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TRIBUNAL DO JÚRI

“Eles dois tramaram essa morte”, diz delegado sobre Caso Motocross

Foto: Alencar da Rosa

Delegado Alessander (à esquerda) falou no júri

Direto para o presídio. Logo após receber a sentença no júri dessa quinta-feira, 15, às 19h45, o réu Renato Andrade Ferreira, de 36 anos, condenado a uma pena de 18 anos de prisão, foi comunicado pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse da decretação imediata de sua prisão. Policiais militares já o aguardavam para algemá-lo e conduzi-lo até o Presídio Regional de Santa Cruz do Sul.

Esse foi o fim do chamado Caso Motocross, marcado por muitos imbróglios jurídicos e tristeza ao longo de quase cinco anos. O homicídio do mecânico Tiago Aliandro Kohlrausch, de 30 anos, em setembro de 2019, analisado nessa quinta por um corpo de jurados formado por seis homens e uma mulher, é considerado um dos crimes mais emblemáticos de Santa Cruz do Sul nos últimos tempos.

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A sessão iniciou-se às 9h30 dessa quinta. A advogada Tatiana Borsa e o advogado Vitor Quintana Filho fizeram a defesa de Renato. O promotor Gustavo Burgos de Oliveira representou o Ministério Público (MP) e atuou na acusação, ao lado do advogado da família da vítima, Frederico Eick Martins.

O caso analisado pelo conselho de sentença aconteceu na noite de 23 de setembro de 2019, uma segunda-feira, às 19h45. Tiago Aliandro Kohlrausch, que era mecânico concursado da Prefeitura de Santa Cruz do Sul, morreu com quatro tiros de pistola calibre 380 efetuados por matadores de aluguel, na garagem da casa dele, na Rua Walder Rude Kipper, Loteamento Motocross, Bairro Arroio Grande.

Renato e sua companheira na época, Patrícia D’Ávila da Luz, foram indiciados pela 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP) por homicídio triplamente qualificado. Patrícia é mãe do único filho de Tiago, que tinha 1 ano e 5 meses na época – hoje a criança está com 6 anos. Conforme as conclusões do delegado Alessander Zucuni Garcia, em um inquérito de 350 páginas, a mulher e o padrasto da criança planejaram e coordenaram o assassinato do funcionário público.

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O objetivo seria afastar o pai biológico do filho. Gabriel Nascimento da Luz, tio de Patrícia e morador de Santa Cruz, teria levado os matadores contratados até a casa de Thiago. Ele foi indiciado por homicídio duplamente qualificado. Os dois executores, que seriam de uma facção criminosa da Região Metropolitana, jamais foram localizados.

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Os outros dois réus já haviam sido condenados. Patrícia, de 24 anos, foi sentenciada a 16 anos de prisão em 15 de setembro de 2021. Essa pena foi posteriormente revertida para 13 anos e nove meses pelo Tribunal de Justiça do Estado, atendendo a apelo da defesa. Já Gabriel, de 55 anos, foi condenado a 11 anos e oito meses de prisão no último dia 18 de abril.

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Delegado detalha

Chefe da investigação que indiciou Renato, Patrícia e Gabriel, o delegado Alessander Zucuni Garcia prestou depoimento no julgamento. Com riqueza de detalhes, narrou todos os desdobramentos da ocorrência. Foi praticamente “sabatinado” pelos dois advogados de defesa do réu, que questionaram os argumentos levantados pelo titular da 2ª DP na investigação para apontar Renato como mandante.

Por vezes, Alessander tratou de fazer referência à “malandragem” de Renato, em evitar deixar evidências claras de participação no crime. Contudo, enfatizou os depoimentos de testemunhas e informações apuradas em interceptações telefônicas que apontavam para o acusado. “Eles dois tramaram essa morte, infelizmente”, disse o delegado, sobre o envolvimento do casal Renato e Patrícia no caso.

Em cerca de uma hora e meia, Alessander respondeu a todos os questionamentos que lhe foram feitos, e ainda presenciou alguns momentos tensos. Em um deles, a ex-companheira de Tiago, Ana Paula Borstmann, que estava sentada com familiares da vítima no plenário, disse que tinha sido testemunha dos problemas entre Renato e Tiago certas vezes em que o mecânico foi buscar seu filho para passar alguns finais de semana.

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A juíza Márcia advertiu-a de que não poderia se manifestar e que, se acontecesse de novo, ela seria retirada do plenário. Nesse momento, a advogada Tatiana Borsa disse que estava se sentindo intimidada por Ana, que não parava de encará-la durante a sessão. A criminalista pediu à magistrada para retirar a ex-companheira da vítima do plenário, mas Márcia reiterou que já havia pedido para ela não se manifestar mais.

Em seu tempo de fala, o promotor Gustavo Burgos de Oliveira apresentou o vídeo do depoimento em juízo do motorista de aplicativo Maurício Macedo, que trouxe os matadores de Eldorado do Sul a Santa Cruz. O rapaz contou que foi contratado pelo então companheiro de Patrícia, Renato Andrade Ferreira, para fazer uma corrida. Ele buscou a dupla em um posto de combustíveis em Eldorado do Sul, mas não sabia que era para cometer o crime.

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Promotor Gustavo apresentou elementos do envolvimento de Renato no homicídio

De acordo com Maurício, foi pedido para que ele deixasse os dois nas proximidades de uma lancheria na Avenida Euclydes Kliemann, no Bairro Esmeralda. Nesse local, eles embarcaram em outro veículo. Horas mais tarde, após a dupla ter assassinado Tiago em sua casa com disparos de pistola calibre 380, o motorista de aplicativo foi chamado por Renato para levar os matadores de volta a Eldorado do Sul. “E essa não é a única vinculação do Renato aos matadores. Temos o depoimento do outro réu, Gabriel, e informações de colaboradores da polícia”, disse o promotor.

Oliveira relatou ainda uma informação juntada nos autos sobre um laudo de psicóloga acostado pela defesa, que afirmava que Renato teria tendências suicidas. “Esse fato faz cinco anos e ele não se suicidou. Isso é só uma forma de se vitimizar”, disparou o promotor. “Que horror”, respondeu a advogada Tatiana Borsa.

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