Era assim que os argentinos o chamavam: o garoto de ouro. Genial, rápido, um cérebro privilegiado para encontrar os caminhos sinuosos do futebol. Tinha tudo que precisava para não ser jogador de futebol. Pequeno, sem impulsão para enfrentar um zagueirão. Mas se colocava de tal jeito que, com sua altura que deixava a desejar, encontrava uma saída escondida e de lá cabeceava num cantinho milimétrico onde o goleiro não estava.
Perigoso como uma cobra da Índia, passava em ziguezague, sem se dar ao luxo de uma trombada. Desculpem, trombada era comigo quando eu jogava futebol. Mais de 1,90 de altura, sem muita ou nenhuma velocidade. Eu fazia o seguinte: tinha força e, portanto, passava a bola para quem sabia, pois eu não tinha habilidade.
“El pibe”, no entanto, ao meu ver, era mais jogador que o Pelé. No tempo de Pelé havia cada jogador gordo e balofo, que vou te dizer! Aquelas dancinhas contra aqueles suecos, para lá e para cá, no tempo do Pelé, redundariam, mais tarde, numa voadora no pescoço.
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Também quero recordar que um dia ouvi de um alemão, muitos anos atrás, a seguinte frase: “vocês, os jogadores brasileiros e sul-americanos, são gente que não foi à escola, não estudou outro idioma, passou treinando noite e dia, são hábeis, mas não têm muita ideia de tática. Mas seu talento é tal que um jogador resolve, num átimo, sozinho, num lampejo, a parada.” “El pibe” era um desses gênios. Como a maioria, jogadores brasileiros e argentinos, incluindo os uruguaios, procedem de famílias pobres.
Vou abrir parênteses.
Há muitos jovens no Brasil, de famílias mais abastadas, que se dedicam ao tênis, golfe, natação, etc. Garanto que, se se dedicassem ao futebol, poderiam ser bons jogadores.
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O problema é a faculdade, os cursos, os intermináveis estágios. Fazem bem. Melhor uma profissão segura e não uma que um “carrinho” nos joelhos tira o jogador, para sempre, do esporte bretão.
O jogador de futebol, como “El Pibe”, maravilhou-se com as luzes dos restaurantes finos, as viagens de avião em primeira classe, as “marias chuteiras”, prontas para o amor feito entre luxos e perfumes.
Nada mais era caro, tudo passava a ser barato.
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Mulheres com dentes perfeitos, cabelos lindíssimos, saradas.
Que belíssimo novo mundo.
Surgem ambientes em que, além da champagne, se servem passagens para um outro mundo cheio de prazer: a cocaína, LSD e outros caminhos para o céu da felicidade.
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O problema, mais que a mente, é nossa carcaça. O corpo, bem ou mal, tem problemas, como hepatite, câncer, coração, etc.
“Se equivocó la paloma, se equivocaba…”
LEIA OUTRAS COLUNAS DE RUY GESSINGER
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