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Elenor Schneider: “O professor é um irradiador da leitura”

Desde 2019, a Feira do Livro de Santa Cruz elege uma personalidade incentivadora da leitura. Para os organizadores do evento, é uma forma de valorizar as pessoas que estimulam o hábito de ler no município. E na 35ª edição, o professor aposentado Elenor José Schneider, de 75 anos, foi nomeado.

Por mais de quatro décadas, dedicou-se à formação de leitores, função que, na sua observação, deveria ser fundamental para aqueles que lecionam. “Professores de todas as disciplinas deveriam incentivar a leitura, não apenas os de português. O educador tem que ser leitor, não importa a área”, defende.

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Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), atuou na graduação e na pós-graduação em Letras, e muitos outros cursos. Além de educar, envolveu-se na gestão de departamento e, mais tarde, foi nomeado pró-reitor de Graduação.

Durante sua trajetória na atividade docente, estima ter educado mais de 30 mil pessoas – sobretudo no ensino superior. Por sua sala de aula, passaram empresários, políticos, artistas, comunicadores e profissionais de diversos setores.

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Embora tenha sido definido por muitos como um educador rigoroso, guarda histórias emocionantes de ex-alunos que identificam a importância do seu trabalho em suas vidas. Como forma de reconhecimento, por diversas vezes foi escolhido como paraninfo das turmas de formandos. “Sempre disse para meus alunos: não é para mim que sou exigente, mas para vocês. Porque o bom professor zela pelo aluno e quer ver ele ir longe”, enfatiza.

A jornada para se tornar um leitor

Antes de ser escolhido como personalidade incentivadora da leitura, foi necessário primeiro se transformar em leitor. “Foi uma construção gradual. Tijolo por tijolo, ou livro por livro, me constituí como leitor”, explica.

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Natural da localidade de Boa Esperança, então interior de Lajeado e hoje pertencente a Cruzeiro do Sul, nasceu em 26 de agosto de 1948. Na infância, demonstrava interesse pela leitura de notícias quando tinha acesso aos jornais. Mais tarde, no decorrer do Ginásio, foi nomeado cuidador da biblioteca escolar, passando a ler com mais frequência – cita como exemplo as obras do escritor alemão Karl May, autor de Winnetou. Nessa época, seu professor de literatura foi José Clemente Pozenato, escritor de O quatrilho e O caso do martelo.

No final da década de 1960, ao completar 20 anos, mudou-se para Santa Cruz do Sul a fim de cursar Letras. Pouco tempo depois, passou a lecionar. Diante do desafio, debruçou-se nas teorias literárias.

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Usou da criatividade para cativar os alunos. Incentivava-os a ler os clássicos e os desafiava a produzir trabalhos relacionados às suas profissões. Os publicitários, por exemplo, produziam conteúdos para divulgar as obras, enquanto os jornalistas elaboravam reportagens. “Muitos trabalhos estão comigo”, afirma. Para Schneider, os estudantes contribuíram com o seu aprendizado. Conheceu diversos livros por indicação dos alunos.

E mesmo após se aposentar, continua a incentivar a leitura e contribuir com os colegas de profissão, destacando a eles a responsabilidade do ofício. “O professor é um irradiador da leitura. Essa é a nossa vocação.”

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Conforme Schneider, o amor pela literatura permanece. Chegou a ter em seu acervo mais de 3 mil livros. “Toda hora estou comprando um novo”, admite. Além deles, acumulou diversos cadernos, nos quais escreve sobre a leitura. “Para todo livro que leio, escrevo uma página.” Atualmente, Elenor Schneider é colunista da Gazeta, e escreve quinzenalmente, às segundas-feiras.

Entrevista – Elenor José Schneider, personalidade incentivadora da leitura

  • Gazeta do Sul – Qual a importância da personalidade incentivadora da leitura?
    Elenor Schneider – O papel do incentivador da leitura também é de transformar vidas. Porque a leitura transforma vidas. É como conta no tema da feira: abrir livros é abrir as portas do mundo. Mesmo que você não tenha viajado, consegue a partir da literatura vivenciar as experiências humanas, os sofrimentos, as alegrias e a safadeza. E penso que fui indicado pela minha história. Me sinto reconhecido pelo meu trabalho, definitivamente valeu a pena tudo o que foi feito, semeou muita coisa. Muitas pessoas leem hoje em Santa Cruz por minha causa.
  • As redes sociais mudaram nossos hábitos de leitura. Qual o impacto das tecnologias?
    Acho que o grande problema que nós estamos enfrentando hoje é a falta de silêncio. Porque o celular não cessa, todo minuto tem uma notificação e aí tu perde a concentração. E para ler, tenho que ter silêncio. A concentração é fundamental.
  • Quais dicas o senhor sugere para manter o foco?
    É importante não interromper a leitura. Uma das grandes dificuldades do leitor é começar a ler o livro e deixá-lo parado alguns dias. É aí que o interesse pelo livro morre. Não abandone um livro. Tente ler pelo menos dez minutos por dia, fique dentro dele. É igual a um filme. Quando você começa a assistir, entra no clima. Se interrompe e vai assistir outra hora, perde o clima. Por isso, sugiro ficar perto do livro até terminá-lo.
  • Na sua avaliação, o que contribuiu para a Feira do Livro de Santa Cruz se consolidar e chegar à 35ª edição?
    Santa Cruz tem uma vocação literária. Acredito que existem muitos leitores no município, o que é muito importante para o êxito da feira. E tem muita produção de livros também. E qualquer leitura é válida. Independentemente do tema que a pessoa escolhe – seja um livro sobre espiritismo, autoajuda, catolicismo –, o importante é ler.
  • Por que os cidadãos do Vale do Rio Pardo deveriam ir para a Feira do Livro?
    Acho que todos deveriam ir. Profissionais de todas as áreas, os políticos, todos deveriam ir lá para buscar seiva para a vida. Procurar um livro novo, acompanhar os eventos, a Festa Literária Internacional, ouvir o que os escritores têm para dizer. A feira é para renovar um pouco da minha casa e um pouco da minha vida.

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Paula Appolinario

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Paula Appolinario

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