Diante de uma pandemia como poucas vezes registrou-se na história moderna, capaz de expor a vulnerabilidade do ser humano e causar medo – seja pelas mortes, seja pela velocidade do contágio –, uma grande quantidade de pessoas está passando por cima de qualquer temor para ajudar o sistema de saúde. Em Santa Cruz do Sul, desde 17 de março, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesa) abre a possibilidade de profissionais se cadastrarem para trabalhar de forma voluntária nas ações de prevenção e combate ao coronavírus. Ao todo, 418 pessoas já se inscreveram. Dessas, 149 se cadastraram para a área da saúde, sendo 98 técnicos em enfermagem, 42 enfermeiros e nove médicos.
O desafio de trabalhar em um cenário atípico, ainda desconhecido e com alto grau de periculosidade, é uma experiência que instiga Alynson Taylor Pires Rodrigues, de 26 anos. O técnico de enfermagem do Hospital Santa Cruz (HSC) se dispôs a trabalhar como voluntário. “Nunca medi esforços para ajudar o próximo, principalmente em se tratando de saúde. Vi essa oportunidade como um novo desafio, com novas rotinas e novas experiências”, disse Alynson.
Ele não esconde o receio de ser infectado por coronavírus, no entanto, ressalta que sua profissão, independente da situação, requer cuidados diante de riscos diários. “É importante que a população veja isso como uma forma de apoio, que está amparada por nós, da saúde. Estamos deixando nossas famílias em casa, adiando todos os nossos afazeres e, de uma forma voluntária, arriscando as nossas vidas pelas vidas dos outros.” Os voluntários já vêm atendendo pessoas com sintomas de Covid-19 no ambulatório de campanha, instalado junto ao Ginásio Poliesportivo.
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Dentre as recomendações que Alynson dá às pessoas que ainda não estão dando a devida importância para os riscos do coronavírus, está prestar atenção aos órgãos de saúde. “Todos devem dar atenção quando a gente pede para ficar em casa. Este vírus é invisível, está em todos os lugares, onde a gente menos espera. Portanto, tenha bons hábitos de higiene e lave as mãos, pois elas são uma das principais portas de entrada deste vírus em nosso corpo.”
Conforme a Sesa, o cadastro de profissionais é uma medida de prevenção. “Esse apoio de voluntários é muito importante neste momento, principalmente na Saúde, que possui muitos profissionais afastados por motivos diversos. Precisamos do envolvimento de todos”, afirmou o titular da pasta, Régis de Oliveira Júnior. Quem tiver interesse em se cadastrar, tanto para trabalhar como voluntário em saúde como em outras áreas, pode acessar os formulários de inscrição (clique aqui).
“Estamos aqui por vocês, fiquem em casa por nós”
Caçula dentre dez irmãos, Suzana Alves de Brito, de 27 anos, literalmente escutou um chamado para trabalhar na área da saúde. No rádio de sua casa, ainda quando estudava no ensino médio da Escola João Neves da Fontoura, em Cachoeira do Sul, ouviu uma notícia sobre a abertura das inscrições para a prova de ingresso no curso de Técnico em Enfermagem, no Hospital de Caridade e Beneficência (HCB). Fez e passou.
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“Da minha família, só eu fui para essa área. Sem ter noção de nada sobre hospital, me apaixonei pela saúde”, afirmou Suzana, mais conhecida como Suzy onde trabalha, no bloco cirúrgico do Hospital Santa Cruz (HSC). “Sempre atendo meus pacientes como se fosse a mim mesma. Acredito que dar atenção e carinho ajuda muito na recuperação.”
Pensando em ajudar o próximo, Suzy logo se candidatou como voluntária no trabalho contra o coronavírus. A proximidade com o amigo Alynson, que conhece desde quando trabalharam juntos no HCB, de Cachoeira do Sul, há oito anos, foi o que faltava para embarcar no desafio. “Ele já havia se candidatado, então comentei sobre meu interesse e assim começamos juntos o voluntariado”, disse a técnica em enfermagem.
Segundo ela, a Sesa vem fornecendo treinamento para os voluntários. “Estamos sendo preparados para o caso de ficar um caos, pois quando chegar o inverno será um tumulto para identificarmos o que é gripe e o que é coronavírus”, comentou.
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Mesmo na linha de frente do combate à doença, Suzana afirma não ter medo de ser infectada, embora saiba que é um risco. “Ser infectada é uma possibilidade, mas não tenho esse medo. Vamos precisar de pessoas dispostas. Fiz um juramento e vou honrar. Se uns cuidarem dos outros, com amor ao próximo, Deus cuidará de todos.”
A voluntária deixou ainda uma mensagem para as pessoas que não acreditam na gravidade da situação: “A Covid-19 não é brincadeira. E nós, da saúde, não vamos conseguir sem a colaboração de cada um. Se todos fizerem a sua parte, teremos resultado. Estamos aqui por vocês, fiquem em casa por nós.”
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Como dona Carmen doa parte do seu tempo
Em meio a lençóis, fronhas e cobertores, Carmen Heck, de 71 anos, sente-se realizada em poder fazer algo que parece simples, mas muito necessário em tempos de incertezas. Embora tenha passado grande parte de sua vida atuando como professora, as mesmas mãos que repassaram conteúdo a muitos estudantes santa-cruzenses agora contribuem para ajudar mais pessoas, só que de um jeito diferente: através da reforma de tecidos e da pintura de siglas para identificar roupas de cama.
“A gente tem que ajudar, cada um deve fazer a sua parte se tem condições”, afirma. O material, grande parte recebido de doações, é todo destinado ao ambulatório de campanha, onde 50 leitos foram instalados para possíveis pacientes com coronavírus. Assim como dona Carmen, os profissionais do próprio Serviço Móvel de Urgência (Samu) também se dispuseram a ajudar.
De acordo com a coordenadora, Cátia Carvalho, alguns dos colegas de trabalho, que estão em período de férias ou de folga, aproveitam o tempo livre para confeccionar materiais como compressas e gaze, utilizados no ambulatório de campanha. “Fizemos um mutirão. Recebemos os materiais em grande quantidade e eles precisam ser embalados em pacotes menores para uso individual.”
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