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Editora Gazeta lança livro sobre o Sanatório Kaempf

Mais de um século de histórias do Sanatório Kaempf estão presentes no mais novo livro da Editora Gazeta. A obra, assinada por José Alberto Wenzel, será lançada nesta quarta-feira, 5, às 17h30, na Casa de Clientes Gazeta, na esquina entre a Ramiro Barcelos e a Tenente Coronel Brito. Toda a comunidade está convidada a participar.

Fundada por Eduard Kämpf em 1889, a instituição atendeu mais de 100 mil pacientes (incluindo estrangeiros) até 1999, quando foi desativada. Nesse período, passou por três fases: hidroterapia e as curas naturais (1889 até 1918), a implementação do hospital geral (entre 1919 e 1969) e da clínica psiquiátrica (1970 até 1999). 

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Com 248 páginas, o livro recupera o legado da clínica e de seu fundador, um carpinteiro alemão que decidiu criar uma casa de saúde próxima da natureza. Também apresenta centenas de depoimentos de pacientes, familiares e funcionários da clínica, que segundo o autor, possuía uma forte conexão com a comunidade.

Wenzel também aborda as lendas urbanas que ficaram no imaginário da população. Por exemplo, histórias de tesouros escondidos e sobre a “pedra encantada” situada na parte mais alta da propriedade.

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Serviço

  • O quê: lançamento do livro Vida Nova: a história do Sanatório Kaempf, de José Alberto Wenzel, sob o selo da Editora Gazeta, em 248 páginas, fartamente ilustrado com fotografias de diferentes épocas.
  • Quando: quinta-feira, 5, às 17h30.
  • Onde: Casa de Clientes Gazeta, na esquina entre a Ramiro Barcelos e a Tenente Coronel Brito.
  • Para adquirir: exemplares estarão à venda no local e em livrarias ao valor de R$ 70,00.

