam novamente postos. No fim daquele ano, a biópsia apontou câncer novamente e dois nódulos com metástase no pescoço. Foram meses intensos, em meio a pandemia por Covid-19, hospitalizado. Com o aparato da saúde e o amparo da família e amigos, e a grande vontade de viver, as batalhas foram sendo superadas.
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Filho de Benjamim Rigon e Armelinda Bellé Rigon, é o mais novo entre os 15 filhos do casal. Natural da localidade de Linha Travessa Karnopp, hoje área pertencente à Passa Sete, aos 12 anos mudou-se para a sede de Sobradinho para estudar. Após concluir o 2º Grau, com habilitação como técnico em Contabilidade, foi para o Exército. Ao retornar, começou a trabalhar como atendente na Rodoviária de Sobradinho. Foi lá que surgiu o convite de João Vianei Zasso de Castro, para trabalhar na Rádio Sociedade Sobradinho, como operador de mesa e anos depois com os serviços contábeis e chegou a participar de um programa aos sábados.
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A conexão com a leitura se estabeleceu na infância. “Lia tudo, até bula de remédio. Morava no interior e tudo o que aparecia lá em casa, com texto, eu lia. Gostava também de ler gibis. Quando me mudei para Sobradinho, passei a ler os clássicos, como os de Machado de Assis, Érico Veríssimo, e me apaixonava por aquelas leituras. Depois, com a rotina de adulto, passei a ler um pouco menos estas obras clássicas da literatura, e acrescentei a música. Nessa época já me questionava se a vida era apenas trabalhar, voltar para casa, dormir e no dia seguinte repetir: ‘essa vida assim só não tem sentido, tem que ter alguma coisa a mais’. Sempre fui muito questionador”, revela, mencionando que aos 30 anos ingressou em grupos de meditação, os quais, aos 49 anos, diagnosticado com leucemia, acabaram tendo também uma pausa. “Até os 49 anos, eu achava que controlava alguma coisa da vida, e depois dos 50 eu não controlava mais nada. A vida passou a me controlar, e muito melhor do que se fosse eu”, acrescenta Romar.
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No retorno para casa, após as internações, ele então questionava-se sobre o que fazer daquele momento em diante. Foi quando surgiu a fotografia. “Sempre gostei muito da lua. Tinha uma camerazinha pequena, mirava na lua, aproximava ao máximo e aparecia apenas uma bola branca na imagem. Meu filho tinha uma câmera, a peguei emprestada, mas fiquei uns dois anos apenas fotografando no modo automático, então ainda não ficava como eu queria. Resolvi começar pesquisando na internet tutoriais e passei a fotografar no modo manual.” Pouco tempo depois, ficou sabendo de um curso de Fotografia em Sobradinho, do qual participou e aprimorou suas habilidades, assim como aprendeu sobre edição de imagens e pós-produção. Aí as lentes não pararam mais de mirar a lua e outros tantos elementos e contextos. “Para mim fotografia é tudo, é minha paixão”, ressalta Romar.
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A escrita surgiu em meio a dor de uma perda. Uma carta sobre a vida e a morte foi o primeiro texto publicado. Depois deste, que marcou um momento doloroso e de profunda reflexão, Romar passou a escrever mais e a compartilhar com os demais o que antes seria uma produção só sua.
Para o Jornal Gazeta da Serra escreveu semanalmente, durante dois anos, na coluna “Um pouco da vida”. Em suas crônicas abordou diferentes temáticas, especialmente sobre o cotidiano e a questão humana. Estas e outras pautas seguem sendo inspiração para textos que surgem em momentos diversos, especialmente quando está em seu sítio, em meio ao canto dos pássaros e a tranquilidade da natureza. Suas fotos também ilustraram matérias e marcaram muitas edições do semanário. A leitura dos clássicos e de outras obras também retomou. E também tem ainda o artesanato.
Em 2024, Romar recebe a honraria de ser escritor homenageado da 28ª Feira do Livro de Sobradinho, uma inesperada e grata surpresa. “Foi muito emocionante. É uma alegria”, salienta.
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