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“Ela feriu a minha alma”, diz Renatinho, ofendido com termos racistas por mulher

Em seu local de trabalho, Renatinho recebeu a equipe da Gazeta do Sul e falou sobre o episódio no dia do seu aniversário

A sexta-feira estava programada. Docinhos e a torta haviam sido adquiridos e deixados na mesa de casa, e a camiseta nova e o tênis, comprados na conta de um amigo em uma loja da cidade para a data especial, estavam separados para usar na noite. No entanto, o garçom Renato Santos, o Renatinho, não poderia imaginar que seu aniversário, aguardado durante o ano inteiro, não ficaria marcado pelos parabéns de amigos e familiares e sim pelas ofensas de uma desconhecida.

O caso de injúria racial que chocou Santa Cruz do Sul aconteceu no Santomé Bar e Restaurante, onde Renatinho trabalha. Ao final da manhã da última sexta-feira, 2, uma mulher chegou ao estabelecimento e foi atendida pelo garçom. Ao longo do tempo em que permaneceu no local, ela proferiu diversos termos racistas contra o santa-cruzense, que completou 32 anos na data. Vídeos gravados por clientes e imagens de câmeras de segurança mostraram as ofensas.

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Já dentro da viatura, presa pela Brigada Militar, em vídeo gravado pelo garçom, é possível ver a mulher perguntando: “Tu acha que ser preto é bom?”. Em determinado momento, também ameaça o homem de morte: “Tu vai ver se eu não te mato”.

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A Gazeta do Sul apurou que a autora é Rejane Maus. Ela foi assistida pela Defensoria Pública em audiência de custódia na sexta-feira e, às 19 horas, deu entrada no presídio, onde dormiu. Mesmo diante do flagrante da BM e da homologação da prisão pela Polícia Civil, o Poder Judiciário concedeu liberdade provisória à mulher, mediante termo de compromisso de comparecimento a todos os atos do processo. Às 17h02 de sábado, ela já estava na rua. A autora dos insultos deverá comparecer mensalmente em juízo para informar suas atividades. Renatinho, que se criou no Bairro Bom Jesus e hoje mora em uma pensão na área central da cidade, para ficar mais perto do trabalho, recebeu a Gazeta nessa segunda-feira, 5, no Santomé e falou pela primeira vez sobre o caso.

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“Estou bem abalado. Não consegui fazer nada das coisas que eu gosto. As palavras que ela falou vão ficar na minha cabeça o resto da vida. Ela feriu a minha alma”, comentou. Ele contou que assim que ela chegou, pediu cerveja. “Eu levei a bebida, passei pano na mesa. Logo depois ela me chamou de negro e mandou eu limpar o chão. Depois, passou a me ofender me chamando de macaco. Fui para dentro, limpei outras mesas, mas ela vinha atrás”, revelou o garçom.

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“Estava envolvido, faceiro. Pensei que não era possível estar passando por isso no dia do meu aniversário, que me programei há tempo. Aí vem essa mulher e termina com meu ano, me perseguindo, torturando meu psicológico”, disse ele. “Eu queria aproveitar, passei o ano esperando chegar dezembro. Os docinhos e a torta eu até dei para os vizinhos da pensão. Não tinha clima para festa na sexta. Nem falei para eles que era meu aniversário.”

“Era o mínimo que a gente podia fazer”, diz empresário que chamou a BM

Para o garçom Renato Santos, as ofensas proferidas por Rejane Maus não apenas estragaram seu aniversário, mas o projeto para o verão. “Temos um grupo de praia com amigos, vamos todos os anos. Já disse que não vou mais. Eu estou sempre brincando, mas não tem mais clima. Tenho medo de entrar em depressão. As palavras que ela usou foram fortes.” No último domingo, Renatinho contou que foi a um pagode, tentar se esquecer do fato.

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“Não consegui ficar. Logo saí, porque volta e meia isso me vinha na cabeça. É inadmissível uma pessoa com tanto ódio, com racismo no extremo. Ela me olhava com raiva. A gente vê racismo todo dia. Muita gente fala que é ‘mimimi’, mas não passa na pele o que passo. Muitas vezes, acabo até fazendo vista grossa em algumas situações, porque não dá nada, não adianta.” Ao longo dos últimos dias, o garçom vem recebendo muitas mensagens de apoio de amigos e de pessoas desconhecidas. “Recebi muita mensagem e preciso pedir desculpas por não ter conseguido responder todo mundo, mas foi um choque.”

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Renatinho foi avisado pela Gazeta de que a autora das ofensas havia sido liberada pela Justiça. Ele ainda não sabia. “Eu fico magoado e triste, porque quando é do outro lado da moeda, é diferente. Se fosse eu no lugar dela, estava preso até agora. Fico magoado com isso que fiquei sabendo agora. Vai ser difícil me estabilizar de novo, mas quero que a justiça seja feita. Eu vou até o final, independentemente das ameaças dela, de que ela iria me matar”, garantiu.

Responsável por chamar a Brigada Militar na sexta-feira, o empresário Kléber Eduardo Grutzmann, de 35 anos, comentou a repercussão do caso. “Era o mínimo que a gente podia fazer. Quando vemos uma agressão, seja ela racista ou homofóbica, é preciso denunciar. Espero que ela pague e casos do tipo não aconteçam mais em Santa Cruz”, comentou.

Proprietário do Santomé, Kléber Eduardo Grutzmann acionou a Brigada na sexta | Foto: Bruno Pedry
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Compir promove ato contra o racismo

Conforme a presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), Vera Lúcia da Silveira, há pelo menos 21 notificações de casos de injúria racial somente neste ano em Santa Cruz do Sul. A maioria não é registrada na delegacia, explica ela, porque ocorre em ambientes de trabalho e as vítimas têm receio de serem demitidas ou ficarem marcadas pelos autores.

Nesta quarta-feira, 7, às 17h30, na Praça Getúlio Vargas, o Compir realizará um ato público contra o racismo, em parceria com a Prefeitura de Santa Cruz, Cooperativa de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat), Coordenadoria Municipal da Mulher e Movimento 4Black.

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