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Egito: Pirâmides, tesouros e mistérios

A trinta minutos do Cairo, em Gizé, margem oeste do Nilo, comerciantes e guias recepcionam batalhões de turistas, ávidos por alcançar as grandes pirâmides. No caminho para a única maravilha restante do mundo antigo, sou interpelado pelo autointitulado prefeito da cidade. Mais adiante, encontro mais prefeitos que, no final de seus discursos de recepção, me oferecem quinquilharias, papiros “raros” e passeios de camelo.

Assédios comerciais à parte, é impossível não ficar estupefato diante dos três colossos de pedra, monumentos universais ao talento de antigos arquitetos, e homenagem, tanto quanto ao faraó que ali jazia, às gerações de trabalhadores (não eram escravos) que os construíram. Por mais que tenham sido saqueadas e mutiladas ao longo de milhares de anos, as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos – pai, filho e neto – reinam com impassível grandeza no deserto há 46 séculos. Próxima dali, a esfinge, com 80 metros de comprimento por 46 de altura, pequena perto das pirâmides, se agiganta quando admiramos suas feições e expressão. Usado no treinamento de artilharia durante a ocupação turca, o monumento perdeu não somente o nariz, mas também a barba que, como boa parte dos tesouros egípcios, hoje reside no Museu Britânico, em Londres.

A maior pirâmide, Quéops, foi erigida com 146 metros de altura e 230 metros de lado na base. Ignorando as teorias esotéricas sobre sua construção, acredita-se que foram necessárias 25 mil pessoas para empilhar os 2,3 milhões de blocos do monumento funerário, ao longo de cerca de 11 anos. Só consegui assimilar suas dimensões percorrendo o interior, em um árduo aclive por passagens longas e estreitas até a câmara do faraó, no centro da pirâmide. Ali resta somente a parte inferior do sarcófago, envolta por paredes altas de granito. Sugiro aos claustrofóbicos que evitem essa parte da visita.

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A pirâmide central, de Quéfren, é apenas 3 metros mais baixa que a de seu pai, e ainda exibe parte da cobertura em pedra calcária, fazendo dela a mais bonita das três. Miquerinos é bem menor, com 62 metros de altura. Outras pirâmides menores e estruturas subterrâneas, tumbas de parentes dos faraós, completam o magnífico complexo sepulcral.

Bem menos movimentada, a necrópole real de Sacara fica próxima a Mênfis, sede do poder da terceira dinastia dos faraós. A principal pirâmide, do faraó Djoser I, tem forma escalonada e serviu de inspiração para as pirâmides subsequentes. Ao lado, um corredor de pilares Aidir Parizzi com a esfinge e a pirâmide de Quéfren, que chama atenção pela beleza Mesquita de Muhammad Ali, Citadela de Saladino, no Cairo projetado pelo mesmo arquiteto, Imhotep, são as colunas de pedra mais antigas conhecidas pelo homem, provando que aquele complexo foi idealizado pensando na eternidade.

Mesquita de Muhammad Ali chama atenção pela beleza

De volta ao Cairo, caminho pelas rampas íngremes que levam à Citadela (El Al’a). Iniciada por Saladino em 1176 sobre uma colina de onde se avista toda a capital, teve várias mesquitas e museus agregados ao longo dos séculos. No caminho até lá, fico abismado com as cidades dos mortos, cemitérios construídos no período Mameluco (séculos 14-16), onde milhões de vivos fixaram residência, com ruas, casas e vida normal em meio a túmulos e monumentos funerários.

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Termino a estada na capital com meu passatempo predileto, imerso no maior mercado público do Egito, o grande bazar Khan El Khalili, fervilhante desde 1380. Para pagar preços competitivos por produtos e serviços, é preciso estar preparado para negociar calorosamente. Para quem, como eu, se diverte com essas transações, locais assim são um paraíso. A barganha, aliás, é uma constante desde o momento em que se toca o solo egípcio. Táxis, suvenires, hotéis, e até coisas mais simples, como uma garrafa d’água ou um chocolate, precisam ser negociados. No bazar, chega-se perto da agressão verbal, para logo em seguida atingir um relacionamento que beira o fraternal, geralmente mesclado ao assunto preferido dos nativos: o futebol. Egípcios deleitam-se falando sobre o futebol brasileiro, e o fazem com conhecimento e paixão.

Grande bazar Khan El Khalili é fervilhante desde 1380

Satisfeito com minhas poucas aquisições e com os preços baixos, parti para meu próximo destino no Egito: a fabulosa cidade de Luxor.

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João Caramez

Em 2010, aceitei o convite para atuar como repórter estagiário no Portal Gaz, da Gazeta Grupo de Comunicações. Era o período de expansão do site, criado em 2009, que tornou-se referência em jornalismo online no Vale do Rio Pardo. Em 2012, no ano da formatura na graduação pela Unisc, passei a integrar a equipe do jornal impresso, a Gazeta do Sul, veículo tradicional de abrangência regional fundado em 1945. Com a necessidade de versatilidade para o exercício do jornalismo multimídia, adquiri competências em reportagem, edição, diagramação e fotografia para a produção de conteúdo em texto, áudio e vídeo. Entre as funções, fui editor de País/Mundo e repórter de Geral. Atualmente, sou repórter de Esporte e produzo conteúdo para o site Portal Gaz e jornal Gazeta do Sul. Integro a mesa de debatedores do programa 'Deixa Que Eu Chuto', da Rádio Gazeta FM 107,9, desde 2018. Em 2021, concluí uma pós-graduação em Gestão Estratégica de Negócios pela Ulbra.

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