No artigo anterior, cataloguei alguns números preocupantes que resultaram de eleições presidenciais. Nesta quarta-feira, 18, prossigo em breve resumo das eleições presidenciais de 2010, 2014 e 2018, também em segundo turno, mais precisamente acerca dos “não votos”, quais sejam, abstenção, branco e nulo.
- Em 2010 (Dilma Rousseff x José Serra), 29,2 milhões de eleitores não compareceram, 2,5 milhões votaram “branco” e 4,7 milhões votaram “nulo”. Ou seja, 36,4 milhões (26% do eleitorado) não votaram em nenhum dos dois. Detalhe: três vezes a diferença final de votos entre os dois candidatos.
- Em 2014 (Dilma Rousseff x Aécio Neves), 30,1 milhões de eleitores não compareceram, 2 milhões votaram “branco” e 5,2 milhões votaram “nulo”. Total: 37,3 milhões (26% do eleitorado) ignoraram os candidatos. Detalhe: dez vezes a diferença final de votos entre os dois finalistas.
- Em 2018 (Fernando Haddad x Jair Bolsonaro), 31,4 milhões de eleitores não compareceram, 2,5 milhões votaram em branco, e 8,6 milhões anularam o voto. Total: 42,5 milhões desdenharam os pretendentes (28% do eleitorado). Detalhe: quatro vezes a diferença final de votos entre os dois candidatos.
Tirante a motivação por coincidentes casos de “feriadões”, há várias explicações cabíveis para essa expressiva e continuada não participação. Tem se cogitado que entre os ausentes estejam muitos idosos, grupo socialmente crescente, haja vista o aumento da expectativa de vida. Ademais, depois dos 70 anos os idosos não são obrigados a votar.
Também devemos considerar aqueles cidadãos que entendem que o voto é um direito, e não um dever. Nesse caso, a ausência, o voto em branco e nulo, poderiam caracterizar um ato de protesto. A propósito, ainda que tema polêmico, entendo que a obrigatoriedade do voto (e de comparecimento) mantém as aparências e dissimula a série crise de representação política. Representação cada vez mais desacreditada. Em outros países (de voto não obrigatório), os indicadores (ausência, por exemplo) servem como referência para denunciar e rechaçar as disputas políticas medíocres.
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Assim, desacreditação, desinteresse popular, abstenção, voto branco e nulo funcionam como forma de crítica e denunciam as práticas e métodos políticos que não oferecem alternativas, que confundem a opinião pública e que, dia após dia, tornam os partidos cada vez mais iguais entre si. Consequentemente, também é possível que haja um esgotamento (dos eleitores) na continuada polarização, a pretexto de ideologias concorrentes, mas que têm em comum escândalos incessantes e uma prática que “vive em torno de si mesma”, e que não concretiza as razões da própria existência.
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