Passado, presente e futuro. Três tempos definem o que é a educação pública estadual. O passado, com suas mazelas, mas também aprendizados, torna-se ponto de referência sobre o que fazer e o que não repetir. No presente, uma rede ainda com dificuldades, mas que tenta se reformular, com ideias colocadas em prática que vão ao encontro de um olhar inovador, voltado para o futuro. Este último, veremos mais tarde, no fim do ano letivo, ou em 2024, 2025… Talvez escolhas tomadas neste presente, com referência no passado, não sejam utilizadas no futuro. Ou talvez sejam.
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Um dos acontecimentos recentes e que mais impactou a educação como um todo – e talvez muitos até já estejam cansados do tema – foi a pandemia de Covid-19, que interrompeu os estudos naquele março de 2020, mudando o rumo e obrigando instituições a traçarem estratégias para dar continuidade ao trabalho. Mas sabe-se, também, que a educação pública foi extremamente afetada. Neste recorte estadual, a reportagem busca aprofundar a temática acerca dos desafios da rede a partir de 2023, entender alguns dos impactos sofridos e como isso vem a afetar a vida e o futuro do estudante.
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Várias áreas da vida humana ainda convivem com sequelas que restaram do período pandêmico mais grave. Na educação, segundo o professor Éder da Silva Silveira, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a pandemia escancarou as fragilidades econômicas e sociais das comunidades escolares e evidenciou a falta de estrutura de muitas escolas no território brasileiro.
Conforme Silveira, é preciso considerar que os alunos e alunas que concluíram o oitavo e o nono anos do Ensino Fundamental na pandemia cursaram, em 2022, o primeiro ano do Ensino Médio com significativas lacunas quanto ao domínio dos conteúdos previstos e aquilo que só a escola pode promover a partir da socialização e convivência para o seu desenvolvimento integral. “É justamente no primeiro ano do Ensino Médio que os índices de reprovação são alarmantes, e no pós-pandemia foram ainda mais graves.”
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Contudo, de acordo com o especialista, a reprovação nos primeiros anos do Ensino Médio já é um problema antigo na rede. “O RS é o estado do Brasil com os mais altos índices de reprovação e um dos mais altos de evasão e abandono. No final de 2022, a rede pública estadual do RS chegou a índices de reprovação mais elevados e preocupantes do que aqueles que tínhamos no período pré-pandemia.”
Segundo o titular da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura, na região de abrangência 2.395 alunos ainda estão com resultados em aberto e, a partir da próxima quarta-feira, começam um período de recuperação. “Somente em Santa Cruz, temos cerca de 623 do Ensino Médio e 695 do Fundamental.” Na região, 1.136 estudantes entram nessa recuperação por causa da infrequência, questão amplamente debatida e combatida pela CRE, em esforços realizados junto ao Ministério Público (MP) e ao Conselho Tutelar.
O programa Busca Ativa e Recuperação de Aprendizagens, realizado no Vale do Rio Pardo em 2022, recebeu menção honrosa no prêmio promovido pelo MP pelos bons resultados apresentados. O reconhecimento se deve ao projeto “Ao Encontro.” Até meados do ano passado, quase 90% dos estudantes em situação de evasão escolar haviam retornado para o ambiente de ensino.
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No que diz respeito ao Ensino Médio, a evasão escolar muito se deu por conta de uma troca da escola pelo mercado de trabalho, pois muitos estudantes precisaram ajudar as famílias financeiramente. “São alunos que se lançaram cedo no mercado de trabalho e deixaram de frequentar a escola para poder trabalhar”, lembra Moura.
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Mas, em Santa Cruz, o número maior de estudantes em recuperação está no Ensino Fundamental. Uma das causas disso, conforme o coordenador, foi a adaptação ao ensino remoto durante a pandemia. “O aluno do Médio está mais culturalmente apropriado da tecnologia, e as crianças, principalmente dos anos iniciais, não trabalham assim com tanta propriedade. E 2022 foi o primeiro ano pós-pandêmico de 100% desses alunos presenciais, que tiveram o primeiro aninho e o segundo aninho online”, explica.
Em 2020, quando as escolas viviam o início de uma pandemia que seguiria por, pelo menos, mais dois anos, o Ensino Médio também começava uma mudança. Conforme Silveira, oficialmente, o Novo Ensino Médio iniciou-se nas escolas-piloto em 2020 e, em 2022, conforme cronograma do Ministério da Educação (MEC), passou a vigorar em todo o território nacional. O pesquisador explica que entre as principais mudanças está uma nova organização curricular, baseada nas áreas do conhecimento e em competências e habilidades, incluindo as aprendizagens essenciais socioemocionais.
