As galochas sujas de barro do santa-cruzense Wiro Thomas sugerem que, por ali, trabalho é o que não falta. De chapéu e roupa confortável, o agricultor aposentado precisa estar com a mão na terra ou, no mínimo, pisando nela já nas primeiras horas da manhã. Cuidadoso, verifica como está o crescimento das batatas e morangas, colhe alguns limões para o suco do meio-dia e ainda projeta novas plantações pelos terrenos vizinhos. A diferença é que tudo isso seu Wiro não faz no interior. É em plena cidade, precisamente no Bairro Monte Verde, que o senhor de 79 anos dá exemplo de cooperação e transforma terrenos baldios em hortas orgânicas. “A terra e a natureza são as coisas mais bonitas que a vida já me deu”, diz.
Foi há mais ou menos 30 anos que o agricultor de Linha São Martinho decidiu investir na cidade. Comprou – e desbravou – algumas terras que, posteriormente, se tornaram o Monte Verde, e ali escreveu mais um capítulo de sua vida. Adorado pelos vizinhos (impossível resistir a sua simpatia), seu Wiro passou a cuidar dos terrenos dos outros como se fossem seus. “Antigamente eu plantava em vários. Hoje diminuiu”, lamenta como se achasse pouco. Em parceria com os proprietários, ele é autorizado a limpar, roçar, adubar e dar vida a espaços baldios espalhados pela Rua Guatambu e arredores. “Todos eles (os vizinhos) me respeitam. Sabem que eu cuido bem da terra. Aqui veneno não passa. É tudo no muque”, brinca.
Seu Wiro divide tudo o que colhe. Parte fica para os proprietários e outra para ele e a família. A comerciária Tania Eich é exemplo de quem fez parceria com o agricultor assim que adquiriu um terreno nas redondezas. “Todos aqui do bairro mantêm uma relação muito próxima com ele. É um trabalho exemplar e que fazemos questão que ele dê continuidade”, conta.
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Não é à toa que, ao caminhar pela rua, Wiro tenha que dividir a atenção entre as perguntas da reportagem e os acenos para os conhecidos que encontra. “As pessoas aqui são muito boas comigo. Sabem que eu faço todo o trabalho direito”, diz, orgulhoso.
Uma semana aqui e outra lá
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Toda manhã é assim. O relógio biológico de seu Wiro desperta logo às 7 horas. Depois de um café reforçado ao lado da esposa Ilga, 81, do filho Ornílio, 53, e da nora Mara, ele dá início aos preparativos para sair de casa. Busca o chapéu e rapidamente calça as galochas, que facilitam a “lida” nas hortas. Quando não está na cidade, trata de cuidar dos oito hectares que ainda mantém na localidade de São Martinho. “Lá eu tenho o meu potreiro e 20 cabeças de gado”, acrescenta.
Moço de quase oito décadas, seu Wiro não toma remédio algum. O segredo para tanta disposição e saúde, garante, vem da terra e do trabalho. “Só estudei quatro anos, mas homem que trabalha tão fácil não vai mal. Isso dá crescimento.” Com sotaque carregado pelo dialeto alemão que herdou dos pais, ele se esforça para encontrar as palavras certas, mas consegue transmitir uma mensagem clara: “A vida é muito boa. Tem coisa mais bonita do que deixar a natureza crescer e ter alimento na mesa?”. E é assim, com uma prosa mansa de quem não guarda nenhum ressentimento da vida, que Wiro apenas quer dar sentido aos seus dias por aqui. E isso ele faz plantando.
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