Entrando em seu sétimo ano, a guerra na Síria já é o maior desastre humanitário da história desde a Segunda Guerra Mundial. A constatação é da ONU que, num informe apresentado nesta terça-feira, qualificou a Síria como “uma grande câmara de tortura”.
“O país hoje é um lugar de um horror selvagem e injustiça absoluta”, disse o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein. “Na medida que o conflito entra em seu sétimo ano, trata-se já do pior desastre do mundo desde a Segunda Guerra Mundial”, disse.
Para a ONU, os números evidenciam essa realidade: são 13,5 milhões de sírios que necessitam de ajuda, mais de 6 milhões de deslocados internos, 3 milhões de sírios menores de 5 anos que cresceram sem saber como é viver em um país sem conflitos. No total, 5 milhões foram obrigados a deixar o país.
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“Mas nem os apelos desesperados das pessoas de Alepo teve impacto em líderes globais”, insistiu. “Nem as atrocidades contra a comunidade Yazidi pelo Estado Islâmico”, lamentou.
“Vetos têm minado as esperanças para um fim dessa carnificina sem sentido e impedido que os crimes sejam levados às cortes”, declarou Zeid. O alto comissário acredita que é “incontável” o número de detenções e desaparecimentos. “Há uma onda de banho de sangue e atrocidades”, insistiu.
A ONU, porém, deixa claro que a Síria é hoje o palco de uma “guerra por procuração”, com potências se enfrentando pelo controle da região.
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Num informe ainda preparado pela Comissão de Inquérito sobre os Crimes na Síria, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, a constatação também aponta para uma guerra cada vez mais internacional. Os ataques desses governos “aumentam a preocupação em relação à escalada do conflito e o potencial de danos para os civis”.
Segundo o documento de Pinheiro, o EI está “perdendo terreno”, especialmente em Alepo, Homs e ar-Raqqah. Mas ele alerta que “atores externos continuam a providenciar apoio material e financeiro a atores dentro da Síria, contribuindo para arrastar o conflito e o sofrimento da população”.
“O envolvimento de atores externos na guerra levou a uma maior fragmentação do cenário político e militar, contribuindo para aumentar os níveis de violência e extremismo”, disse. “Ainda que a guerra contra o EI esteja dando resultados, civis continuam a ser as principais vítimas”, alertou. “A multiplicação de atores militares apoiados por agentes de fora pode se transformar em um obstáculo formidável para obter um acordo político”, insistiu Pinheiro.
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A Comissão pede que os ataques da coalizão internacional sejam “proporcionais” e que respeite a população local.