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De acordo com o estudioso, com o Novo Ensino Médio, a carga horária total passou de 2,4 mil para 3 mil horas. “O currículo ficou separado em duas partes, uma de formação geral básica e outra considerada diversificada, composta por até cinco itinerários formativos, sendo quatro referentes às quatro áreas do conhecimento e um relacionado à formação técnica profissional de nível médio.” A partir disso, diz Silveira, apenas Língua Portuguesa e Matemática foram tratados como disciplinas obrigatórias em todos os três anos do Ensino Médio.
No ano passado, no entanto, o Estado avançou e superou a deficiência apontada na experiência das escolas-piloto, ampliando o número de disciplinas obrigatórias na formação geral básica dos três anos do Novo Ensino Médio. “Além de Língua Portuguesa e Matemática, Educação Física, Língua Inglesa, Geografia, História, Biologia, Física e Química também passaram a constar na nova matriz curricular como disciplinas obrigatórias nos três anos.” Para o professor, essa é uma conquista importante.
O Novo Ensino Médio faz parte do presente da educação e, agora, além das disciplinas obrigatórias conhecidas pela maioria das pessoas, prevê como componentes curriculares obrigatórios comuns quatro novas disciplinas: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho, Iniciação Científica e Cultura e Tecnologias Digitais. “Além destas, os estudantes terão um conjunto de outros componentes curriculares de acordo com o tema de seu itinerário. Essas são algumas das mudanças e diferenças em vigor”, acrescenta.
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Apesar de já ser uma realidade, para o professor Éder Silveira, várias questões ainda devem ser observadas para avaliar se tais mudanças no currículo são positivas ou não. “As escolas praticamente vão continuar com os mesmos recursos humanos e de infraestrutura, aumentando ainda mais o número de professores ministrando disciplinas sem ter tido uma formação inicial ou continuada que dê o suporte necessário.”
Silveira salienta que, para avaliar com profundidade os aspectos positivos e negativos das mudanças, é necessário considerar que o Ensino Médio tornou-se uma arena de disputas entre diferentes agentes e interesses, e que essas “mudanças” também dependem de como cada rede e cada escola vai dialogar, interpretar e colocar em prática os dispositivos normativos do Novo Ensino Médio.
É com o olhar voltado para o futuro que escolas da região atuam, direcionando e incentivando os alunos a pensarem em temas como a inovação e o empreendedorismo. Segundo Moura, coordenador da 6ª CRE, estas são consideradas “escolas criativas”. Uma delas é a Escola Estadual de Ensino Fundamental Frederico Augusto Hannemann, situada em Vila Progresso, Vera Cruz, e que conta com o projeto desde 2021, conforme a diretora Mirna Becker. “A Hannemann foi inserida com atividades variadas além das horas aulas. Todos os professores, de todas as disciplinas, estão engajados”, explica Mirna.
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Neste ano, será utilizado pela primeira vez o Espaço Maker, um lugar feito para que as atividades da Escola Criativa sejam realizadas. “É uma novidade. Fomos adequando e conseguimos formar esse local que eu acredito que vai colaborar bastante.” Mirna salienta que a educação deve se reinventar sempre. “Temos que inovar, precisamos estar atentos e fazer coisas diferenciadas”, complementa.
A Hannemann atende cerca de 200 alunos e foi o segundo colégio do Estado a atuar no formato escola cooperativa, uma iniciativa realizada em parceria com o Sicredi. “Até por sermos uma escola do campo, inserida em uma lógica de vida diferente dentro da comunidade, realizam-se atividades diversas por meio de parcerias com diferentes segmentos. Os alunos aprendem sobre cooperativismo e seus princípios, além de trabalhar com um objeto de aprendizagem definido por eles mesmos”, diz a diretora.
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Uma das atividades da cooperativa é o artesanato confeccionado pelos alunos. O valor arrecadado é revertido para melhorias e incentiva a dar continuidade à iniciativa. Para Mirna, é perceptível a evolução dos estudantes desde que eles começaram a participar dos projetos. “Vemos uma melhora muito grande no desenvolvimento deles como seres humanos, e essa é uma das grandes colaborações que isso traz para dentro da escola”, conclui.
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