Aos 41 anos de idade, mãe de quatro filhos e já avó, Ela vende chicles, torrones e balas nos vagões da Trensurb. Paga, pela manhã, uma passagem de ingresso à plataforma de embarque e assim passa o dia trocando de vagões. Os possíveis compradores costumam ser mais receptivos à tarde, quando retornam dos seus afazeres. “Vêm com vontade de comer algum doce”, considera a vendedora, que avalia em R$ 35,00 sua venda diária.

A Ela somam-se outras pessoas que desafiam o sacolejar dos trens no ir e vir entre Porto Alegre e Novo Hamburgo. Há os mais “descolados”, que desfilam uma fala forte e incisiva. Outros timidamente oferecem seus produtos, vendidos por R$ 1,00 a R$ 5,00. Há também os que apresentam uma sacolinha aberta para coletar possíveis moedas. Em alguns momentos se pode perceber uma “estratégia de vendas” entre os comerciantes de gomas, “maçãs do amor”, fones de ouvidos, relógios digitais, pulseiras e guloseimas. Um vendedor se apresenta, seguido do parceiro, e este cede lugar ao seguinte, e assim por diante.

Feita a venda ou a coleta, muitas vezes infrutífera, agradecem e descem na primeira estação, e assim seguem revezando falas, produtos e trens. Entre as pessoas que buscam algum ganho nos vagões, às posturas encorajadas entremeiam-se atitudes quase desistentes. Todavia, não há margem para desconsolos prolongados. As dores emudecem ao som do seguinte apito de chegada e saída de um dia que se estende sacolejante, para logo a seguir recomeçar, recomeçar…

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Pela manhã, há algumas semanas, depois de identificar nove ofertantes que se revezavam num dos vagões, a um tempo desconfortado e por outro enternecido pela situação de cada um, contei os passageiros do vagão. Eram 39. Pude observar que quatro haviam comprado alguma coisa. Impressiona o grau de distanciamento indiferente que predomina entre os passageiros.

Celulares convocam bem mais atenção que os proclamas pelas qualidades dos produtos ofertados. Prevalece a sensação de que “é assim mesmo”, “não há o que fazer”, “isso não é comigo”… Ainda mais perturbado, busquei placas, sons e rostos, em somada tentativa desviante. Todavia, como ignorar o que acontece ao nosso lado, junto a cada um de nós? Não fluímos nos mesmos trens?

No final da tarde, já retornando, conversei com Ela, invisibilizada, mas real. Gentil e guerreira, contou sua história. Inquieto, guardei seus olhos destemidos em súplica esperançosa. Trens transportam, e podem sensibilizar.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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