Regional

Em Cerro Branco, a destruição foi generalizada

Durante as enxurradas e enchentes do início deste mês, praticamente todas as cidades situadas nas proximidades de rios e arroios sofreram com a força das águas, e com Cerro Branco não foi diferente. Banhado pelo Rio Botucaraí, o município acumula danos generalizados na cidade e no interior, onde algumas localidades permanecem isoladas para veículos até agora devido à impossibilidade de reabertura das estradas. Entre escombros e preocupações, moradores e autoridades tentam retomar a rotina.

Lawall diz que a sensação é de impotência | Foto: Alencar da Rosa

“É um misto de desânimo e impotência, nós não podermos atender a todos é uma situação muito complicada”, relata o prefeito de Cerro Branco Edson Lawall. Mesmo distante quase 900 metros do rio, a Avenida 12 de Maio, principal via da cidade, foi tomada pela água, que em alguns pontos passou de 1,5 metro de altura. Com isso, centenas de residências, comércios e prédios públicos foram inundados. Mesmo depois de três semanas, pilhas de entulhos contendo móveis, eletrodomésticos e restos de construções permanecem nas ruas à espera de remoção.

LEIA TAMBÉM: Estado orienta cidadãos sobre prazos e serviços; veja o que mudou

Publicidade

Já no interior, a região serrana, no trecho que liga Cerro Branco a Lagoa Bonita do Sul, é a que mais preocupa. Por lá, algumas comunidades permanecem inacessíveis para veículos em função das quedas de barreiras e destruição das estradas pelas enxurradas. Para chegar, é preciso caminhar por trilhas abertas em meio ao mato. A única alternativa à RSC-481 é a estrada de Linha Lajeado, que sofre com as movimentações do solo. “Ainda tem muita água vertendo, então nós arrumamos, passam poucas horas e ela fica novamente intransitável devido aos deslizamentos.”

Lawall diz que a Prefeitura é cobrada com frequência pelos moradores e ele, enquanto prefeito, entende a urgência e as angústias da população, mas frisa que não há meios e recursos financeiros para suprir todas as demandas. “O cenário é desesperador, a gente não sabe onde atacar primeiro.” Em um trecho da RSC-481, o Rio Botucaraí avançou tanto que derrubou parte da pista, que precisou ser bloqueada. Com isso, a ligação do Centro com o Bairro Rio Branco só é possível utilizando uma rota alternativa por Linha Alta.

LEIA TAMBÉM: Pelo menos 120 residências sofreram danos em Sinimbu

Publicidade

Por Cerro Branco ser um município pequeno, com apenas 3,8 mil habitantes, as dificuldades se tornam ainda maiores, visto que o parque de máquinas também foi inundado e os servidores públicos foram igualmente afetados. “Não possuímos outras rendas senão as repassadas pelo Estado e pela União, a nossa arrecadação própria é insignificante, então não conseguimos avançar muito com aquilo que temos.” Lawall cita ainda a necessidade de respeitar os trâmites burocráticos inerentes ao poder público para obter auxílios e recursos – mesmo com a situação de calamidade pública decretada – como impeditivos para a agilidade da recuperação.

A dificuldade do recomeço

Morador da Avenida 12 de Maio, o aposentado João Carlos da Rosa, de 68 anos, conta que construiu a casa acima do nível da rua já pensando em se proteger de eventuais problemas. Até então, a única vez que uma inundação havia invadido o seu pátio foi em 2015, mas nunca avançara sobre a residência. Dessa vez, contudo, a água chegou à altura do peito e provocou a destruição de móveis, eletrodomésticos, veículos e demais pertences dele, da esposa e da filha, que no momento estavam no restaurante da família, na mesma avenida.

LEIA TAMBÉM: Mineiros trazem auxílio para o Vale do Rio Pardo

Publicidade

Ele conta que a parte externa já estava inundada e, por volta das 13 horas do dia 30 de abril, a água invadiu a moradia. “Eu não tinha mais como sair, a correnteza era muito forte.” Durante toda a tarde, João Carlos ficou ilhado dentro da própria casa e tentou salvar alguns objetos. “Quando fiquei com frio, subi na janela e me segurei enquanto aguentei, depois desci para a água de novo. Foi baixar somente por volta das 18 horas.” Por duas vezes, um barco foi até o local mas não conseguiu acessar o pátio para fazer o resgate.

Rosa: água nunca tinha subido tanto | Foto: Alencar da Rosa

Agora, a família busca forças para recomeçar em meio a uma comunidade muito abalada pela tragédia. “A nossa cidade já era parada, mas agora está vazia. Você não vê movimento nas ruas, no comércio, as pessoas estão buscando se recuperar dos prejuízos”, observa o empresário Brandon Beskow. Além de sua academia, a enxurrada atingiu o supermercado da família e o consultório odontológico da irmã. Ele afirma que foram várias tentativas de salvar veículos e alguns pertences, mas a água não parava de subir e, por fim, tudo foi atingido de alguma maneira. “A gente resolvia uma coisa e dali a pouco já precisava fazer novamente, foi um nível muito alto e subiu rápido.”

LEIA TAMBÉM: Gazeta e clubes de serviço lançam campanha para auxiliar famílias atingidas pela enchente; saiba como doar

Publicidade

Relato semelhante é feito pelo agricultor Anegildo Lourenço, de 54 anos, cuja casa fica próxima de onde houve o deslizamento da RSC-481. Apesar de a moradia não ter sido afetada, ainda que por poucos metros, ele perdeu um galinheiro, um chiqueiro, árvores e um grande pedaço do terreno, que agora está dentro de uma enorme cratera. Ele e a esposa deixaram a residência e aguardam a liberação das autoridades para voltar.

Casa de Anegildo escapou por pouco | Foto: Alencar da Rosa

LEIA AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO PORTAL GAZ

Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙

Publicidade

Iuri Fardin

Iuri Fardin é jornalista da editoria Geral da Gazeta do Sul e participa três vezes por semana do programa Deixa que eu chuto, da Rádio Gazeta FM 107,9. Pontualmente, também colabora nas publicações da Editora Gazeta.

Share
Published by
Iuri Fardin

This website uses cookies.