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ROSE ROMERO

Ele é feio, mas é rico

Duas meninas caminham pela calçada de uma cidade do interior. Um rapaz vem em sentido contrário. Ao se cruzarem, uma delas troca um olhar demorado com ele. A outra, que se chama Ana Paula, pergunta:

– Tu está paquerando o Rodolfo Vargas? Tu gosta dele?
– Sim, eu gosto.
– Mas ele é muito feio!
– É.

As duas seguem, livros e cadernos escolares nos braços. Até que Ana Paula conclui:
– Ah, tudo bem. Ele é feio, mas é rico.

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Eu sou a menina que gostava do Rodolfo, o feio. Mudei de cidade, virei universitária, começaram a me tratar como adulta, casei, descasei, casei de novo. E nunca mais vi o Rodolfo. Mas lembro do riso fácil e da conversa inteligente. Ele era mais culto e mais articulado do que os colegas. E era rico.

Ah, o dinheiro. Dias atrás, em uma ação beneficente, ouvi de um homem que não devia ter mais de 40 anos:

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– Minha vida é uma droga. Perdi meu emprego, trabalho na informalidade, moro de favor com minha mãe, sou um fracasso. Nasci pobre, me criei pobre, vou morrer pobre. A pobreza é a pior coisa que pode acontecer com uma pessoa.

É uma ironia. Entre a Ana e seu pragmatismo (ou seria insensibilidade?) e esse cidadão sem perspectiva se passaram mais de quatro décadas. Erro em pensar que continuamos do mesmo jeito? Dependentes da conta bancária e da aparência. Aliás, muito mais da grana, agora que ela compra o corpo que quisermos. O dinheiro é mesmo o bem mais importante?

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A economia comportamental analisa a relação entre dinheiro e felicidade. E conclui que o dinheiro traz felicidade. E que entre as pessoas felizes, quanto mais dinheiro, mais felicidade.

Por outro lado, se a pessoa é infeliz, ela pode até sentir uma certa alegria ao comprar algo que deseja. Mas é uma satisfação passageira. Dali a pouco, a infelicidade retorna. E não importa o quanto enriqueça. Se é infeliz, não tem Mega Sena que dê jeito.

A exceção seriam os muito pobres, que experimentam um bem-estar verdadeiro ao conseguir uma renda maior.

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Confesso que essas conclusões me incomodam. Elas fornecem uma explicação supostamente científica para uma sociedade mantida pela desigualdade. Não somos considerados pelo que sentimos ou pelo que pensamos. Somos considerados pelo que podemos comprar.

Ontem foi o primeiro dia de um novo ano. E o futuro tem se apresentado preocupante, em alguns momentos até sombrio. Ainda assim, acho que é preciso acreditar. É preciso ter esperança.

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