Inicio dizendo que, com muita honra, sou amigo da jornalista Rosane de Oliveira. Esses dias ela tratou dessa ronha das previsões eleitorais e acertou na mosca com a teoria do efeito bolha. Seria o seguinte: com o advento das redes sociais, as tribos se reúnem nos grupos de WhatsApp e ai do apache que desborde do uníssono. “Todo mundo com quem eu falo vota no Fulano e como é que essas pesquisas ‘compradas’ não demonstram isso?” É que na bolha é assim mesmo. Fora dela nada existe.
Pensam assim: à saúde de que vou conversar com quem só vai divergir de mim?
E há os que sua bolha vai só até os muros de sua aldeia.
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Vou contar um episódio cômico: certa feita fiz um churrasco de carne suína da mais refinada. Na hora de servir, um conhecido bradou: detesto carne de capincho (capivara)! Em alguns lugares do nosso Estado, pouco se conhece de carne suína e o bagual achou que, pelo gosto, era aquele simpático bicho que mora na beira das sangas e é caçado ilegalmente. E ele teimando que era capincho.
Então, como referi, a maioria desconfia do que ocorre fora de sua bolha. Forma-se um mundinho e quem está fora dele é nefasto.
Há, porém, bolhas temporais. Explico melhor. Uma pessoa te conheceu quando jovem. Te fotografou num momento e salvou no seu cérebro. Presenciou um fiasco que fizeste num aniversário, séculos atrás, no qual te excedeste tomando cerveja. Depois, nenhum contato. Pronto: quando te encontras com ele, mil anos luz depois, ele vem sorrateiro: “E aquela vez que tu tomaste cerveja demais, hein, hein? Continuas gostando de um trago?”
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Pior ainda quando o “bolha” se achega e te intima: “Te lembras naquela vez que cantaste ‘Personality’ e te esqueceste da letra bem no meio da apresentação?” Mas pior ainda é aquele de quem foste colega na faculdade e que te encontra numa bissexta festa da turma: “Mas credo! Tu estás grisalho! Quase não te reconheci…”
Queria que o tempo não passasse?
Para finalizar.
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Um amigo meu, sabendo que a mãe de um antigo peão seu, morador de Tranqueras, no Uruguay, andava mal e não tinha como ser internada, franqueou sua casa na Capital, com cuidadora e tudo, para ela fazer seus exames na Santa Casa. Pois o campeiro colocou um agradecimento para seu benfeitor na “rádia” comunitária de Tranqueras, distante 500 quilômetros da Capital.
“Emissora” de 2 watts que só pode ser ouvida no raio de um quilômetro. E o bom samaritano, magoado pela falta de gratidão e agradecimento, nem ao menos um muito obrigado por telefone… Onde foi que eu errei? Ora, bolhas!
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