Uma situação inusitada, para não dizer trágica, chamou a atenção de muitos santa-cruzenses nesta semana. Entre os dias 4 e 28 de abril foi confirmada a morte de cinco bebês antes mesmo do nascimento. Os óbitos foram registrados por funerárias locais em páginas na internet e geraram comoção nas redes sociais. Conforme levantamento da Gazeta do Sul junto ao Hospital Santa Cruz (HSC), local onde ocorreram os falecimentos, o número, de fato, é anormal.
Em todo o ano de 2019 foram registrados 12 óbitos do tipo no local. Neste ano, somente nestes quatro primeiros meses já foram 10. Este fato, por si só, já mostra um crescimento de falecimentos dos chamados “natimortos” (termo atribuído ao feto quando morre dentro do útero materno), tendo em vista que ainda faltam oito meses para terminar o ano e o número pode aumentar. No entanto, somente em 24 dias do mês de abril foram cinco mortes, o que agrava esse contexto.
De acordo com o diretor de uma das empresas funerárias da região, que preferiu não se identificar, o quadro neste mês saiu fora do normal. “Volta e meia acontece, mas fazia meses que não ocorria assim”, comentou. Conforme o médico responsável pelo Centro Obstétrico do HSC, Leandro Assmann, a situação reflete uma casualidade.
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“Não existe nenhuma explicação técnica para todos esses casos terem acontecido ao mesmo tempo. Tínhamos um grande número de internações de alto risco, com pacientes que possuíam alguma intercorrência no pré-natal, o que aumentava a possibilidade de ocorrerem situações assim, e todas aconteceram ao mesmo tempo”, explicou o obstetra.
Em sua avaliação, não houve ação, efeito externo ou epidemia que foram responsáveis pela casualidade. “Nem mesmo algum aspecto específico de um ou outro profissional foi determinante para essa situação. Nada a ver com alguma ação que fizemos ou deixamos de fazer”, complementou Leandro. Conforme a assessoria de imprensa do HSC, a instituição de Saúde realiza em torno de 170 partos por mês. O hospital ainda promove procedimentos de curetagem em gestantes após aborto espontâneo.
“É natural que sejam realizados no HSC, pois a instituição é referência em partos de alto risco, sendo o único na região a possuir UTI Neonatal, UTI Pediátrica e Unidade de Cuidados Intermediários (UCI). Por isso, todos os casos graves vêm para o Hospital Santa Cruz”, enfatizou a assessoria.
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Outra dúvida levantada por pessoas nas redes sociais dizia respeito ao deslocamento de profissionais para atendimentos relacionamento à pandemia do novo coronavírus. “Nenhum profissional do Centro Obstétrico foi deslocado da unidade por causa da Covid-19. O trabalho não teve alteração, a não ser a capacitação para atender possíveis gestantes contaminadas”, frisou o HSC. Procurada, a Prefeitura disse que vai solicitar informações ao Hospital Santa Cruz, que é responsável pela realização de partos.
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Divulgação das funerárias
Conforme uma determinação de 2009 do Ministério da Saúde sobre a vigilância epidemiológica dos óbitos infantis e fetais em âmbito nacional, bebês prematuros com mais de 20 semanas de gestação que forem a óbito precisam ser registrados em cartório. Com menos de 20 semanas, fica facultativo se os pais querem registrar ou não. A partir disso, as funerárias se encarregam dos serviços, o que ultimamente vem ocorrendo na divulgação dos atos fúnebres na internet.
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O fato, segundo o HSC, pode influenciar na percepção das pessoas em achar que nos últimos tempos vêm ocorrendo mais casos de bebês nascidos mortos. “Essa determinação, do registro de crianças mortas durante a gestação, não é tão recente, mas sim a publicação de óbitos em redes sociais é que não ocorria da forma que é hoje”, ressaltou a assessoria do HSC. “A impressão que se passou à sociedade é que as gestantes perderam os bebês no parto, ou pós-parto, o que não é verdade. Foi durante a gestação”, finalizou.
“Esperaram demais”, afirma avô de uma das vítimas
Berço pronto, roupas compradas e brinquedos à espera no quarto. Andressa e Anderson já se organizavam para a chegada da primeira filha. A programação dava conta de que Isabela viria ao mundo no mês de junho. No entanto, após uma sequência de fatos nos últimos dias, veio a falecer na última terça-feira, 21, na barriga da mãe. Em entrevista à Gazeta do Sul, o avô da criança, Gilmar Daniel Lopes, de 59 anos, relatou o drama vivido pela família.
A menina seria a sua segunda neta – já possui uma de 4 anos. Segundo ele, a filha Andressa, de 24 anos, possui pressão alta. Na quinta-feira, 23, ela baixou no hospital com sintomas de pré-eclâmpsia (síndrome que pode ocorrer durante a gravidez, e os sintomas podem incluir hipertensão). Foi medicada e recebeu alta. Em casa, sentiu-se mal novamente e precisou voltar ao Hospital Santa Cruz no domingo, 26, onde ficou internada. Ela estava grávida de 7 para 8 meses.
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“Na segunda-feira, 27, ela notou que a bebê não se mexia mais. Fizeram exames para escutar os batimentos e falaram que estavam baixos. Aí, na ecografia de terça-feira, notaram que a criança estava sem vida”, afirmou Gilmar. “Nos falaram que a criança estava recebendo pouco sangue. Colhemos informações lá dentro do hospital e nos disseram que esperaram demais e o certo teria sido retirar o bebê em cesária, já na primeira vez que minha filha internou, mas ficaram se enrolando”, complementou o avô.
Segundo ele, a mãe segue internada, sob efeito de calmantes, e não acompanhou o velório da criança, ocorrido na manhã de quarta, 29. “Desde já, quero agradecer o atendimentos dos enfermeiros. Não posso dizer o mesmo do médico residente”, finalizou Gilmar. A Gazeta do Sul questionou o Hospital Santa Cruz sobre o assunto. Conforme a assessoria de imprensa da instituição de Saúde, seus profissionais não podem se manifestar publicamente sobre casos específicos.
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