O cenário é de reconstrução na localidade de Linha do Rio. Uma das áreas mais afetadas pela catástrofe climática em abril se reergue, deixando para trás, aos poucos, a destruição e os traumas provocados há cem dias. Em uma propriedade nas margens da VRS-858, o produtor Luciano João dos Santos, 42, e a família trabalham em uma propriedade de cinco hectares. A área arrendada ficou inundada em razão das enxurradas. “Era um mar de água”, descreveu. Com muita dedicação, conseguiu recuperá-la e plantar 74 mil mudas de tabaco. “E assim vamos nos recuperando”, disse.
Quem trafega pela rodovia percebe que os destroços ainda estão presentes em muitas propriedades. Ruínas de residências, galpões e outros prédios formam a paisagem junto com escombros. Porém, aos poucos, o verde das plantações surge em meio à lama que ficou. Gastão Gaspar Englert, 74 anos, e a esposa Lorena, 77, trabalham para dar vida nova ao quintal. “Era tudo gramado, restou apenas lodo”, disse o aposentado.
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Foram dois meses para limpar e restaurar o interior da residência. Contudo, restaram algumas marcas do dia 30 de abril. Elas estão em manchas na mobília, que demonstram a altura da água. As portas do armário da cozinha precisam ser abertas com cuidado, pois podem quebrar. Os roupeiros do quarto são sustentados por tijolos, já que a estrutura original foi danificada.
Englert não esconde o incômodo quando olha para esses sinais. “Me sinto perdido e desanimado. Dá medo só de pensar que isso pode acontecer de novo”, desabafou. Apesar de tudo, a família retoma aos poucos a rotina. Na manhã de sábado, Lorena trabalhava com afinco na cozinha, preparando pastel e bolo. O marido caminha pela propriedade e observa a plantação de tabaco na área de 4 hectares que foi arrendada. “Vai ficar tudo bem, eu sei que vai”, disse.
Seguir em frente
Entre as histórias de desespero e de luta diante da catástrofe, a da família Roos foi uma das mais comoventes. Em maio, o servidor público Vilson Roos, de 67 anos, relatou à Gazeta do Sul que transformou a geladeira da sua residência em uma canoa para salvar os filhos. Devido aos estragos no lar, Roos e a esposa Rosélia, 63, ficaram na cidade por dois meses. Com muito esforço, ela foi recuperada para que o casal, a filha Cristiana, o genro Ricardo e os netos Enzo Gabriel e Matteo voltassem para lá.
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A limpeza não foi fácil. Somente do banheiro, foram 35 viagens com o carrinho de mão para remover todo o lodo. Com exceção de dois freezers, roupas, móveis e outros objetos foram levados pelas águas. “É uma tristeza muito grande, sabe, ver tudo que tu tinha indo embora em um piscar de olho. Mas por mais que os bens materiais tenham ido, as nossas joias ficaram – os netos e a família”, disse Rosélia.
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A garagem, que era de madeira e foi destruída, deu lugar a uma nova edificação, agora de concreto. Nos fundos da casa, a aposentada fez um pequeno jardim e construiu um novo galinheiro. De lá, é possível ver as residências dos vizinhos sendo recuperadas. Uma das moradoras teve a sua casa, de madeira, levada pela correnteza. A nova está quase pronta. Um dia, Rosélia foi até ela e disse: “Filha, vamos erguer a cabeça e seguir em frente. O que mais vamos fazer? Seguimos lutando.”
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O que diz a Prefeitura
A assessoria da Prefeitura de Candelária afirmou, em nota, que está com todos os maquinários próprios e também com máquinas locadas para recuperar as localidades atingidas e as estradas que precisam de atenção. As localidades de Costa do Rio, Linha do Rio, Quilombo e Linha Alta foram muito afetadas. Conforme o governo municipal, o trabalho de recuperação é longo.
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