Entrevista – José Alberto Wenzel, ambientalista, geólogo e escritor

  • Gazeta do Sul – Como era o contato do senhor com a história do Sanatório antes de se dedicar à pesquisa que resultou no livro, e o que motivou esse projeto?
    Dos tempos de infância e juventude, guardo na memória a forte impressão deixada pelas construções do Sanatório em meio à mata e suas histórias. Como secretário de Saúde, me aproximei do Sanatório Vida Nova, pois o Município repassava recursos à instituição. Foi nesse tempo que foram interrompidos os repasses de verbas ao Sanatório, pois a Reforma Psiquiátrica tomara corpo, lembrando que é de 1997 a criação do Caps, já num contexto diferenciado de saúde mental. Aprendi muito com o pessoal da Psicologia da Secretaria de Saúde, ao tempo em que escutava com atenção as narrativas dos que haviam passado pelo Sanatório.
    Em 2007 escrevi Migalha inteira, uma ficção inspirada numa pessoa que ouvia zumbidos torturantes e que se internara num Sanatório, onde seguia um tratamento assemelhado aos ofertados pelo Sanatório Vida Nova.
    Também as leituras de livros como O alienista, de Machado de Assis, e obras de Michel Foucault me influenciaram, sem esquecer do livro Cemitério dos vivos, de Lima Barreto. E, talvez, a proposta de cura junto à natureza tenha sido a maior motivação para escrever o livro, além de pretender um resgate histórico do que ali aconteceu.
  • Quanto tempo o senhor esteve envolvido com o levantamento de conteúdos e como foi esse processo, entre revisão bibliográfica e entrevistas?
    Desde o tempo em que exerci a função de secretário de Saúde (1997–1999), a ideia de escrever sobre o Sanatório persistia em minha mente. Efetivamente, escrevi o livro em 2023. Para isso, entrevistei pessoas da família Kaempf, atendentes, médicos, vizinhos e muitos que ali foram atendidos. Também me vali de outras fontes, como bibliotecas, cartórios, arquivos históricos, Memorial da Unisc, registros nos livros da Comunidade Evangélica, assentamentos na Câmara de Vereadores e Prefeitura, e acervos diversos, como o do jornal Gazeta do Sul. Recebi contribuições de muitas pessoas.
    Agradeço à instituição Dom Alberto, que nos proporcionou acesso à área e suas instalações. Posso dizer que introjetei o Sanatório, procurei vivenciar o que ali aconteceu, passando bastante tempo na área e nas instalações, tentando absorver tudo o que o lugar tem a revelar. Muitas páginas foram ali escritas. O mais difícil foi procurar ser isento, pois ali, a par da busca esperançosa pela cura, houve sofrimento em demasia.
  • O que, ainda hoje, já desativado de suas funções originais, esse estabelecimento representa para Santa Cruz e para a região central gaúcha?
    O Sanatório foi fundado em 1889. Lembremos que o Hospital Santa Cruz é de 1908. Por seu pioneirismo, pela pessoa icônica que foi seu fundador, Eduard Kaempf (1859–1918), pela inter-relação com o desenvolvimento da cidade e pelas histórias que com o tempo foram misturando a realidade com uma espécie de lenda ou mito, o estabelecimento muito representa para todos nós. Romar Beling, no prefácio do livro, contextualiza a instalação e desenvolvimento do Sanatório com a colonização no Sul do Brasil. Também o aspecto gerencial é diferenciado. Ao longo da existência da Casa de Saúde, homens e mulheres da família Kaempf estiveram à frente do Sanatório em suas diferentes fases. Na política, gestores como Walter e Rubem Kaempf se distinguiram. Igualmente as relações internas, entre gestores e pacientes, ficam ilustradas na fala de Ivo Kaempf: “Eu vivi o Sanatório.” Lembremos que mais 100 mil pessoas, de muitos lugares, passaram pelo Sanatório em seus 109 anos de existência.
  • O senhor refere a relação do local com o meio ambiente. Ele foi pensado em função de sua integração com a natureza daquele espaço, é isso?
    Sim. O fundador, Eduard Kaempf, deixou Leipzig e chegou aqui em 1883. Sua primeira estadia foi em Linha Saraiva, numa propriedade junto ao Arroio Chaves. Logo entendeu que precisava de um local mais próximo a um centro urbano. Assim, encontrou na Entrada Rio Pardinho uma gleba de 46 hectares, exuberante em vegetação nativa, ar puro, água limpa e ambiente ensolarado. Eduard pretendia, através da hidroterapia, curar e zelar pelas pessoas em ambiente natural, daí as edificações estrategicamente posicionadas, as trilhas e espaços que proporcionavam esse contato diário e direto com o ambiente natural.
  • Um espaço como o da clínica Vida Nova mereceria ser preservado? O que seria possível e pertinente fazer, nesse sentido? Qual seria a sugestão do senhor?
    Deveria se instalar um memorial ali. A história do Sanatório e suas vivências não podem ser esquecidas ou tornadas indiferentes com o passar do tempo, até para que não se repitam os significativos erros ali cometidos, ao tempo em que se reconheçam os acertos. O sofrimento e a busca pela cura de milhares de pessoas estão ali impressos. Basta saber olhar e sentir. O lugar imanta, arrepia e conforta, num misto de misteriosas sensações incomuns. As edificações poderiam ser recuperadas, a exemplo do que fez a família de Jones Alei e Gilka, num projeto de Ronaldo Wink, na “casa de pedra”, junto à área das instalações do Sanatório.
    A par do memorial, associado a um museu, há que se preservar o ambiente natural que ali ainda encontramos. No livro, há o parecer de uma pesquisadora do Laboratório de Biotecnologia Florestal da UFSM que recomenda “a área para fins de estudo, pesquisa e conservação”. Concordamos com ela. Além do que o local poderia ser visitado por turistas de todos os lugares, valorizando ainda mais sua condição de memorial, museu e educativo espaço socioambiental preservado.

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Julian Kober

É jornalista de geral e atua na profissão há dez anos. Possui bacharel em jornalismo (Unisinos) e trabalhou em grupos de comunicação de diversas cidades do Rio Grande do Sul.

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Julian Kober

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